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Contra vício na internet, grupo faz detox digital

Entre os sintomas da dependência digital estão o quadro de ansiedade extrema, estresse e síndrome do pânico

Agência Estado
27/06/2015 às 10:46.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:59
Foram registrados 2,092 milhões de pedidos pela internet (Divulgação)

Foram registrados 2,092 milhões de pedidos pela internet (Divulgação)

O despachante Marcelo Corrêa, de 42 anos, sempre gostou de se comunicar pela internet: foi usuário dos programas de mensagens instantâneas Icq e MSN e adorava o Orkut. Depois se afeiçoaria ao Facebook. Ele percebeu que estava dependente quando, em viagens com a mulher para o sítio da família, no interior do Rio passou a se sentir mal por estar desconectado. “A internet só pegava no alto de um morro, então eu deixava minha mulher em casa e subia sozinho para ficar lá em cima duas ou três horas, vendo Facebook, postando fotos da viagem...”, conta Corrêa, que chegou a comprar um smart watch (relógio inteligente) porque assim poderia receber notificações dos aplicativos do Facebook e do WhatsApp sem ter de nem sequer pegar o celular. Em 2014, ao notar o trabalho prejudicado pela adição, ele procurou ajuda. Percebeu que o quadro de ansiedade extrema, estresse e síndrome do pânico estava ligado à dependência digital. Curou-se após tratamento, o “detox digital”, que dura dois meses no Instituto Delete, ligado ao Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).“A gente aprende como contornar a ansiedade com respiração e pensamentos positivos. Se vejo que estou usando muito, paro. Sei que estou curado porque consegui ficar duas semanas no sítio sem internet.”O atendimento do instituto, no campus da UFRJ da Praia Vermelha (zona sul), começou em 2012, e já recebeu mais de 300 pessoas. Os seis membros da equipe pesquisam há sete anos a chamada nomofobia (“nomo” vem de “no mobile”, que quer dizer “sem celular”) e publicaram teses relacionadas ao tema. Em breve, devem lançar manual de etiqueta digital.Estudada nos EUA há 20 anos, a dependência é quase invisível socialmente. Revela-se quando a relação com a internet deixa de ser casual e se torna obsessiva, atrapalhando relações sociais e atividades rotineiras e criando isolamento.FarmvilleJá houve paciente que narrou ter passado madrugadas no Farmville jogo do Facebook. Outros que só pegavam no sono com o celular sob o travesseiro. Caso esqueçam o smartphone ao sair de casa, têm crises de abstinência e voltam com taquicardia e mãos trêmulas. Alguns largaram trabalho e faculdade; adolescentes perderam o ano. Tudo por causa das horas excessivas no computador, tablet ou celular. “Muitos adictos em tecnologia também têm adição em outras coisas. O mecanismo neurobiológico é o mesmo: o uso libera substâncias que dão prazer, então a pessoa quer mais e mais. A mesma área do cérebro é estimulada”, explica a psicóloga Veruska Santos, que já atendeu 84 pacientes graves.“A diferença é que no tratamento não se corta totalmente a conexão, se faz terapia cognitiva para transformar os pensamentos e ensinar a lidar com a ansiedade. Em seguida, negociamos o tempo que passará na internet.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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