Cleyton Soares dos Santos em sua casa no Recanto dos Dourados (Érica Dezonne/AAN)
O estudante Cleyton Soares dos Santos, de 20 anos, vai sair do bairro Recanto dos Dourados, na periferia de Campinas, para cursar medicina na Universidade Federal de São Carlos (UfsCar), uma das cinco universidades em que conseguiu aprovação. Filho de diarista e ex-aluno de escola pública, Cleyton será o primeiro médico da família e o primeiro a fazer um curso superior. Ele diz que a “ficha” de que vai conseguir realizar o seu sonho só vai cair quando sua rotina mudar, o que deve acontecer no dia 18 deste mês, no seu primeiro dia de aulas.
Por meio do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), Cleyton conseguiu uma bolsa de 100% no curso de medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e na Universidade São Camilo, também na Capital, pelo ProUni. “Fiquei muito feliz, mas ao mesmo tempo preocupado porque ia precisar ir para São Paulo e teria muitas despesas. A minha mãe também ficou muito contente e me deu apoio. Disse que a gente ia conseguir dar um jeito e que não era para desistir da vaga”, contou o estudante.
Mas a boa surpresa foi quando soube das demais aprovações. Ele passou em medicina na Universidade Federal de São Carlos (UfsCar), além de biologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e biologia também na UfsCar. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ele chegou a ser aprovado em biologia, mas não manifestou interesse pela vaga e, portanto, não foi convocado. A decisão foi por medicina na Ufscar. “Sempre quis fazer medicina, mas não me sentia preparado e optei por prestar o vestibular para biologia, porque queria ter alguma chance. Mas consegui a aprovação em medicina.”
Até conseguir os resultados, o caminho não foi tão fácil. Cleyton estudou a vida inteira em escola pública. Em 2009 ele concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Uacury Ribeiro de Assis Bastos, localizada no Recanto dos Dourados. Órfão de pai, ele precisou trabalhar desde os 16 anos e não conseguiu dar continuidade aos estudos imediatamente. “Já no meu último ano de escola eu precisei trabalhar. Fui instalador, ajudante de pedreiro, ajudante de padaria, ajudante de fazenda”, lembra.
No ano passado, ele decidiu voltar a estudar por conta própria e, no segundo semestre do ano, concorreu a uma bolsa em um cursinho pré-vestibular. “Consegui uma bolsa para estudar à noite. Trabalhava como técnico de eletrônica das 7h às 18h. Depois seguia direto para o cursinho, que me ajudou a estudar mais regradamente.” Os finais de semana, ele também passava estudando. Na última semana ele já pediu desligamento da empresa para se dedicar à faculdade.
A aprovação de Cleyton encheu a sua mãe, Ivone Félix Soares, de orgulho e motivou os dois irmãos caçulas e a namorada a cursarem faculdade. Ele agora está acertando os detalhes finais para conseguir uma vaga na moradia da universidade federal e nos próximos dias embarca para uma jornada de seis anos de estudos em período integral.
