Por mais que se busquem novas fórmulas para apurar as disposições dos eleitores e se facilitem as formas de expressão da vontade política, a democracia é um princípio basilar sobre o qual devem estar fundadas maneiras peculiares de dar voz ao povo e validar a representação política. Formulada de diversas maneiras, a expressão da sociedade deve sempre considerar a vontade da maioria, pela garantia da liberdade e pela manutenção do direito individual e coletivo.
Em tempos de comunicação instantânea e direta, mudam os conceitos e as formas de angariação de votos. Em comunidades menores, os candidatos estão mais próximos de seus eleitores, sendo mais fácil a comunicação e a difusão do trabalho que se realiza. Em grandes cidades, as eleições têm características bastante diferenciadas, obrigando a uma estratégia de abordagem própria. Nesse contexto, surgem sempre personagens com vocação ímpar de liderança e também aqueles que se sobressaem como meras celebridades excêntricas.
O que se busca de todas as formas é cativar a atenção dos eleitores e vender o conceito de trabalho para a comunidade. Aí surgem as distorções que se retroalimentam de procedimentos rasteiros, politiqueiros, impróprios, que se sedimentam na rotina política por atrair atenções e votos dos desavisados. Assim é o trabalho de cooptação dos vereadores e candidatos, sempre afoitos por mostrar sua capacidade de determinar ações administrativas no município — geralmente perto de seus redutos eleitorais — ou de se prestar a intermediação de influência.
O caso de Campinas, com vereadores outorgando-se a iniciativa de reformas de praças ou de obras na cidade, não é isolado, é mostra uma distorção da função da vereança. Induzir a população a pensar que gozam de autoridade administrativa não contribui para a valorização do Legislativo (Correio Popular, 20/5, A4).
O sistema político de representação popular implica em conjunto de fatores que determina o grau de justiça que se pretende atingir no processo democrático. Mas isso parece não importar, enquanto a estratégia de ludibriar os eleitores tiver efeito de render votos. Um ciclo vicioso que se quebra apenas com a consciência política, a educação para a cidadania e o desmanche de uma classe que demonstra pouco compromisso com o conceito elementar de divisão de poderes institucionais.