RUBENS MORELLI

Covardes

Rubens Morelli
13/02/2014 às 22:06.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:40

Há mais covardes do que corajosos no futebol. E se considerarmos que o que se vê nos estádios é um reflexo da sociedade, nem preciso completar o raciocínio para o leitor entender.Sim, somos covardes na maior parte do tempo. Eu, você, o vizinho, o síndico, o chefe, o empregado, o jogador, o árbitro, o técnico, o cartola e, claro, o torcedor. Falta-nos coragem para denunciar o abuso, para reclamar do injusto, para tomar uma atitude.Reunir-se em grupo e imitar macaco toda vez que alguém toca a bola é um ato dos mais covardes. Foi o que Tinga ouviu na partida do Cruzeiro diante do Real Garcilaso, no Peru, na noite da última quarta-feira. A torcida peruana atacou o jogador brasileiro com o barulho. Isso porque o maior ídolo do futebol peruano foi Cubillas, um meio-campista negro, típico da mistura de raças que nós, latino-americanos, somos.O racismo dos peruanos não é inédito para Tinga, que já sofreu com isso aqui mesmo, no Brasil, mais precisamente em Caxias do Sul, como ele próprio fez questão de lembrar ao fim do jogo.Aos microfones, o volante ainda disse que preferia trocar todos os títulos que conquistou na carreira pela igualdade.Essa é uma palavra bonita: igualdade. Assim como é bonita a campanha da Fifa: “Say NO to racism” ou “Diga NÃO ao racismo”. Mas a verdade é que falta coragem pra botar ela em prática.Dizer não ao racismo é acabar com ele na mesma hora. É parar de jogar até identificar a origem.É sair de campo com o resto do time sem medo das consequências, pelo contrário, tendo ciência que será um exemplo. Faltou coragem para o árbitro, também negro, interromper o jogo. Não há sentido continuar a hostilidade a cada toque na bola.Falta coragem para a Conmebol tomar alguma atitude. Assim como não fez nada de muito prático no caso de Oruro, quando um torcedor boliviano foi morto por um rojão na arquibancada. Os 12 corintianos detidos na Bolívia naquele caso foram soltos meses depois.Voltaram ao Brasil financiados pelo Corinthians e pelo governo, e brigaram em outros estádios depois. Covardes que invadem CT em grupo pra ameaçar jogador. É o que acontece quando só passam a mão na cabeça. As pessoas vão se escondendo atrás da covardia e continuam fazendo tudo errado.Enquanto não houver punição rigorosa para o time, para a torcida, para o infeliz que imita som de macaco, tudo não sairá da mesma. Mas quem tem o poder de fazer alguma coisa não fará. Enquanto só pedirem tranquilidade aos envolvidos, o racismo no futebol continuará, porque a sociedade ainda é racista. É preconceituosa. É covarde!

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