ENTREVISTA

Cuide dele e viva melhor

No Dia Mundial do Coração, especialista do Incor fala dos erros mais comuns dos brasileiros, dos avanços da medicina e da necessidade de adotar hábitos saudáveis para minimizar fatores de risco para doenças cardíacas

Karina Fusco
29/09/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 01:27

Para marcar o Dia Mundial do Coração, comemorado hoje, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) elegeu o tema “Ajude as crianças a seguir o caminho para um coração saudável” em sua campanha deste ano. A ideia é reforçar a importância dos cuidados preventivos com o órgão, ainda negligenciado por muitos brasileiros. No País, as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte e estamos entre as dez nações com maior índice de óbitos decorrentes do problema. Se nada for feito, segundo previsão da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil pode se tornar líder mundial desse ranking perigoso em 2040. Para que isso não aconteça, o País assinou um compromisso internacional na OMS para reduzir as mortes por enfarte e derrame em 25% até 2025.Para estimular mudanças neste cenário, o cirurgião cardiovascular Roberto Rocha e Silva, do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, lançou Querido Coração, livro da Editora Metalivros que reúne dicas simples de prevenção e manutenção da saúde do órgão. Em entrevista à Metrópole, ele fala sobre como e quando começar a monitorar o coração, os avanços da medicina, os deslizes da população nos cuidados com a saúde e a necessidade de adotar bons hábitos alimentares e afastar potenciais riscos. “Sempre que a pessoa optar de forma séria pela saúde deve consultar seu médico e iniciar um programa de longevidade com qualidade de vida. Os fatores de risco podem estar presentes e atuantes”, ressalta o especialista. Foto: Divulgação "A falta de compreensão da maneira como os fatores de risco agem e a confiança na medicina moderna, associadas a um estilo de vida com excessos alimentares e sedentarismo, abriram as portas para o descontrole dessas condições" Metrópole – Em seu livro, o senhor comenta que quase todos sabemos que colesterol, sobrepeso e hipertensão levam à morte. Por que, então, mesmo com tanta informação, os brasileiros ainda descuidam do coração?Roberto Rocha e Silva – Os fatores de risco para doenças do coração são divulgados. O que falta é a compreensão da forma de atuação deles e da época em que começam a agir. Sem isso, fica difícil aderir ao tratamento. É preciso entender que sobrepeso, tabagismo, colesterol alto e hipertensão são doenças e que o sedentarismo também atua como patologia. Aceitá-las sem tratamento e conviver com elas porque não apresentam sintomas propicia, num período de 20 a 30 anos, a progressiva instalação de obstruções nas artérias, levando a enfartes e derrames.  De acordo com o Ministério da Saúde, nenhuma causa de morte aumentou tanto de 2000 para 2010 como as relacionadas a problemas cardiovasculares. Qual sua opinião sobre isso?A falta de compreensão da maneira como os fatores de risco agem e a confiança na medicina moderna, associadas a um estilo de vida com excessos alimentares e sedentarismo, abriram as portas para o descontrole dessas condições.  Quando é aconselhável visitar o cardiologista pela primeira vez? Crianças também devem fazer testes cardiológicos?Os testes são feitos quando há suspeita de doença cardíaca ou a partir dos 40 anos. Entretanto, os fatores de risco não precisam ser avaliados especificamente pelo cardiologista. O pediatra pode diagnosticar sobrepeso, falta de atividade física e, eventualmente, colesterol alterado. Cabe aos pais tratarem desses problemas desde cedo, visto que 30% dos alunos nas escolas estão acima do peso. No final da adolescência ou começo da fase adulta, os jovens passam a ser responsáveis e devem procurar um clínico para um check-up desses fatores. Porém, diagnóstico sem tratamento efetivo significa o mesmo que não ter o diagnóstico.  Quais são os principais erros do brasileiro no cuidado com o coração?A falta de busca do diagnóstico desses fatores de risco quando adolescentes ou adultos jovens e a ausência de firme tratamento quando necessário. Um tabagista que não para de fumar e um paciente com sobrepeso que não muda seu estilo de vida para vencer o problema são exemplos desses erros.  A hereditariedade é preocupante?Pessoas que têm familiares próximos com enfarte ou derrame, principalmente antes dos 60 anos, são consideradas portadoras de fator de risco familiar. Isso não quer dizer que elas, obrigatoriamente, terão a doença, mas a chance de isso acontecer é, com certeza, maior. É preciso, então, atuar nos demais fatores para não aumentar as possibilidades. Também é importante destacar que as condições de risco potencializam uma a outra. Quanto maior o número delas, maior a chance de o indivíduo desenvolver a doença.  É possível monitorar de alguma forma a situação de nossas artérias?Antes dos 40 anos, não é necessário exame específico para esse fim. O que precisamos temer e vigiar não é o enfarte, que é a manifestação final de um longo processo de obstrução progressiva das artérias. Devemos nos atentar, sim, é para a instalação dessas obstruções. Tal processo é evitado, ou pelo menos postergado, se identificarmos e tratarmos sua causa, que são os fatores de risco.  Quais foram os principais avanços na medicina preventiva, no diagnóstico e no tratamento de doenças cardíacas nos últimos anos?Na medicina preventiva, foi o desenvolvimento de drogas mais seguras e eficientes para tratar colesterol elevado, diabetes e pressão alta. Outro avanço importante foi o entendimento da necessidade de atuação cada vez mais precoce e intensa nos fatores de risco. No diagnóstico, contamos com tomografia computadorizada das coronárias com resolução cada vez melhor. O tratamento clínico está em constante evolução, com medicamentos modernos e eficazes. No caso de intervenção com angioplastia, os dispositivos chamados stent têm resultados bastante duradouros. Respostas excelentes também são apresentados pela cirurgia, com índices de complicação baixíssimos e caminhando para procedimentos minimamente invasivos.  Além de dor no peito, quais sinais de enfarte devem ser considerados? Com que agilidade se deve procurar atendimento médico?A dor não precisa, necessariamente, ser no peito. Pode ser na boca do estômago, nas costas ou, eventualmente, na mandíbula. Mas, usualmente, é no peito com irradiação para o braço esquerdo, contínua, na forma de queimação, pontada ou aperto, de forte intensidade, sem posição de melhora e acompanhada de sudorese fria. Mesmo sem a certeza de que é enfarte, depois de dez a 15 minutos sem melhora, é necessário procurar imediatamente o pronto-socorro. É melhor ir à toa do que ficar em casa com um ataque cardíaco em evolução. E se for mesmo enfarte, quanto antes se iniciar o tratamento, menor é o estrago no coração e pode-se evitar a morte do paciente.  Como deve ser a vida de quem já enfartou?Deve ser acompanhada para sempre pelo cardiologista. O enfarte é a manifestação da doença caracterizada pela obstrução das artérias do coração. Não há cura, mas o tratamento é extremamente eficiente para evitar sua progressão.

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