CAMPINAS

Cemitério da Saudade é o retrato do abandono

Tombado como patrimônio cultural, está degradado, com vias quebradas e túmulos deteriorados

Cecília Polycarpo
cecília.cebalho@rac.com.br
28/02/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 15:44

De grande valor artístico e histórico, o Cemitério da Saudade, em Campinas, hoje é o retrato do total abandono. O espaço, que foi tombado em 2003 como patrimônio cultural da cidade, está degradado, com vias quebradas, túmulos deteriorados e sinalização enferrujada.   Parte das ruelas que dão acesso aos mausoléus estão cobertas de mato e há grande quantidade de entulho e sujeira espalhados por toda parte. Em 2012, o governo do ex-prefeito Pedro Serafim (PDT) cogitou fazer um roteiro turístico para o espaço virar ponto de visitação como o Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, mas o projeto não vingou. Famílias com parentes sepultados no local reclamam da situação caótica e do descaso da Administração.   Galinhas mortas   Com 180,5 mil metros quadrados e 32 mil sepulturas, o cemitério tem cerca de 50 covas ainda disponíveis. A equipe de reportagem esteve no local na manhã desta quinta-feira (27)  e encontrou lápides sujas e quebradas, tijolos à mostra e muito limo. Em uma área, há pedaços de galinhas mortas, já em estado de putrefação, perto de alguns túmulos. O cheiro no local é insuportável e há grande quantidade de insetos.   Havia também pelo menos dez garrafas com água. Um dos funcionários da autarquia Serviços Técnicos Gerais (Setec) dormia em cima de uma das sepulturas. O asfalto e as pedras portuguesas das vias do cemitério estão repletos de buracos. Parte do local não tem asfalto e o acesso é através do piso de terra batida. Vários túmulos estão abertos e muitos deles completamente degradados.   Escorpiões   No dia 24 de janeiro, uma reportagem mostrou a proliferação de escorpiões no cemitério. Na ocasião, a Setec informou que enviou um ofício para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) solicitando uma vistoria e uma ação no combate aos escorpiões. A inspeção deveria ocorrer até o começo da semana seguinte. Funcionários que não quiseram se identificar, no entanto, disseram que a inspeção não aconteceu. “Os escorpiões continuam no cemitério, e cada vez em maior quantidade”, disse um deles. O servidor público Valter Cappi, de 52 anos, vai ao local frequentemente fazer a manutenção do mausoléu da família, mas acaba limpando a sujeira de outros túmulos do entorno também. “Eu não aguento ver essa imundice. A Prefeitura deveria ser mais firme e convocar as famílias. E promover uma limpeza geral. Eu nunca vi o cemitério tão mal cuidado com o da Saudade”, disse. Para a sua mulher, Ivone Aparecida Siqueira, de 50 anos, que o ajuda na faxina, a culpa da situação é da Administração. “O cemitério está acabado como um todo. Cheio de entulho, sem calçadas e sujo. A Prefeitura em que cuidar do local com mais respeito”, disse.Convocação O presidente da Setec, Sebastião Sérgio Buani dos Santos, afirmou que espera autorização do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) para fazer uma grande obra de recapeamento no Cemitério da Saudade. Hoje, sem o aval, os funcionários se esforçam para tapar os incontáveis buracos do espaço. A convocação dos proprietários dos mausoléus para limpar os túmulos também surtiu pouco efeito.   Legalmente, cabe à família fazer a manutenção de seu jazigo. A busca fazia parte de um plano de ações para a revitalização do cemitério. O governo municipal esperava fazer dele um museu a céu aberto, incentivando a visitação, mas o projeto foi abandonado. “Com o investimento no Crematório Municipal, temos pouco para manter o cemitério. Mas estamos nos esforçando, porque o espaço é muito grande. Nunca deixamos de olhar para o cemitério com carinho”, disse Santos.   Hoje, a autarquia informou que faz a limpeza geral do Cemitério da Saudade, com funcionários da própria Setec, reeducandos do sistema prisional e com parceria com instituições, como a Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais). A assessoria de imprensa disse que a Setec hoje se ocupa da manutenção do espaço, mas não há um projeto de revitalização. Ainda de acordo com a autarquia, técnicos irão apurar se o funcionário dormindo em cima do túmulo era da Setec. Se o caso for confirmado, ele será punido.História   Fundado em outubro de 1880, o Cemitério da Saudade, mais antigo e tradicional de Campinas, tem grande valor arquitetônico. O local foi tombado como patrimônio cultural da cidade de Campinas em novembro de 2003. O cemitério tem túmulos de personalidades da época da monarquia e do Brasil Império, além de sepulturas conhecidas como a do milagreiro Maria Jandira, os três anjinhos e o escravo Toninho.   Também está enterrado no Saudade o ex-prefeito Antônio da Costa Santos, o Toninho, morto em 2001. Mas, o que evidencia mais o valor cultural do cemitério são as peças esculpidas que ornamentam túmulos de famílias abastadas da época, final do século 19 e início do século 20, auge do período em que o café era o grande gerador de riqueza da região. Cemitério da SaudadeÁrea total - 181.500 m² (7.5 alqueires)Fundação - 10 de Outubro de 1880Quantidade de sepulturas - 32.000Quantidade de quadras - 72Quantidade de óbitos - 341.209Média de sepultamento ao mês - 180Quantidade de lóculos (sepulturas disponíveis) - 54Endereço: Praças Voluntários de 32, s/n - SwiftFone: (19) 3734-6100

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