Passar horas navegando na internet em celulares cada vez mais modernos se tornaram prioridade para os adolescentes em seus momentos de lazer e relax
Reunir os amigos para um futebol na quadra do bairro, celebrar em família aquele tão sonhado aniversário de 15 anos, ou simplesmente virar a noite jogando conversa fora com aquela amiga especial, se tornaram tarefas difíceis para as crianças e adolescentes de hoje em dia. O extenso calendário escolar, com cada vez mais horários recheados de atividades complementares, e menos tempo para diversão, poderia ser uma explicação para tal cenário. Mas não, o celular aparece como o principal vilão. A opção por passar horas navegando na internet nesses cada vez mais modernos aparelhos vem ganhando prioridade nos momentos de lazer e descanso. Nesse contexto, as redes sociais surgem com força. Amanda Cabral, de 17 anos, por exemplo, perguntada se o celular contribui de alguma maneira com sua vida social, a estudante não exitou: “É útil porque posso ligar, trocar mensagens com meus amigos e familiares, e compartilhar fotos nas minhas redes sociais”. No entanto, essa capacidade de comunicação dos celulares e da internet, de maneira geral, é considerada perigosa por especialistas. A Pesquisadora do Laboratório de Psicologia Genética da Unicamp, Ana Lúcia Meneghel afirma: “O meio virtual não é palpável, possui limitações, e a interação com o meio social, tão necessária para um bom desenvolvimento das crianças e adolescentes é prejudicada”. Segundo ela, o uso excessivo dos celulares pode gerar um atraso na construção da estrutura da inteligência: “O fato de não interagir propriamente com outras crianças e adolescentes e não trocar experiências, são preocupantes”. Ana Lúcia, identifica ainda um outro sintoma: “Criou-se uma necessidade do “tudo hoje é a hora que eu quero e quando eu quero””. E assim, surge uma dificuldade em relação a paciência e ao tempo de esperar dessas crianças e adolescentes. Para esclarecer…Criança: Até 11 anos e 11 mesesAdolescente: Entre 12 e 18 anosAdulto: A partir dos 19 anos A partir daí, algumas pesquisas da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Canadense de Pediatria recomendam limites para a exposição de crianças e adolescentes a todo tipo de mídia. Até os 5 anos, por exemplo, crianças só deveriam ficar no máximo uma hora por dia diante das telas. Dos 6 aos 12 anos, o ideal seria duas horas, e dos 13 anos em diante, o limite aumenta para três. Amanda afirma que utiliza o celular por no máximo quatro ou cinco horas por dia, cenário, que pode ser considerado positivo. No entanto, há um fator esclarecedor. Adolescentes no estágio em que ela se encontra, fase final da adolescência, possuem o que a pesquisadora Ana Lúcia chama de “autorregulação”. Segundo ela, essa capacidade de discernir o que é certo e o que é errado, e saber impor limite às vontades próprias é algo que se adquire apenas em adolescentes próximos do início da fase adulta. Crianças por exemplo, necessitam da presença dos pais como autoridade. Comportamentos agressivos que costumam ser notados nas crianças de vida ativa nos celulares, está ligado a falta de atividades com o corpo, ou seja, definir horários e atividades com e sem o aparelho são o primeiro passo para a construção dessa autorregulação. Ana Lúcia ainda complementa: “É muito importante que os pais propiciem atividades que agucem a curiosidade das crianças, pois é essa sede de descobertas que os estimulam a inventar, a aprender, a construir o conhecimento”. Esse é o caso de Vinícius Zacarias, de 11 anos, que conta que teve seu primeiro celular com 8 anos, e desde então tem rotinas de uso muito bem definidas pelos pais: “Durante o período de aula fico no celular no máximo por três horas, e nas férias costumo utilizar por umas quatro”. Vinícius ainda completa: “Deixo sempre um cronômetro por perto, para não passar dos limites”. No entanto, segundo ele, a participação dos pais não chega a ser tão rigorosa: “Eles agem normalmente comigo, acompanham o conteúdo que acesso, e às vezes pedem que eu deixe o celular de lado, para me concentrar em outra coisa”. Uma ferramenta pedagógica Vinícius, assim como Amanda, destaca a capacidade dos celulares de aproximar pessoas como um elemento que contribui com sua vida social: “Facilita a relação nos grupos escolares e em manter contato com amigos que estão distantes”. Se diferentes pessoas, em etapas ligeiramente distintas da vida atribuem essas qualidades positivas, e ainda assim o uso excessivo do celular é considerado danoso por especialistas no assunto, porque não encontrar uma maneira de aproveitar esses bons valores?A pesquisadora Ana Lúcia Meneghel aponta um caminho. A utilização de aparelhos eletrônicos, não só celulares, mas também computadores e tablets como ferramenta de estudo. A partir da conscientização por parte das crianças e adolescentes da limitação em seu uso, as mídias digitais podem auxiliar a aprendizagem de uma maneira singular, principalmente como mecanismo propulsor do conhecimento. Sendo assim, aliar essas plataformas ao ensino tradicional pode se tornar um importante papel pedagógico na formação da criança e do adolescente. Uma vez que, irão realizar as experiências sociais necessárias de uma forma saudável, ao invés de buscar nos celulares e na internet um momento de puro lazer.