Diz-se que, no Brasil, o ano de verdade começa apenas depois do Carnaval. Em alguns lugares, nem isso, com a folia se estendendo teimosamente mais alguns dias até o esgotamento das programações turísticas e o ânimo dos foliões. Nas empresas e prestadores de serviços, o ritmo de trabalho é de expectativa e preparação para o novo ano, até que se concretizem os prognósticos que determinarão os rumos da economia em 2013. Não há tempo a perder e os projetos devem ter andamento para não se ter comprometimentos de orçamento.
Na política, o ritmo é completamente diferente. Deputados e senadores estendem suas folgas por duas semanas sob o pretexto de acompanhar a festa em seus redutos eleitorais, antecipando mais um ano em que as decisões serão tomadas a variação dos interesses ou na pressão da opinião pública. Não bastasse o mau exemplo de falta de compromisso com o trabalho e com o apalavrado com os eleitores, os congressistas fazem de sua rotina uma agenda de folgas e afastamentos que envergonha.
Pouco antes do Carnaval, houve a pressão para que a votação do Orçamento de 2013 ficasse para depois da folia. Duas conveniências em um único ato: não prejudicar o deslocamento dos parlamentares para seus destinos de origem e colocar pressão sobre o governo, que retardou a liberação de verbas das emendas. Até o final do ano passado, tinham sido liberados apenas perto de 27% do total, levando à insurreição da base governista.
Volta e meia se fazem apelos pela moralidade e pelo respeito à instituição parlamentar. Não é de hoje que o descrédito ronda a percepção das pessoas sobre a relevância do trabalho no Congresso, assembleias e câmaras de vereadores. Não se questiona a instituição, mas os descaminhos, os abusos da representação política, os escândalos que permeiam os cargos, os casos de corrupção e a inação de um grupo que deveria ser exemplo, mas acaba sendo alvo do escárnio e da desconfiança. Atitudes como essa de se concederem benefícios e vantagens, de gazear os compromissos em seus postos de trabalho, ou dedicar-se principalmente a atividades eleitoreiras, em nada contribuem para resgatar o conceito que deveriam ter os legítimos representantes da sociedade. Para um povo que trabalha e valoriza o compromisso com a nação, a melhor resposta será sempre o troco na moeda mais democrática da cidadania: o voto consciente.