Recebi mais este artigo do amigo Rev. Marcos Kopeska, que edito para caber aqui.O arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984, tem presença na mídia, mas não dirigindo programas evangelísticos sensacionalistas de TV, vendendo bíblias, livros, DVDs, ou recitando o número da conta para depósito. Também não é o fundamentalista esbravejando no Congresso, transpirando arrogância e prepotência em nome da fé. Sua imagem e sua história estão ligadas as lutas pacíficas por igualdade social e racial, pela dignidade do ser humano, pela tolerância e pela paz.Tutu não tem medo de debates em torno de tema delicado. Para ele, há uma insistência milenar do ser humano em se arvorar como “dono da verdade”. Quando escreve que Deus não é cristão, o arcebispo que é cristão, faz questão de ressaltar que a obra não é contra o cristianismo, mas uma forma franca de mostrar que Deus transcende todo e qualquer conceito, a partir de ritos religiosos, esteriótipos ou dogmas.Na infância, aprendemos sobre a existência de Deus, realidade da morte e a alma que sobrevive à morte. Depois, nos deparamos com o Deus do medo: “Deus está vendo, menino...” Ao longo da vida, nossos conceitos sobre Deus vão sendo ampliados e amplificados. Formamos conceitos e eles nos formatam e tendem a "exclusivisar" Deus. Com eles construímos caixas e cercas e nelas colocarmos Deus. Você já observou que cada igreja ou religião que surge alega ter a última revelação de Deus? Cada uma delas é uma expressão tragicômica deste encaixotamento de Deus.Transformamos o cristianismo movimento em instituição e colocamos Deus preso aos conceitos que formamos sobre Ele em nosso imaginário de dogmas, definições e tradições. Deus é Deus! Está muito além das linhas que traçamos em nosso cristianismo convencional. Deus está muito além das milhões de definições sobre Ele.Quando João, no Apocalipse, tenta definir o Deus que viu diz apenas: “... e esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda.” (Ap 4:3) Ele descreve a grandeza e majestade de Deus, mas não encontra palavras para definir aparência ou traços de fisionomia.O que é idolatria? É a tendência a definir Deus, encaixotá-lo, estabelecer limites para Ele, construir ideias fechadas sobre a Sua ação na história e arriscar respostas fechadas. Tome cuidado com aqueles que julgam ter resposta para todas as questões existenciais, filosóficas, religiosas e espirituais. Jean Jacques Rousseau foi ateu até que creu em Deus. Seus discípulos perguntaram-lhe porquê mudou e ele respondeu: “Rendi-me a Deus porque todas as vezes que tentei entendê-lo Ele escapou do meu entendimento.” Os discípulos estranharam: “Mas, se não conseguiu entendê-lo, aí é que deveria sustentar com mais convicção o ateísmo.” Ele contra-argumentou: “Se eu conseguisse entender Deus, Ele não seria mais Deus. Como Ele escapa ao meu entendimento a cada vez que me aproximo dEle, Ele é Deus!”