MÓRBIDA BELEZA

Cemitérios atraem pela beleza e "moradores" ilustres

Dfícil encontrar alguém que não goste de conhecer um lugar novo, um país diferente, ser turista. Afinal, é sempre tão bom mergulhar em novas culturas, se relacionar com novos povos, apreciar paisagens bonitas, arquiteturas inusitadas, passear por cemitérios...

Fábio Trindade
06/10/2013 às 01:53.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:52
Cemitério da Saudade, em Campinas ( Cedoc/RAC)

Cemitério da Saudade, em Campinas ( Cedoc/RAC)

Dfícil encontrar alguém que não goste de conhecer um lugar novo, um país diferente, ser turista. Afinal, é sempre tão bom mergulhar em novas culturas, se relacionar com novos povos, apreciar paisagens bonitas, arquiteturas inusitadas, passear por cemitérios... Opa, cemitérios? Pois é, não estranhe a ideia, porque o turismo mórbido, como é conhecido, tem seu espaço garantido nos roteiros de muitos amantes de viagem. E é fácil entender o porquê, já que existem inúmeros lugares extremamente interessantes e atrativos por aí, só que com o detalhe de também serem fúnebres.Alguns são extremamente famosos, como o cemitério de Père Lachaise, o maior e mais antigo de Paris, e o Recoleta, localizado no bairro homônimo de Buenos Aires. O primeiro cemitério se tornou um dos mais populares e célebres do mundo devido à grande quantidade de celebridades enterradas lá, como Jim Morrison, Fredéric Chopin, Edith Piaf e Oscar Wilde. Já o da Argentina é famoso por sua arquitetura suntuosa e pelo túmulo de Evita Perón, ex-primeira dama que virou mito ao morrer aos 33 anos de idade, vítima de um câncer no útero e cujo sepultamento é envolto em mistério. Esses, entretanto, são apenas dois exemplos de lugares para fazer turismo mórbido. O estilo possui diversas vertentes, que agradam os mais variados gostos. Quer um exemplo macabro? No ano passado, o quarto de hotel em que a cantora Whitney Houston foi encontrada morta foi ocupado por outros hóspedes pouquíssimo tempo depois e, segundo a gerência do Beverly Hilton de Los Angeles, na época, a procura por reservas cresceu significativamente. Todos queriam uma vaga na suíte em que Whitney morreu. Vai entender. Voltando ao “normal”, veja dez lugares que têm muita história para contar e atraem milhares de turistas graças a atmosfera sombria e o contato com a morte. Cemitério da SaudadeCampinas não fica de fora das cidades com cemitérios interessantes. Aliás, o Cemitério da Saudade, fundado em 1881, pode ser considerado um museu a céu aberto por abrigar túmulos construídos para perpetuar a memória dos cidadãos campineiros desde sua fundação até a atualidade. As construções, além de representarem a relação do homem com a morte, materializam os valores estéticos do período em que foram construídos e por isso é parte do patrimônio histórico e cultural da cidade. Tanto que ele é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Entre as personalidades que se encontram na Saudade, estão o barão de Itatiba, Ferreira Penteado (1808-1884); Bento Quirino (1837-1914); Francisco Glicério (1846-1916); Mario Gatti (1879-1964); Hércules Florence (1804-1879); e Maria Luzia de Sousa Aranha, viscondessa de Campinas (1797-1879). Cemitério de Père LachaiseAssim como a Torre Eiffel, o Louvre e a catedral de Notre Dame merecem uma visita em Paris, o cemitério de Père Lachaise não deve ficar de fora dos roteiros. O lugar impressiona não só pela rica arquitetura neoclássica elaborada pelo arquiteto Alexandre Théodore Brongniart no século 18, mas também pela quantidade de famosos que ainda estão no lugar. Entre as mais de 70 mil sepulturas, celebridades como Jim Morrison, vocalista da banda norte-americana The Doors, morto em Paris em 1971, aos 27 anos, recebem visitas diariamente. Aliás, o músico atrai tantos fãs e curiosos para a sua sepultura, que isso já rendeu muitos problemas, como a ameaça de expulsão dos seus restos mortais do Père Lachaise. Além de ícones pop, as cantoras Edith Piaf e Maria Callas, escritores como Molière, Balzac, Marcel Proust e Oscar Wilde também estão enterrados no famoso cemitério. Uma dica: não compre mapas de vendedores ambulantes. Eles são distribuídos gratuitamente na entrada do local. Cemitério da ConsolaçãoLocalizado em um terreno de mais de 76 mil metros quadrados na região central de São Paulo e com 8,5 mil jazigos, o cemitério da Consolação, com seus 155 anos, é um importante marco histórico e turístico da Capital. Por suas ruas e quadras, estão espalhadas não somente algumas das figuras mais importantes e destacadas da história brasileira, mas também estão expostas, nos túmulos, belas e significativas obras dos mais famosos e variados escultores do Brasil. Entre os artistas consagrados temos Victor Brecheret, Luigi Brizzolara e Amadeo Zani. A necrópole conta com visita monitorada aos túmulos de personalidades ilustres, além de explicações sobre as obras de arte tumular (agendamento pelo telefone (11) 3396-3832). Entre as personalidades no local, estão Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, José Bonifácio de Andrada e Silva, Antoninho da Rocha Marmo e Mário e Oswald de Andrade. Cemitério da RecoletaO pórtico neo-clássico, com colunas clássicas e símbolos sobre o tema da morte, esconde quase seis hectares de obras de arte em formato de sepulturas no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. Inaugurado em 1822, as abóbadas são na maior parte das famílias aristocráticas do país, tanto que o metro quadrado mais caro da cidade está localizado dentro do cemitério. O túmulo mais famoso do local é de Eva Duarte de Perón (Evita - 1919-1952), mulher do general Juan Domingo Perón e ex-primeira dama da Argentina. Há visitas guiadas que podem ser agendadas na frente do cemitério. Você pode entrar por conta no local, mas dificilmente vai encontrar os túmulos, pois o cemitério é imenso. As visitas duram 90 minutos, custam 3 pesos e acontecem sempre aos sábados e domingos, às 16h, com saída do portão principal. Outro cemitério muito visitado em Buenos Aires é o Chacarita, na periferia da cidade. Ali estão sepultados os corpos do mito Carlos Cardel e de Jorge Newbery, um dos primeros aviadores hispano-americanos e o primeiro a cruzar o Rio da Prata de avião. Cemitério do BonfimInaugurado em 8 de fevereiro de 1897, pela Comissão Construtora da Nova Capital, o Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, é fonte de pesquisa de vários profissionais, devido a seu acervo histórico, caracterizado por esculturas decorativas de túmulos e mausoléus. Muitas dessas são de autoria de escultores italianos que vieram para o Brasil no final do século 19. Em todo o Cemitério, podem ser observadas obras de arte de estilos diversos, desde a Belle Èpoque, o Art Deco, ao modernismo brasileiro. Necrópole do VaticanoEstá aí um lugar que pouquíssimas pessoas conhecem, tanto de ouvir falar quanto pessoalmente. E o objetivo é exatamente esse. Afinal, o Vaticano não quer a mesma multidão que frequenta a Capela Sistina, o Coliseu e a Fontana di Trevi andando pelos estreitos corredores que estão embaixo da Basílica de São Pedro. E não são corredores comuns, já que eles guardam mais de dois mil anos de história. Aliás, guardam mais do que isso: é lá que está o túmulo de São Pedro. A Necrópole do Vaticano, descoberta em 1949 durante escavações, guarda uma das maiores relíquias da Igreja Católica, além de inúmeros túmulos e desenhos de séculos atrás. Sua importância histórica e sacra foi confirmada pela visita do papa Francisco este ano. O tour secreto, como é chamado, é para poucos e precisa ser agendado com muita antecedência por e-mail ([email protected]). Na solicitação, é preciso dizer as datas que o turista tem à disposição e idiomas que fala, e esperar pela resposta. O passeio dura cerca de duas horas, com grupos muito pequenos. Fotos são extremamente proibidas. Cemitério de SighisoaraIgrejas góticas, ruas estreitas e sombrias e um cemitério macabro então em Sighisoara, cidade romena famosa por ser o local de nascimento do Conde Drácula. Vlad III, Príncipe da Valáquia, o Empalador, nasceu em 1431 e governou durante três períodos distintos a Valáquia e partes da Transilvânia, ficando conhecido pelo método brutal com que matava seus inimigos. Apesar do corpo de Drácula não estar no cemitério de Sighisoara, o local conta muito da história desta cidade medieval. Mas é preciso muita coragem para entrar no local, pois a forma de chegar até ele é por meio de uma escadaria em um corredor escuro e sombrio. Vai enfrentar? PompeiaPompeia, na Itália, foi como que “congelada” no tempo. Tanto que as escavações arqueológicas no início do século 16, pelo arquiteto Domenico Fontana, permitiram que se reconstituísse com bastante precisão a vida na antiguidade romana a partir do plano da cidade, das casas, dos objetos de uso cotidiano e das obras de arte. A região foi destruída por uma violenta erupção do vulcão Vesúvio, no ano de 79 d.C., - estima-se que entre 10 mil e 25 mil pessoas tenham morrido após a erupção — e as ruínas estavam recobertas por vários metros de depósitos vulcânicos. Os arqueólogos conseguiram moldar em gesso, nas cinzas amontoadas, as cavidades deixadas pelos corpos de algumas das vítimas, e reconstituir a posição dessas pessoas em seus últimos movimentos de vida, ou seja, no local é possível ver corpos. Muitos visitantes que vão a Pompeia acreditam que se trata de esculturas, do trabalho de artistas, mas eles são os restos de pessoas de verdade. Mosteiro de AlcobaçaCertamente, todos conhecem a história de Romeu e Julieta. Mas e o casal equivalente de Portugal, alguém conhece? Dizem que a história de D. Pedro I e D. Inês de Castro é ainda mais bonita e dramática que os pombinhos italianos, tanto que os túmulos deles, duas verdadeiras obras-primas da escultura gótica, atraem muitos turistas para o Mosteiro de Alcobaça. Feitos em calcário da região de Coimbra, ele foram colocados no transepto da igreja, frente a frente, estando o de D. Inês no braço norte e o de D. Pedro I no braço sul, de tal modo que, quando ressuscitarem e se levantarem, como diz a lenda, um verá o outro. Ambas as figuras estão coroadas, com expressão tranquila e rodeadas por seis anjos que lhes ajeitam as vestes e lhes levantam as cabeças. Os sarcófagos estão decorados com temática heráldica (representações de brasões das respectivas famílias), bíblica, vegetalista e geométrica. Dá para perder muito tempo apreciando os túmulos. Eles impressionam. Complexo de AuschwitzO massacre provocado pelos nazistas durante a segunda guerra mundial é um dos episódios mais tristes da humanidade. E os campos de concentração que foram usados na época são visitados por milhões de turistas todos os anos. O maior deles e, provavelmente o mais famoso, é o complexo Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Aberto ao público há mais de seis décadas, desde que foi construído um memorial e um museu, é possível conhecer no passeio (apenas com visita guiada) os dois campos de concentração, incluindo os tidos quartos e banheiros dos prisioneiros, os incineradores, e o museu que conta um pouco da história, com um acervo de objetos dos que passaram por lá e que eram confiscados pelos soldados nazistas. Durante a Segunda Guerra, mais de um milhão de pessoas, em sua maioria judeus, foram assassinadas em Auschwitz-Birkenau dentro do programa de extermínio posto em prática pela Alemanha nazista. Até os trilhos de trem que levavam os prisioneiros estão preservados.              

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