Inventário ajudará a cidade a conhecer e preservar monumentos
Um catálogo com todos os monumentos históricos de Campinas, públicos e privados, está sendo elaborado por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Trata-se de uma segunda edição do"Campinas em Pedra e Bronze: Guia dos Monumentos e Placas Comemorativas de Campinas", lançado em 1974, durante o governo Lauro Péricles, para comemorar o segundo centenário da fundação da cidade. A revista trazia os monumentos do Centro. A nova edição pretende apresentar todas as peças do município. A previsão é de que fique pronta em 2014, quando a cidade fará 240 anos.
O catálogo será feito a partir de mapeamento do Condepacc e do grupo de Inovação e Pesquisa para o Restauro (IPR), coordenado por Marcos Tognon, professor de história da arte da Unicamp. O levantamento do Condepacc, realizado no Centro Expandido, atualmente, dá conta de 102 monumentos, entre públicos e privados — a maior parte das peças, segundo os historiadores, é centenária e feita a partir de bronze e granito. Mas o projeto ao longo do ano pretende incluir os monumentos das demais áreas de Campinas. Segundo Tognon, o novo catálogo já começou a ser elaborado. “Iniciamos o trabalho em abril. Já temos uma listagem dos monumentos e estamos em fase de elaboração e do levantamento fotográfico”, disse.
Na publicação deverão ser incluídas as obras feitas recentemente como a escultura "Equus" e o monumento em homenagem ao ex-prefeito Toninho (Antônio da Costa Santos), do PT, feitas pelo arquiteto e artista campineiro Spencer Pupo Nogueira. “As três peças embaixo do viaduto Laurão, a peça da Venda Grande. Algumas foram feitas recentemente, outras sofreram movimentação, ‘andaram’. Vamos atualizar e entender o que ocorreu entre os anos 1920 e 1930, chegando até os dias de hoje”, disse o historiador do Condepacc, Henrique Anunziata. Segundo ele, a ideia é que nenhum monumento fique de fora.
O catálogo deve trazer fotos, dados históricos e técnicos das peças. “Cada uma vai ter sua classificação, origem. Quem são os personagens representados, em que contexto histórico estão inseridos, por quais artistas foram produzidos, qual o material utilizado”, afirmou Anunziata. O objetivo é publicar uma versão eletrônica da revista e uma versão impressa, que deverá ser distribuída em escolas, universidades e por entidades e órgãos interessados em divulgar os bens culturais da cidade, além de distribuição para os visitantes e turistas.
O conhecimento levado à população por meio da publicação, segundo Anunziata, ajudará a garantir a preservação da memória da cidade e do próprio monumento. “As pessoas terão noção do que é aquilo que estão vendo”, afirmou. Tognon ressaltou que todo inventário e documentação dos bens culturais de uma cidade tem vários significados positivos. “Um deles é a divulgação do que de fato existe na cidade, porque muitas vezes a população desconhece o valor desses bens. Também vai auxiliar na elaboração de políticas públicas para preservação. É uma ferramenta muito importante para gestão, educação e potencial turístico da cidade.”
Restauro
A Secretaria de Cultura de Campinas informou que está em trâmite na Prefeitura um projeto de restauração de todos os monumentos do Centro e do Centro expandido da cidade. De acordo com a Pasta, foi feito um relatório, envolvendo o Condepacc e a Secretaria de Serviços Públicos, com propostas de melhorias, limpeza e restauro de cada uma das peças. A expectativa é de que até o final deste ano os trabalhos sejam iniciados. A estimativa de quanto custaria a restauração não foi informada.
Vandalismo
{Além da deterioração provocada pelo tempo, o vandalismo e a falta de cuidados apropriados ameaçam os monumentos históricos de Campinas. De acordo com o último levantamento, feito no centro expandido, a cidade possui 102 monumentos e pelo menos a metade necessita de algum tipo de intervenção de restauro ou dos cuidados de um profissional. Pelo menos quatro monumentos importantes da cidade estão em situação considerada crítica, segundo o professor de história da arte Marcos Tognon.
Um deles é a estátua em bronze de corpo inteiro em homenagem ao campineiro Dom Nery — um dos fundadores do Liceu Salesiano e o primeiro bispo de Vitória (ES). A escultura feita pelo artista Fernando Frick foi inaugurada em 1924 e está localizada na Praça José Bonifácio, no Largo da Catedral. A escultura perdeu a pátina original — uma camada de ácido aplicada à escultura assim que ela é feita em bronze e que tem como objetivo preservar a peça. “Em 2004, o monumento foi limpo pela Prefeitura e tiraram a camada de pátina, por isso ele está oxidando”, afirmou o especialista. Concebido pelo escultor Celso Antonio, o monumento do Bicentenário do Café, localizado no Largo do Pará, foi inaugurado em Campinas em 1927 e marca o segundo centenário da introdução do café no Brasil, levando em conta o fato de Campinas ter sido o maior produtor do grão no País. Apesar de sua importância, o monumento também está com sérios problemas. “Pela umidade e poluição do Largo do Pará, a pátina está escorrendo e manchando o granito. Além disso, as placas de granito estão se descolando da base e precisariam ser reajustadas”, explica Tognon.
O monumento em homenagem a Tomás Alves — um dos fundadores da Maternidade de Campinas e considerado “o médico da pobreza” — também sofre com as ações do tempo e de vandalismo. A obra do escultor Marcelino Velez, inaugurada em 1925, teve as peças de bronze retiradas pela Prefeitura por medida de prevenção, já que tentaram roubá-las há dois anos.
“Acho que estão aguardando um momento para recolocar peças. E obviamente, a obra precisa de limpeza para tirar pichações”, disse. O imponente monumento em homenagem ao ex-presidente Campos Salles, o mais ilustre político campineiro da história, também está degradada pelo vandalismo e pela manutenção inadequada no nas últimas décadas. Concebida pelo escultor Iolando Mallozzi, em 1934, a obra está com os rejuntes comprometidos, o que facilita a infiltração. Peças foram roubadas. E o bronze tem manchas esverdeadas, decorrentes da oxidação. A peça precisa de investimentos da ordem de R$ 80 mil para restauro e a recuperação será feita em etapas, à medida que surgirem patrocinadores.
De acordo com a Secretaria de Serviços Públicos de Campinas, o Departamento de Limpeza Urbana (DLU) faz manutenção periódica dos monumentos orientada pelo Condepacc. A Secretaria de Cultura afirmou que pretende providenciar o restauro das peça.
Projeto ensina preservação para outras cidades
O Projeto de Extensão Comunitária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vai ajudar as cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) a preservarem seus monumentos históricos por meio de oficinas de capacitação voltadas para os servidores municipais e gestores públicos que atuam no setor. Coordenado pelo professor de história da arte Marcos Tognon, o projeto também pretende promover a inclusão dos jovens na preservação do patrimônio cultural das cidades. A universidade vai financiar o projeto e o início das aulas está previsto para agosto.
O projeto será promovido pelo Centro de Memória da Unicamp (CMU) com o apoio de funcionários do centro e alunos do curso de arquitetura e do doutorado de história da arte. As oficinas de capacitação terão aulas teóricas e práticas voltadas a três públicos distintos. “As oficinas serão dadas a servidores que trabalham diretamente com a manutenção de praças e espaços públicos. Vamos abordar a limpeza e conservação correta de monumentos, que envolve o sistema de limpeza seca, térmica, úmida e química, a remoção de pichações, reparos em rejuntes, além de outros cuidados que devem ser tomados”, afirmou Tognon.
Os gestores públicos das cidades da RMC, responsáveis pela conservação do acervo do Patrimônio Cultural, receberão formação na área de conservação preventiva, para administrarem rotinas e protocolos básicos aplicados aos monumentos. Segundo Tognon, jovens carentes serão incluídos por meio de um curso de capacitação profissional, na ocupação de técnico de limpeza e manutenção de monumentos.
A proposta partiu da atuação do professor na área de conservação do patrimônio histórico de Campinas. “Tenho um grupo de pesquisa na Unicamp desde 2005 e as primeiras tarefas do grupo incluíram o diagnóstico dos monumentos públicos da cidade. Notamos que havia ausência de manutenção ou limpeza equivocada dos monumentos, mais pela falta de conhecimento das técnicas do que pela ausência de ações. A ideia do projeto é justamente capacitar esses funcionários para agirem de forma correta.”
Tognon já está em contato com algumas cidades da RMC, mas disse que o projeto deve ultrapassar as fronteiras da região. “Pretendemos chamar pessoas de outras cidades, como Mococa, por exemplo, que tem acervo do Bruno Girorgi (famoso escultor brasileiro), Limeira, Piracicaba, que possuem um patrimônio significativo de monumentos públicos”, afirmou. As oficinas deverão começar em agosto e a cada mês o trabalho será voltado para um público distinto.
Aulas teóricas serão ministradas na Unicamp e as práticas serão realizadas na Estação Guanabara da Unicamp. O material didático (impressões e CDs) será fornecido gratuitamente. As exposições serão filmadas e, posteriormente, publicadas no YouTube para os demais interessados em ter acesso ao conteúdo. “É a utilização do conhecimento da universidade aplicado na comunidade. Para nós é muito bom porque a partir das experiências conseguimos melhorar os nosso cursos.”