Menor de idade e autor do disparo do sinalizador que matou jovem boliviano se entregou à polícia
O torcedor corintiano que diz ser o responsável pelo disparo do sinalizador que matou o boliviano Kevin Espada durante o jogo entre Corinthians e San Jose, quarta-feira passada, esteve ontem na Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos e conversou por duas horas e 15 minutos com o promotor Gabriel Rodrigues Alves.
Segundo Ricardo Cabral, advogado da Gaviões da Fiel e do garoto, H.A.M. teria confessado o crime. O adolescente de 17 anos está protegido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e, por isso, o caso corre em segredo de Justiça e o promotor não quis se pronunciar.
O procedimento de praxe é que, após ouvir o menor, o Ministério Público inicie um procedimento jurídico para apurar os fatos e oferecer a denúncia ao juiz da Infância e da Juventude de Guarulhos. Se for considerado culpado, como é menor de idade, ele deve receber uma medida socioeducativa —pode ter de prestar serviços comunitários ou ser levado à Fundação Casa, antiga Febem. O caso não tem prazo para ser concluído.
Ontem, após falar com o promotor, o menor deixou o Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos por volta das 17h30 sentado no banco do passageiro do carro do advogado, que dirigia o automóvel. A mãe do garoto estava no banco de trás. Com boné, cabeça baixa e com as mãos tentando encobrir o rosto, ele foi chamado de "assassino" por algumas pessoas que se aglomeravam na Rua Fenício Marcondes, região central de Guarulhos.
A expectativa de Ricardo Cabral é que a confissão do menor facilite a liberação de 12 torcedores corintianos que estão presos desde o dia do jogo em Oruro, na Bolívia, acusados pela morte de Kevin, dois como responsáveis pelo crime e dez como cúmplices.
Cabral disse que já enviou à embaixada brasileira na Bolívia fotos de H.A.M. e a ficha dele de sócio da Gaviões da Fiel, para que a documentação fosse enviada à Justiça boliviana.
“Comparando a identidade dele e a ficha cadastral com foto colorida, não restará nenhuma dúvida. Eu já fiz essa comparação, e não há dúvida”, disse o advogado. “Esperamos que o governo brasileiro faça a sua parte, porque 12 brasileiros inocentes estão presos na Bolívia.”
NÃO É TÃO SIMPLES
A liberação dos corintianos na Bolívia, no entanto, não está diretamente condicionada à confissão do adolescente nem deve ocorrer nos próximos dias. Apesar de dizer que a Gaviões da Fiel está dando "respaldo jurídico e psicológico" ao menor que assume a autoria do disparo que matou Kevin Espada, a estratégia de Ricardo Cabral, que é advogado do adolescente e da torcida, é desvincular o jovem da organização. Sua defesa é que a organizada não pode ser responsabilizada por um ato individual.
“Ele comprou os sinalizadores em um camelô e pagou vinte reais. Os artefatos foram levados até a Bolívia dentro de uma mochila e ninguém sabia o que tinha dentro”, disse Cabral. O advogado reafirmou nesta segunda-feira que o menor viajou à Bolívia com a consentimento da mãe.
Dificilmente, no entanto, a torcida vai escapar de uma punição. Isso porque em excursões internacionais é necessário que a presença de um maior de idade responsável pelos menores que estão no grupo. O presidente da Gaviões, Antônio Alan Souza Silva, conhecido como Donizete, foi quem comandou a caravana para a Bolívia.