TADEU FERNANDES

Como as ondas do mar

Tadeu Fernandes
07/04/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 13:48

Estou escrevendo este artigo diretamente de Maceió, uma bela cidade, apesar do transito caótico, o aeroporto em reforma e o medo com a violência em todo canto. Ao contrário de Campinas aqui têm atenuantes; a beleza do mar, o barulho das ondas e o soprar da brisa que trazem paz de espírito e uma vontade enorme de caminhar em direção a lugar nenhum.Estamos aqui a trabalho, participando de uma Jornada de Pediatria muito bem organizada e com conteúdo científico de primeira linha. E como não poderia deixar de ser um dos assuntos polêmicos foi o famoso refluxo gastresofágico.Bebês regurgitam!Sim! 90% nos primeiros meses de vida regurgitam, vomitam ou como dizem aqui “gorfam”, e a explicação é clara: o sistema digestório ainda esta imaturo, sem as defesas antirrefluxo desenvolvidas e estabelecidas.Bebês ainda não tem o centro da saciedade desenvolvido e vão mamando até ultrapassar os limites de capacidade gástrica, resultado: eliminam o excesso pela boca, nariz e qualquer outro orifício aberto nessas ondas de expulsão.Deus fez a mulher uma perfeição, quem sou eu para analisar esse belo trabalho, mas falando como pediatra, se ele tivesse colocado um contador de volume, tipo esses que tem na bomba de gasolina; saberíamos qual o volume que entrou em cada mamada, seria uma maravilha, prescreveríamos: - Dê x miligramas de leite!Concordo seria prático, mas agora falando como homem, ficaria feio demais.Assim como as ondas do mar que através da janela do hotel fico apreciando, o refluxo vai e vem com uma vantagem, na criança o refluxo tem fim, com o passar dos meses vão amadurecendo as válvulas antirrefluxo e tudo termina bem.Para esse tipo refluxo, absolutamente normal, não precisam exames e muito menos medicamentos, somente orientação aos pais: calma, moderação e paciência.Totalmente diferente da Doença do Refluxo Gastroesofágico, essa sim, causa déficits no crescimento, o bebê não ganha peso, muitos tem doenças respiratórias associadas como pneumonias de repetição, chiado no peito, otites recorrentes, dor, muita dor devido a lesões no esôfago causadas pelo refluxo do suco gástrico ácido e corrosivo.Esse bebê sim, precisa de tratamento, mas os medicamentos representam pouco perto dos cuidados e mudanças no estilo de vida, esses itens muito bem discutidos aqui na Jornada.Bebês com Doença do Refluxo precisam fracionar o volume das mamadas, quando não estiverem em aleitamento materno exclusivo precisam de um leite diferenciado, cuidados com a postura são fundamentais, temos que caminhar a favor da ação da gravidade, o leite e alimentos precisam descer e não voltar, ou seja, após mamar não deitar, e quando forem dormir, a posição ideal é deitar sobre o braço esquerdo, uma posição antirrefluxo.Até para trocar a fralda desses bebês precisa de um cuidado maior, o movimento de fletir as perninhas para trás, na higiene das partes íntimas, aumenta as ondas de refluxo, é como se o mar estivesse de ressaca, após a onda quebrar na praia, volta com força, levando você para o fundo do mar.Como vocês perceberam esse clima praiano influencia até nos exemplos e linguagem do escritor, mas ao final desse artigo ficam duas mensagens: nem todo refluxo é doença e outra: um dia venha conhecer Maceió, é linda demais.

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