Produto nacional vem ganhando qualidade e o País está conseguindo oferecer vinhos honestos a preços competitivos
A experiência de tomar um bom vinho está cada dia mais próxima dos mortais. Desde que esses estejam disponíveis a vivê-la. Para isso, é importante que a curiosidade, somada a uma certa descontração, trace o rumo da experiência, acima do preço da garrafa ou da procedência do rótulo. As boas surpresas podem estar aí. Outro dia, escolhi um Chardonnay Perini Fração Única, que não conhecia, para acompanhar um jantar cujo prato principal era linguado com abobrinha italiana (de autoria própria, claro) e arroz preto. Realmente, fiquei muito feliz.
Elegante e fresco, com delicada presença de maçã-verde no aroma e deliciosa acidez, caiu com perfeição à leveza do peixe. O carvalho muito bem trabalhado e discreto revelava sutilmente algumas nuanças de amêndoa, o que valorizou muito a personalidade do arroz negro. Enfim, num despretensioso, porém, caprichado jantarzinho, tivemos um momento bastante especial de harmonização. Um vinho de R$ 33. Isso me leva a pensar no vinho brasileiro.
Não há dúvida que o produto nacional vem ganhando qualidade e que, a despeito da altíssima carga tributária de que padece, o País está conseguindo oferecer vinhos honestos a preços competitivos. A saga dos atuais produtores nacionais inclui a competição com nações como o Chile e a Argentina, que conseguem colocar seus vinhos a menos de R$ 15 no mercado brasileiro. Mas, concordo com alguns analistas, que esse não é o maior problema dos vitivinicultores brasileiros.
Acho pior do que as agruras econômicas e melindres de um negócio que depende de uma série de circunstâncias (do clima ao transporte) para prosperar e vencer o preconceito dirigido ao vinho brasileiro. Claro que ainda há muito chão pela frente, que os vinhos estão longe de serem considerados acessíveis, que há problemas climáticos a serem driblados e que a produção/consumo de bebidas com uva de mesa ainda é predominante no mercado do Oiapoque ao Chuí.
Mas não podemos nos esquecer que a enologia brasileira existe pra valer há menos de duas décadas. E que, de lá pra cá, os avanços têm sido muito rápidos. Temos melhorado a cada ano. Os espumantes da Serra Gaúcha, uma espécie de cartão de visitas do País, continuam nos orgulhando, porém, não são mais os únicos. Assim como a própria Serra Gaúcha não é mais o único endereço dos vinhos finos verde-amarelos. Serra do Sudeste, Campanha Gaúcha, Santa Catarina e Vale do São Francisco são alguns terroirs que vêm dando diversidade à produção brasileira. Saúde!
Bons ventos
A safra brasileira 2013 está deixando otimistas produtores e apreciadores de vinho. O clima ajudou oferecendo uma primavera seca com floração homogênea e fase de maturação das uvas com dias quentes e noites frias. Assim, o Brasil emplaca dois anos seguidos de boas condições para o vinho. Vamos esperar.