Foi-se o tempo em que voar era sinônimo de glamour, em que banquetes eram servidos a bordo. É claro que, se alguém busca luxo, encontra na primeira classe ainda muito desse glamour. Mas até mesmo quem paga caro para voar, quer fazê-lo da maneira mais confortável possível.
Há duas semanas as redes sociais fervem com a história da professora da Universidade Federal do Rio que postou uma foto de um passageiro vestindo camiseta bermuda e tênis pouco antes de embarcar em um voo. “Aeroporto, ou rodoviária”, perguntou ela ironicamente. Não preciso dizer que tal comentário, vindo de uma acadêmica teoricamente esclarecida, não passa da pura exaltação ao preconceito. Pior foi a plateia, que a aplaudiu e reverberou sua opinião burguesa descabida. Além de preconceituosa, a tal acadêmica deve ser também desatualizada. A globalização e o crescimento do poder aquisitivo, têm levado outros públicos a utilizarem os aviões. Muitas empresas estão justamente focando nas classes C e D, que deixaram de viajar de carro para voar Brasil afora, ou arriscar os primeiros passos no estrangeiro, indo para a Argentina e Chile. Mas não é só isso. Foi-se o tempo em que voar era sinônimo de glamour, em que banquetes eram servidos a bordo. É claro que, se alguém busca luxo, encontra na primeira classe ainda muito desse glamour. Mas até mesmo quem paga caro para voar, quer fazê-lo da maneira mais confortável possível. Já vi muita gente embarcando na primeira ou na classe executiva vestindo bermuda e até mesmo de chinelo. O que essa professora diria para esse passageiro? Quem estaria na rodoviária: o passageiro da primeira classe vestindo bermuda, ou ela, toda emperiquitada, porém, espremida como todo mortal na classe econômica? Imagino o desconforto de passar longas horas em um voo mais preocupado com a aparência e com a roupa esticada, do que desembarcar meio despenteado, mas descansado. Me lembro de certa vez, em Buenos Aires, voltando para o Brasil e duas senhoras aguardavam o voo como se fossem para a cerimônia do Oscar. Achei estranho pois a aeronave não tinha primeira ou classe executiva ou seja, estávamos todos na econômica. O voo foi atrasando e à medida que as horas passavam, elas começaram a perder toda aquela pose. No fim da terceira hora já estavam suadas (o ar condicionado não dava conta de tanta gente), maquiagem escorrendo pela cara e jogadas no chão, igual a todos nós. De que adiantou tanta pose? Se fossem ricas por que não foram para uma sala vip? Então, a dica é, viaje como quiser, desde que tenha bom senso. Não vá de chinelo e bermuda pra um destino que está nevando. Mas não há problema de embarcar assim, quando o lugar tem sol e faz calor. Passar horas e horas dentro de um avião com uma roupa apertada ou que deixe com muito frio ou muito calor, é uma verdadeira tortura. Uma viagem chique é aquela em que você se sente bem, vestindo um Chanel ou um bom par de Havaianas. Eduardo Gregori é editor de Turismo do Correio Popular