ORÇAMENTO

Cortes afetam pesquisa científica nos EUA

O orçamento anual dedicado à pesquisa teve queda de 7% com relação ao ano anterior

France Press
05/04/2013 às 17:37.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:35

Os cortes automáticos em vigor desde o início de março nos Estados Unidos afetam duramente a pesquisa, especialmente no campo da biomedicina, alertam cientistas, que temem um enfraquecimento da competitividade do país neste campo.

O orçamento anual dos Estados Unidos dedicado à pesquisa teve queda de 7% com relação ao ano anterior, passando de US$ 140 bilhões para US$ 130,5 bilhões, a maior redução em um ano em mais de 40 anos, segundo a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).

"A situação orçamentária atual da pesquisa nos Estados Unidos é um mau presságio para o futuro da economia americana", disse Alan Leshner, diretor da AAAS, entidade que publica a respeitada revista Science.

"Estes cortes cegos", resultantes da incapacidade dos legisladores de chegar a um acordo para reduzir o déficit, "terão consequências duradouras", disse Leshner à AFP, destacando que mais de 50% do crescimento americano desde a Segunda Guerra Mundial se traduziu em avanços científicos e tecnológicos.

Além da "deterioração da qualidade da ciência nos Estados Unidos, que começou a ser sentida e, sem dúvida, terá um impacto muito negativo sobre a inovação e a economia", muitos postos de trabalho serão afetados, disse.

Segundo o médico Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), que são os mais afetados, pois representam 22% do orçamento da pesquisa com US$ 31 bilhões, 20.000 postos de trabalho altamente qualificados serão eliminados por estes cortes.

Por volta de 430.000 postos de trabalho dependem do financiamento da pesquisa biomédica concedido pelos NIH, que incluem 27 institutos, destacou recentemente.

Estudos sobre Alzhmeimer afetados

Este corte de recursos "sem dúvida deterá os projetos de pesquisa em um momento em que há avanços quase diários, especialmente com relação ao câncer", disse o chefe dos NIH, acrescentando que isto "atrasará as descobertas e a capacidade de traduzi-las em novos tratamentos dirigidos".

"Os estudos sobre o mal de Alzheimer, que nos últimos dois anos mostraram uma variedade interessante de novidades, serão afetados", advertiu Collins.

Os NIH também se veem obrigados a rejeitar pacientes já programados em sua unidade de testes clínicos em seu centro hospitalar de 240 leitos, o maior do mundo dedicado à pesquisa clínica.

Os cientistas também lamentam os efeitos do ajuste fiscal sobre os pesquisadores jovens, que serão "desestimulados", teme o diretor da AAAS.

"Nós nos arriscamos a perder toda uma geração de cientistas porque é muito difícil para eles obter recursos para a pesquisa", afirmou Collins. "Se nada mudar em breve, muitos dos nossos jovens pesquisadores mais talentosos pode decidir fazer outra coisa ou talvez ir para outro lugar", alertou.

Enquanto os Estados Unidos reduzem seu orçamento em pesquisa científica, uma área na qual lideram o mundo há décadas, outros países como Brasil, Índia e China aumentam seus esforços, destacou.

Inclusive na Europa, onde a situação econômica é difícil, Grã-Bretanha e Alemanha mantêm ou inclusive aumentam seus orçamentos de pesquisa, segundo Collins.

O presidente Barack Obama insistiu nesta terça-feira, ao apresentar um ambicioso projeto para desvendar os mistérios do cérebro humano, para a importância do investimento em pesquisa básica para a economia e a competitividade.

"Por cada dólar gasto em projetos de sequenciamento do genoma humano, obteve-se um ganho de 140 dólares", enfatizou a respeito de um bem sucedido esforço de US$ 3,8 bilhões em dez anos, apresentado em 1990.

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