GUSTAVO MAZZOLA

Cinquenta anos de um cine-clube

Gustavo Mazzola
igpaulista@rac.com.br
18/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 02:15

IG- Gustavo Mazzola (CEDOC)

Depois de 50 anos, uma tarde de grandes emoções no auditório do Centro de Ciências, Letras e Artes: o cinema será, nesta quinta-feira (19), às 16 horas, motivo de homenagens... e lembranças, lembranças de um sonho que se tornou realidade no dia 19 de março de 1965.   Foi quando alunos de diversos cursos da Universidade Católica de Campinas, hoje Pontifícia, reuniram-se em algum lugar do “campus” da Rua Marechal Deodoro, e fundaram o Cine-Clube Universitário, uma entidade que se propunha a estudar, debater, promover a cultura cinematográfica na cidade e, especialmente, “fazer” cinema.   Estavam ali os estudantes Luiz Carlos Ribeiro Borges, Days Peixoto, Júlia Falivene Roberto Alves e Dairton Tessari. Mais tarde, juntaram-se a eles outros entusiastas da Sétima Arte: Og Bernasconi, Paulo de Tarso Salomão, João de Assis Rossi, que depois sucederia Luiz Carlos na presidência do Cine-Clube.   Quais foram seus primeiros passos? Inicialmente, suprir as carências da programação das salas de cinema locais, já antevendo voos mais altos: obtiveram, mediante locação, a cessão de alguns cinemas de Campinas, como o Cine Voga e Cine Brasília; ousaram empreender festivais de filmes de arte, que duravam até sete dias seguidos.   Assim, o público campineiro pôde apreciar trabalhos inéditos de Alain Resnais, Ingmar Bergman, Jean Luc Godard, François Trufaut, o que havia de melhor, no Exterior, na cinematografia da época. No Brasil, não foram esquecidos trabalhos geniais dos nossos cineastas, como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.   Mais uns meses, e uma nova aventura: o lançamento de um jornal especializado em estudos cinematográficos, o “Cine-Clube”, que trazia em suas páginas de diagramação moderna, ousada, reproduções de renomados críticos da imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de textos inéditos de cinéfilos da cidade. Ainda viriam à luz, nos meses e anos seguintes, mais quatro edições do jornal “Cine-Clube”.   Chegava, então, o momento da prática. Os jovens do Cine-Clube, agora, queriam sentir a sensação de realizar cinema, talvez estimulados pelos festivais de 16 milímetros, que aconteciam em todo o Brasil. Assim, vieram os três curtas metragens: “O pedreiro”, direção de Dayz, “O artista”, direção de Luiz Carlos e “Dez gingles para Oswald de Andrade”, direção de Rolf de Luna Fonseca.   Em todos eles, a presença de uma figura de importância histórica no meio cinematográfico de Campinas: o cineasta Henrique de Oliveira Junior, que fez, especialmente, a fotografia, a sonoplastia, a montagem e mixagem dos dois primeiros dos curtas.   Alias, o cinema já era uma vocação em Campinas desde a década de 50: o engenheiro Marino Ziggiatti, em 1950, iniciou atividades nessa glamorosa arte com ações dentro da Sociedade Reunida, que congregava profissionais de medicina, engenharia e advocacia. Foi a primeira vez que se pesquisou a cultura cinematográfica na cidade, com a exibição de filmes de grande qualidade artística. Em 1952, Marino foi convidado pelo Centro de Ciências, Letras e Artes a iniciar, ali, um Departamento de Cinema.   No dia 23 de setembro de 1973, os remanescentes da aventura do Cine-Clube Universitário resolveram, em assembleia geral, dissolver a entidade, fechando uma página de ouro dentro da cultura em Campinas. Eram tempos difíceis, como escreveu Dayz Peixoto Fonseca na página “Opinião” do Correio Popular do dia 23 de outubro de 2011: “todos os participantes formavam uma espécie de clã idealista desse tempo cultural. Não teríamos parâmetros, hoje, para definir como era Campinas em termos culturais nos anos 60, início de 70”.     Hoje, 50 anos depois, pode-se observar que tudo deu certo: como prova, estão aí as festas de amanhã, que relembrarão o feito dessa clã de idealistas, com uma ponta de saudade daqueles tempos.   Na tela, os caracteres de encerramento: FIM.

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