HC alerta que 70% dos que procuram tratamento estão com estágio avançado da doença
Paciente em tratamento de câncer de boca no Hospital de Clínicas da Unicamp (Janaína Maciel/ AAN)
Mais de 70% dos pacientes com câncer de boca tratados nos Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) procura atendimento quando a doença está em estágio avançado.
O índice, divulgado esta semana pelo hospital, preocupa especialistas, pois a chance de cura cai para 30% quando os tumores não são tratados precocemente. Quando a doença é diagnosticada ainda no começo, o paciente tem quase 100% de chances de sair ileso do tratamento.
Em Campinas, os três hospitais públicos que combatem a doença atendem 30 pacientes mensalmente. Somente o HC faz aproximadamente 70 cirurgias para a retirada de tumores orais por ano. Em fevereiro, 14 pessoas fizeram sessões de radioterapia para controle das células malignas no hospital.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que no ano passado quase 10 mil novos casos da doença foram identificados no País. Porém, o cirurgião de cabeça e pescoço do HC Alfio José Tincani acredita que muito mais pessoas tenham câncer oral sem saber.
O câncer de boca acomete geralmente homens acima dos 50 anos e é mais comum entre fumantes e pessoas que bebem em excesso.
A combinação “explosiva” entre as duas substâncias aumenta em até cinco vezes a chance de aparecimento dos tumores.
A doença surge na região dos lábios e nas bordas da língua em forma de feridas — muitas vezes confundidas com aftas. Por isso, frequentemente o doente procura o hospital somente quando as feridas começam a sangrar ou quando o câncer atinge os gânglios, causando ínguas no pescoço.
“É muito comum eles procurarem outro profissional antes, que tratam a ferida com antibióticos ou anti-inflamatórios, achando que não é um problema tão grave. Isso prejudica muito o tratamento do câncer mais tarde”, explicou Tincani.
Além do consumo abusivo de álcool e tabagismo, a má higiene bucal, a exposição prolongada ao sol e o sexo oral sem proteção podem desencadear o tumor, segundo o médico. No entanto, esses fatores estão associados a diferentes tipos de doença. O câncer que se manifesta primeiro no lábio, por exemplo, é comum em trabalhadores rurais, que se expõem aos raios ultravioletas todos os dias.
Outro risco ainda não muito comprovado seria pelo uso de dentaduras mal ajustadas por longos períodos. Com o uso incorreto, pode haver trauma na mucosa da boca e o aparecimento do câncer.
Tratamento
O tratamento é feito através de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. O método utilizado depende do tamanho da lesão e também da escolha do paciente.
“No estágio inicial, pode ser feita uma cirurgia para retirada do tumor ou o tratamento com radioterapia”, disse o cirurgião.
Operações mais radicais, com a retirada das ínguas, ou linfonodos, em conjunto com o tumor, são indicados para os casos mais graves e deixam sequelas na fala e deglutição. “Não é um tratamento fácil. A radioterapia deixa pequenas queimaduras e as cirurgia são invasivas. Por isso o diagnóstico precoce é tão importante.”
A luta do aposentado José Brenelli, de 75 anos, contra o câncer de boca, começou quando ele tinha 30 anos. Assíduo nas sessões de radioterapia do HC, Brenelli afirmou que se casou duas vezes e teve quatro netos com a doença.
A melhor forma de lidar com o tratamento, segundo ele, é não deixar a “peteca cair”. “Não é fácil fazer as sessões de rádio e quimio. A gente fica fraco, cheio de feridas na pele. Mas o principal é estar vivo. E sei que ainda tenho muita coisa pela frente.”