De acervo em Campinas para o quarto do papa

A gravura de São João Castilho, de 1675, que irá adornar o quarto em que o papa Francisco descansará após a missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na próxima quarta-feira, sairá de uma casa de Campinas. O colecionador de obras de arte sacra e pesquisador da história da Igreja Oriovaldo Campos Mello Martins Pinto doará o quadro para o Seminário Bom Jesus e o trabalho ficará permanentemente nos aposentos do pontífice. O local, onde se hospedam todos os papas que vão a Aparecida desde João Paulo II, é um dos pontos mais visitados por fiéis.

A obra ganhou uma moldura oficial para ser apresentada ao sumo sacerdote, feita de madeira de demolição coberta por espinhos. A peça foi idealizada por Martins Pinto e confeccionada por alunos do curso de marcenaria da Comunidade de Heliópolis, em São Paulo. Os espinhos remetem ao martírio do santo, que percorreu vários países da América Latina e morreu no Brasil, após ser capturado por senhores de terra, em 1628. “Procurei molduras em antiquários. Mas confeccionada dessa forma tem mais significado.”

Martins Pinto decidiu doar a obra depois de conhecer melhor a vida do pontífice e a ligação dele com o Brasil. Francisco, quando era apenas o arcebispo de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio, ficou 20 dias em Aparecida em 2007, após visita de Bento XVI. “São João Castilho tem muito a ver com o nosso papa. Ele foi um sacerdote e missionário jesuíta, como Francisco. Passou ainda pelo Chile, Argentina e Paraguai, por isso também simboliza o Mercosul”, explicou o historiador.

A gravura faz parte de um conjunto de sete figuras de jesuítas que foram capturados e torturados no Brasil no século 17. “Eles eram contra a escravidão dos índios. Queriam catequizar e levar cultura para os primeiros moradores do Brasil. Por isso os jesuítas eram perseguidos pela nobreza. O Marquês de Pombal terminou por expulsá-los do País”, disse.

O historiador tem um vasto acervo de arte sacra, que incluiu imagens de santos e Nossas Senhoras dos séculos 17, 18 e 19, além de outras gravuras. Um dos tesouros é um postal de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, autografado pela Princesa Isabel. Apaixonado pelo tema desde criança, fez faculdade de história e se especializou na trajetória do catolicismo. Mas garante que nunca quis ser padre.

Martins Pinto comprou um solidéu papal da loja Gamarelli, em Roma, somente para poder trocar o paramento com o papa Francisco. Solidéu é o pequeno chapéu claro usado pelo pontífice, semelhante ao quipá dos judeus. Segundo a tradição, quando um fiel entrega um solidéu ao papa, ele tem que trocar pelo que está usando. “Encomendei o solidéu da pequena loja que faz roupas papais em Roma, somente para ter o do papa. Vai ser o meu maior tesouro.”