A presidenta Dilma Roussef se tornou culpada e responsável por tudo de ruim e de errado
Os franceses — sempre eles — têm a expressão própria para situações nebulosas: 'Cherchez la femme!'. Ou seja: quando houver problemas, procure a mulher. No Brasil, parece ter ocorrido quanto à ainda presidenta Dilma Roussef. Ela se tornou culpada e responsável por tudo de ruim e de errado, como se o despreparo, a corrupção e a indigência nacionais tivessem começado com ela. Até minha cozinheira, resmungou ao quebrar um prato: “A culpa é da Dilma.” Aliás, desconfio de que outra seria a situação da Dilma fosse, ela, homem. Teria havido mais respeito, mais consideração, mais civilidade. Fosse, eu, psicólogo, psicanalista, algo assim, teria um estudo fascinante a fazer. Até título já tenho, ainda provisório: “O macho brasileiro e a mulher na política.” Pois parece-me, de certa maneira — tanta desfeita fizeram à presidenta — ser simples o recado: “Lugar de mulher é na cozinha.” Mas isso são apenas conjecturas e divagações de um velho escriba nauseado. Ora, não sou corresponsável em nada disso já que, há duas eleições, deixei de votar. Ninguém — dos que aí estão – se elegeu com voto meu. E não aceito – por não mais votar – ser chamado de culpado por omissão. Pelo contrário, adotei uma posição lúcida, clara e consequente: não participo mais de palhaçadas em nome de uma democracia caricata. Cansei-me de sempre estar votando no chamado mal menor que, aliás, não existe. Mal é mal sempre. Os males causam danos maiores ou menores. Depois da ditadura, votei sempre em quem pudesse causar dano menor. E isso é estúpido. Já me é longa a jornada. E apenas vi, pelo caminho, princípios esmagados, valores destruídos, farsas em nome de liberdade, democracia, direitos sociais e individuais. A tecnologia tornou-se como que um milagre humano. Mas a vida deteriorou-se para multidões sem fim. A globalização é uma arma excepcional para alimentar todos os apetites, em especial os obscenos. Não há como admitir-se um mundo em que apenas 66 pessoas — veja bem: 66 pessoas! — detenham riqueza equivalente à metade da população mundial. São 66 mais poderosos do que 3,3 bilhões de pessoas! Nos Estados Unidos — tidos como paradigmas da democracia — apenas 1% da população detém mais do que os restantes 99%. Isso tem um nome muito mais forte do que injustiça: indecência. Desde o começo desse caos nacional, externei minha tola opinião: vai-se trocar o roto pelo rasgado, o sujo pelo imundo. Tirar Dilma e colocar Temer, qual a diferença? Ambos não se elegeram juntos? Temer não foi articulador político de Dilma? Em quê o PMDB — e seus atuais aliados – é melhor do que o PT? Para mim, há apenas uma diferença, nada sutil: o PT é amador até mesmo nas malandragens; o PMDB, altamente profissional. É como se comparássemos um ladrãozinho de galinha com uma máfia poderosa. Mas deixa pra lá. Estou, na verdade, querendo dizer que vivo um novo aprendizado assistindo a filmes de animação. Fingindo brincar, eles contam tudo, revelam a vida como ela é. Lembra-se da 'Dama e o Vagabundo'? Qualquer semelhança não é mera coincidência. E 'Ali Babá e os 40 Ladrões'? (No nosso caso, a Lava Jato já encontrou mais de 40 dos chamados meliantes...) Quanto a filmes, o PT — conforme revela a Lava Jato — lembra-me um Robin Hood de opereta: tirando dos ricos em nome dos pobres. Mas sem entregar. E o grupo de Temer – ainda no plano da contemplação — leva-me ao inesquecível 'Ladrão de Casaca'. Mas com uma ressalva: Temer — com seu perfil de “mordomo de filme de horror”, como falava o falecido Antônio Carlos Magalhães — não pode, sob nenhuma hipótese, ser comparado ao Cary Grant, apesar de dona Marcela — primeira dama interina — levar jeito de uma aprendiz de Grace Kelly. Aliás, pela graciosidade, ela está menos para primeira-dama e mais para dama de companhia. Acho eu. Nestes dias, sou atiçado por imagens deliciosas: as do 'Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau'. Sinto, pela Dilma, um misto de pena e desfastio. Quase diria parecer-me, ela, uma garota simplória. Mas, por ser idosa, vejo-a como uma velhinha deslumbrada. E bobona. O então todo-poderoso Lula elegeu-a presidenta da República. E ela acreditou. E pensou fosse uma Margareth Thatcher, uma Angela Merkel, coitadinha. Como se sabe, pessoas pretensiosas vivem uma tola ingenuidade. Nem Thatcher, nem Merkel, Dilma parece-se — em minha caipira visão de mundo — com o Chapeuzinho Vermelho, que caiu na conversa malandra do Lobo Mau. Bobinha, acreditou no Lobo que, na verdade, queria apenas comê-la. E, também, comer a vovozinha dela. Em todos os sentidos. Agora, enquanto o bicho se refestela, vejo uma só saída: “passear no bosque antes que o lobo venha.” Ou fique.