SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Chef prepara jantares com performance artística

Desafio é chegar até os limites do que é gastronomia, diz Gabriel Vidolin

Fábio Trindade
26/08/2013 às 22:02.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:39
O chef Gabriel Vidolin prepara a mesa para receber comensais no Leão Vermelho: secreto e exclusivo  (Cesar Rodrigues/AAN)

O chef Gabriel Vidolin prepara a mesa para receber comensais no Leão Vermelho: secreto e exclusivo (Cesar Rodrigues/AAN)

Uma mesa, quatro cadeiras, um chef apaixonado e uma experiência ímpar — pelo menos para os poucos que conseguem uma reserva no exclusivo O Leão Vermelho. Que a gastronomia é uma forma de arte, todos nós sabemos, até porque é preciso muito talento para fazer determinadas coisas na cozinha. Mas o que o jovem chef Gabriel Vidolin, de 24 anos, faz vai muito além disso. A começar pelas características descritas de O Leão, localizado em São João da Boa Vista: como dito, um restaurante de uma mesa só. Bom, restaurante não. “É uma casa. Mesmo eu não morando aqui, o Leão funciona e recebe as pessoas exatamente como uma casa. Tanto que a única pessoa que trabalha em cozinha sou eu, e toda a matéria-prima utilizada é proveniente de produtores regionais ou da produção familiar, orgânica” , esclarece. O cozinheiro, após uma longa jornada de aprendizado em restaurantes como Herbstreet, em Dublin (Irlanda), Mugaritz, em Errenteria (Espanha), e El Bulli, em Roses (Espanha), voltou para a cidade natal para começar, em 2007, essa experiência única. “O meu grande desafio é chegar até os limites do que é gastronomia e, dentro desses limites, romper os paradigmas. Pode existir um restaurante gastronômico de um cozinheiro só? A gastronomia pode deixar de ser um consumo de luxo e se transformar em pura arte? São desafios que eu me propus, mesmo não sabendo se daria certo ou não”, lembra. O risco era necessário, garante Gabriel, porque ele sempre soube o que não queria para sua trajetória profissional: seguir o óbvio. Em “sua casa”, ele trabalha com o conceito da sérvia Marina Abramovic, a avó da arte performática. “Da mesma maneira que no final dos anos 60 a performance surgiu como um desafio para a pintura e outros movimentos e formas de arte, o Leão Vermelho aparece justamente com essa proposta, de como a comida pode se transformar em expressão”, explica. Durante o jantar, são servidos 24 cursos, todos sem o conhecimento dos comensais.“Comensal é uma pessoa que se senta à mesa e é convidada. Aqui as pessoas não são convidadas, mas elas são acolhidas.” O Leão Vermelho funciona em ciclos que, normalmente, vão de junho a outubro, quando o chef fecha para renovar a decoração e os ingredientes, que incluem florais, óleos essenciais e tinturas vibracionais. “O menu é feito no dia do evento e é bastante largo. A inspiração, que é um processo criativo que eu venho desenvolvendo junto com a filosofia antroposófica, vem das fases da lua e do posicionamento das constelações.” Aqueles que conseguem agendar a visita precisam seguir à risca as normas da casa. O processo de reserva começa pelo site do restaurante, quando os interessados são informados sobre as datas e o funcionamento. Entre as particularidades, a primeira é que a pessoa não sabe onde é o Leão Vermelho. “Não há placa na porta nem nada. O cliente recebe por mensagem de celular o endereço”, explica. Na coleta de dados, a pessoa diz quais são as restrições alimentares, como ser alérgico a alguma coisa. “Essas informações chegam até mim e eu desenvolvo o menu respeitando apenas as restrições. Mas tudo é feito de acordo com a minha inspiração”, diz Gabriel. Com a reserva feita, o chef envia, uma semana antes do evento, a confirmação por correio, uma carta escrita por ele com as indicações de como os comensais devem se portar. “Nós recolhemos celulares, câmeras fotográficas, e também não há degustação de bebida alcoólica durante os 24 primeiros cursos, sendo 12 na primeira sala e 12 na sala de chá.” Além disso, há uma biblioteca e uma terceira sala, onde o chef concedeu entrevista ao Caderno C, mas que Gabriel prefere manter em sigilo. “O comensal é convidado para conhecê-la após o jantar, único lugar com bebidas alcoólicas.” Tudo começa às 20h35 e termina às 22h30, momento que Gabriel avisa sobre a última sala. “São pessoas que entendem de gastronomia e entendem que é uma experiência diferenciada. A Marina (Abramovic) fala que a performance é sobre o estado de espírito, e a cozinha do Leão é assim.” Gabriel atende duas vezes por semana, às quintas e sábados, e precisou prorrogar a temporada 2013 até dezembro devido à grande procura. Porém, todas as datas já estão reservadas e o comensal que quiser conhecer o lugar precisa correr para conseguir uma vaga para o próximo ano. Só um aviso: o valor para ter essa experiência única, claro, não é barato. R$ 365,00 por pessoa. SAIBA MAIS O Leão Vermelho Reservas: www.oleaovermelho.com Telefone: (19) 3633-3514 Valor: R$ 365,00 por pessoa (inclui 24 pratos, água, chá e chocolates - mais a sala secreta)

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