Caros amigos enfermeiros, companheiros de várias décadas de trabalho! Todos vocês sabem do apreço que tenho pela classe da enfermagem, classe de valor incomensurável na saúde do Brasil e do mundo! A medicina ficaria incapacitada de sobreviver se não tivesse ao lado o auxílio da enfermagem! Esta crônica não foi elaborada para ofendê-los e sim, para defendê-los! Dito isto, quero salientar que não é pelo fato de ser médico que vou puxar a brasa para a minha sardinha, pois depois de mais de quarenta anos de profissão, não tenho necessidade disso!
A vida e a carreira de médico me ensinaram que quanto mais trabalho em minha profissão, mais sinto necessidade de estudar. A medicina é uma ciência tão dinâmica que não se pode ficar um dia sem estudar. Os seis anos do curso curricular, mais os três ou quatro anos de especialização dão apenas o começo do aprendizado para que o médico comece a praticar a medicina com alguma dificuldade. Ninguém sai da faculdade, mesmo depois da residência médica, um sábio. A sabedoria vem (em parte) com a convivência, a prática, a evolução da ciência médica. Todo médico necessita de pelo menos duas horas diárias para ficar informado dos avanços de sua especialidade. Tenho certeza de que boa parte dos colegas médicos não tem esse tempo para se atualizar de maneira adequada.
O médico tem de estudar diariamente para atender o paciente, descobrir o diagnóstico por intermédio do exame clínico e dos exames complementares, prescrever os medicamentos e dar alta ao paciente. Em caso de insucesso é ele o responsável por tudo o que acontecer e até assinar o atestado de óbito se for o caso. Quero enfatizar que o médico funciona para o paciente como se fosse o seu anjo da guarda. Somente quem teve uma doença grave vai saber interpretar o que estou dizendo. As pessoas criam pelo médico uma atração quase que divina. O médico passa a ser o irmão, o pai, a mãe, o filho, quase um santo. Enganam-se as autoridades quando querem tachar o médico como um número.
"Precisamos de não sei quantos médicos" , como se médico fosse comprado como bananas ou laranjas na feira. Provavelmente os que fazem isso nunca tiveram uma doença grave, nunca tiveram que ficar na fila do SUS, nunca tiveram que esperar uma consulta por três, quatro meses como acontece no Brasil. Eles não sabem, ou fingem não saber a real função do médico!
Enfermeiro tem outra função. Foi formado para prestar atendimento junto ao paciente nos casos de internação ou não, como coadjuvante do tratamento médico. Cabe a ele ministrar os medicamentos prescritos pelo médico, colher material para exames, vigiar o paciente, além de outros trabalhos. Enfermeiro tem uma carreira tão nobre quanto o médico, mas deve ficar trabalhando naquilo que ele conhece e sabe fazer com eficiência e dignidade. Não queiram complicar a vida do enfermeiro! Enfermeiro não foi formado para brincar de médico! Enfermeiro é pessoa séria e deve ser respeitada! Não queiram conspurcar a vida digna do enfermeiro, dando-lhe obrigações para as quais não está preparado para exercer! Quem vai assinar o atestado de óbito de um paciente que for atendido e tratado pelo enfermeiro sem ter a assistência médica caso ele venha a falecer?
Não está na hora de se pensar seriamente sobre a responsabilidade de cada um, antes de se começar a soltar leis dessa natureza? Quero perguntar às nossas autoridades se eles deixariam de consultar os médicos dos famosos hospitais da capital paulista dos quais tanto gostam, para procurarem um enfermeiro para as suas consultas?
Não somos todos iguais perante a lei?