Uma cena tornou-se frequente no dia a dia de um consultório pediátrico. Nasce o bebê e logo nos primeiros dias acontece a primeira consulta com o médico pediatra. Depois de esclarecidas todas as dúvidas sobre o crescimento, desenvolvimento e cuidados com o recém-nascido, uma pergunta não escapa:— Doutor, minha licença-maternidade vence daqui quatro meses, que leite darei para o nenê?O discurso pediátrico passa pela valorização do aleitamento materno e o adiamento desse problema para o futuro.Chegada a época, geralmente por orientação de terceiros, o nenê já está utilizando uma “mamadeirinha” dessa ou daquela fórmula láctea infantil para “acostumar” e o pensamento familiar agora é outro:— Doutor, em sua opinião, qual seria a melhor opção para o Joãzinho: deixar na casa da vovó, contratar uma babá ou colocar na creche?O contexto aceito tradicionalmente para o cuidado e desenvolvimento da criança tem sido o ambiente familiar, onde ela é atendida pela mãe e/ou parentes. O aumento da participação feminina no mercado de trabalho, porém, tem contribuído para que cada vez mais mulheres, das diversas camadas sociais, busquem diferentes tipos de ajuda no cuidado e educação de seus filhos.A opção babá, hoje em dia, fica como última opção, pela falta de profissionais especializados no ofício de criar crianças, lembrando que cuidar é diferente de criar.A opção avó seria excelente, não fossem os vícios, lendas, mitos e falta de regras e limites que repercutirão na formação de hábitos e costumes com vícios de comportamento, não muito alinhados com as novas e modernas orientações psicopedagógicas.A opção creche seria maravilhosa não fossem alguns problemas quando direcionamos o pensamento para creche como um lugar propício para o desenvolvimento da criança, e uma opção para os cuidados educacionais dos filhos.O principal motivo alegado pela família para ter matriculado o filho na creche é em razão da inserção da mãe no mercado de trabalho (76,3%), segundo recente pesquisa. Essa escolha tende a levar muito mais em consideração uma questão social de sobrevivência, atendimento às crianças cujos pais não têm condições de cuidar delas em casa, do que as necessidades de desenvolvimento da própria criança. Apenas 7,6% dos pais disseram ter colocado seu filho na creche porque era bom para a criança.Mas estariam as creches e seus profissionais preparados para essa missão?Infelizmente, a minoria das instituições cumpre todos os requisitos estruturais, higiênicos e pedagógicos; nesses últimos anos, visitei várias, vi algumas exemplares, mas em compensação vi cada coisa...Nos três primeiros anos de vida, é máximo o desenvolvimento neuromotor das crianças, uma intrincada rede de neurônios precisa ser estimulada e nutrida para que etapas cognitivas sejam completas e ricas em conteúdo, mas infelizmente pouco valor tem-se dado a essa fase da vida.Um levantamento da Fundação Abrinq baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009 mostra que 80% das crianças brasileiras de 0 a 3 anos estão fora das creches.A discussão do Ensino Infantil no País ganhou maior projeção no fim de 2009, quando o Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição que torna obrigatório o ensino para crianças e jovens de 4 a 17 anos. Antes, a obrigatoriedade abrangia a faixa etária de 6 a 14 anos. Apesar das mudanças, a creche ficou de fora da exigência da lei.A oferta de vagas em creches é uma das questões mais polêmicas da educação brasileira. A Sociedade Brasileira de Pediatra tomou uma posição e enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei para universalização do acesso às creches, mas o processo político brasileiro é lento, e enquanto isso a atual geração de crianças fica entregue à sorte, e, às vezes, nas mãos de “cortesias” políticas para se conseguir uma vaga na creche, vejam como os candidatos falam e falam em creches nessa época do ano.Estamos vivendo um momento de decisão política e vocês pais devem levar em conta o futuro de seus filhos nessa importante e valorizada missão de votar e escolher qual será o seu representante nas decisões que podem influir diretamente no futuro de seus filhos. Vocês acham que todas essas promessas de creche vingarão?Criança adora palhaços, mas somente nos circos...
