ig - Jorge Massarolo (CEDOC)
A redução a quase zero das videolocadoras na cidade põe fim a um período áureo na forma de assistir filmes em casa. Ir a uma locadora era uma atividade sagrada no final de semana, que envolvia toda a família, com sol ou chuva. Aliás, principalmente com chuva e frio. Quanto vezes você foi convidado para “ir lá em casa tomar um vinho e assistir uns filmes”? Geralmente saia da locadora com uma pilha de “fitas” - lembra como elas eram grandes? - e depois DVDs. A disputa por lançamentos era grande. Tinha que fazer marcação cerrada para conseguir alugar uma cópia, que geralmente era mais cara. O pacote de final de semana incluía alugar filmes para adultos, adolescentes e crianças. Para os adultos, tinha a “sala especial” onde estavam as fitas de conteúdo impróprio para menores de 18 anos. Mais que isso, a locadora era um local onde você encontrava vizinhos, amigos e compartilhava informações sobre filmes e colocava assuntos em dia. Além dos filmes, levava-se para casa pipocas, salgados, doces, bebidas, tudo para acompanhar as sessões de cinema que iriam se suceder durante o final de semana no escurinho da sala, para os adultos. Já a criançada trazia os amigos para assistir os clássicos infantis. Era uma sala de cinema em casa. Um deleite para os cinéfilos, que podiam reprisar várias vezes o mesmo filme, congelar as principais cenas, ver o carro explodindo em câmera lenta, o golpe certeiro pausado e tantas outras maravilhas antes impossíveis de serem realizadas no cinema. Agora você era o projetista e o espectador do filme. Uma revolução nos lares. É claro, quanto melhor o equipamento que você tinha em casa melhor era a “projeção” na tela da TV. Os primeiros videocassetes eram de duas cabeças, depois vieram os de quatro e acho que acabou em oito cabeças. Mas a alegria acabava quando o videocassete mastigava a fita, ou ela se enrolava nos cabeçotes. Corre para locadora trocar a fita. Então surgiu o DVD, com mais qualidade e menos problemas e o videocassete foi para um canto escuro, enquanto que as fitas de filmes inéditos, compradas com tanto esmero, acabavam travando pela falta de uso. O videocassete lá de casa ficou muitos anos ocupando espaço, empoeirado, até que resolvi dar um fim ecologicamente correto nele. Depois veio o Blu-ray, com qualidade superior de imagem e som, mas que parece não ter emplacado no gosto familiar. Hoje tudo mudou. Você pode assistir qualquer filme alugando diretamente pelos serviços de TV a cabo ou então pelos vários programas disponíveis na internet. Ficou melhor e mais barato, mas se perdeu aquele convívio, aquele encontro informal que uma locadora oferecia, como se fosse uma pracinha ou sorveteria. São outros tempos. Estamos mais individualizados.