JOGO RÁPIDO

Críticas sem critério

Coluna publicada na edição de 1º/7/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
carlo@rac.com.br
29/06/2018 às 18:04.
Atualizado em 28/04/2022 às 14:23

Escrevo a coluna na sexta-feira, antes portanto do início das oitavas de final da Copa do Mundo. E como tema escolhi o estranho hábito adquirido por muitos torcedores e colegas de profissão de criticar a Seleção Brasileira e alguns de seus jogadores por certas atitudes que, quando praticadas por estrangeiros, se transformam em nobres virtudes. O caso mais notório é o de Neymar. Achincalhado por levar um cartão amarelo contra a Costa Rica, foi chamado de inconsequente e desequilibrado. Curiosamente, quando Messi, o Neymar da Argentina, foi advertido contra a Nigéria, o cartão se transformou em símbolo de entrega e dedicação. Outra crítica exagerada se refere à simulação de faltas. Tudo bem que a fama de cai-cai gere memes. O mundo da internet é livre para brincadeiras. Mas profissionais que analisam a Copa não devem brincar e nem se deixar influenciar por piadas. Nas duas primeiras rodadas, jogadores como Cristiano Ronaldo e Kane, entre outros, simularam mais lances do que Neymar. E, ao final da primeira fase, o brasileiro sofreu 17 faltas. O segundo colocado sofreu cinco. Isso significa que, em um jogo, o camisa 10 da Seleção Brasileira sofreu mais faltas do que qualquer outro jogador durante toda a primeira fase da Copa. Os números são claros, mas internautas e jornalistas questionam um jogador que está voltando de uma cirurgia e que participou, com 10 gols e nove assistências, de 19 gols nos últimos 18 jogos que disputou pela Seleção. Tenho dificuldade de compreender de onde vem essa capacidade de negar um talento tão vistoso e raro. A Seleção sofre do mesmo mal. Tite foi criticado depois de elogiar o ótimo segundo tempo de sua equipe contra a Costa Rica. Como os gols só saíram nos acréscimos, atribuíram a vitória à sorte. Já a Alemanha, que jogou mal, foi beneficiada pela arbitragem e marcou o gol da vitória contra a Suécia aos 50’ do 2º tempo foi descrita como um time de homens, de camisa pesada. Ao invés de sorte, teve raça e competência. Por fim, fecho a coluna com a exaltação nacional às aparições de Maradona nos jogos da Argentina. Fico triste de vê-lo tão fora de si, fazendo um esforço descomunal para aparecer mais do que o time. E também fico triste por perceber que um ídolo de milhões perde a chance de mostrar ao mundo a importância de cuidar bem da saúde. Mas devo ser muito exigente. Afinal, para muitos colegas de imprensa Maradona é um personagem da Copa, que tem mesmo que estar na Rússia por tudo o que representa. Fico imaginando o que não falariam de Pelé se ele mostrasse o dedo do meio para alguém. Seria acusado de envergonhar o Brasil no mundo. Mas com Maradona é diferente. Ele não é daqui.

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