PASQUALE CIPRO NETO

Concordâncias traiçoeiras

PASQUALE CIPRO NETO
cidades@rac.com.br
19/07/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 08:19

No rádio, na TV e nos jornais, é muito comum a ocorrência de escorregões na concordância e na estrutura em construções como esta: “Número cada vez maior de brasileiros endividados recorrem a esse tipo de solução para escapar da lista dos negativados”. Que tal?Esse caso lembra alguns dos trechos jornalísticos presentes em vestibulares importantes, como os de algumas universidades federais, o da Fuvest e o da Unicamp. Nesses concursos, pede-se aos candidatos que analisem a dificuldade de compreensão decorrente da má organização sintática. Pede-se também que o candidato reestruture determinado trecho, estabelecendo as devidas relações entre os termos que compõem o período.Vamos reler o trecho jornalístico citado no primeiro parágrafo desta coluna: “Número cada vez maior de brasileiros endividados recorrem a esse tipo de solução para escapar da lista dos negativados”. Que tal? A que termo se refere a forma verbal “recorrem”, da terceira pessoa do plural do presente do indicativo? O redator da frase certamente quis dizer que os brasileiros endividados recorrem ao tal tipo de solução. O problema é que a palavra “brasileiros” é subordinada à palavra “número” (pela preposição “de”). Na verdade, o que temos aí é a expressão “número (cada vez maior) de brasileiros endividados”, cujo núcleo é “número”. E será que “o número de brasileiros endividados recorrem”?Parece melhor começar de novo, do zero. Vamos lá. É claro que o número não recorre a nada, não recorre a coisa nenhuma; quem recorre (à tal solução) são os brasileiros endividados. E o que é cada vez maior é o número de brasileiros endividados (que recorrem à tal solução). Salvo engano, o que se quer dizer se expressaria mais claramente com uma construção semelhante a esta: “É cada vez maior o número de brasileiros endividados que recorrem a esse tipo de solução para escapar da lista de negativados” (ou “Não para de crescer/aumentar o número de brasileiros endividados que recorrem a esse tipo de serviço para escapar...”).E por que o primeiro verbo (“é” ou “para”) fica no singular, e o segundo (“recorrem”) é flexionado no plural? Porque o que é cada vez maior (ou não para de crescer/aumentar) é o número, e “número” é singular. A forma verbal “recorrem” é posta no plural porque se refere a “brasileiros endividados”.Talvez seja conveniente lembrar que não se pode adotar como proposta de correção da frase original algo como “Número cada vez maior de brasileiros endividados recorre a esse tipo de serviço para...”, já que, definitivamente, não é o número que recorre aos tais serviços.Vamos ver outro caso semelhante, também comum em textos jornalísticos: “O número de turistas que procurou as embaixadas estadunidenses ficou abaixo do esperado”. A forma verbal “procurou” é inadequada, já deveria ter sido posta no plural, em concordância com “turistas”. O que ficou abaixo do previsto foi o número de turistas (e foram esses turistas que procuraram as embaixadas estadunidenses). Vamos lá: “O número de turistas que procuraram as embaixadas estadunidenses ficou abaixo do esperado”.

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