Campineiras cobram prêmio de Silvio Santos

Duas moradoras de Campinas, que ganharam R$ 600 mil no programa "Vamos Brincar de Forca", do SBT, estão processando a emissora, a empresa Jequiti Cosméticos e Silvio Santos, apresentador da atração. O sorteio foi realizado em novembro do ano passado, mas até hoje elas não receberam o prêmio. Após a exibição do sorteio e do anúncio das vencedoras, a empresa Jequiti teria alegado que o cupom havia sido preenchido de forma incorreta e elas foram desclassificadas. O advogado Helano Facco Junior, que representa as mulheres, entrou com ação de danos morais e materiais que somam R$ 2,4 milhões.Maria de Fátima Ribeiro Barbosa, de 62 anos, é consultora da marca de cosméticos Jequiti. Ela vendeu um perfume para a amiga Santina Costa Mathias. As duas preencheram cupons para participar da promoção, que pagaria R$ 600 mil à dupla que fosse sorteada e acertasse a “palavra misteriosa”. A mecânica da promoção é simples: a cada R$ 10 em compras de perfumes da marca, um cupom pode ser preenchido indicando uma palavra com dez letras. Os sorteios são exibidos aos domingos, pelo apresentador Silvio Santos, que sorteia um bilhete, que se tiver a palavra correta, leva para casa o valor acumulado. As dicas são dadas semanalmente, com a exibição de algumas letras que formam a palavra.No dia 5 de novembro do ano passado, o cupom das campineiras foi sorteado. Silvio Santos leu o nome das participantes e a palavra enviada, que era “indisposto”. Elas foram anunciadas como as ganhadoras do prêmio e tiveram até os endereços divulgados. O nome das duas também apareceu no site da emissora.Uma semana depois, elas receberam uma ligação de um representante do concurso informando que havia um “erro” no cupom e que elas foram desclassificadas. A falha estaria no não preenchimento de um campo com um “x” da resposta à pergunta “Qual a empresa de cosméticos que dá prêmios para quem compra e para quem vende?”O advogado afirmou que no regulamento não há nada que fale sobre a exclusão do concurso caso não respondam à pergunta. “Mesmo se tivesse errado, passou pela auditoria e levaram o programa ao ar. No regulamento da promoção não há nada dizendo que o prêmio poderia ser contestado após a exibição na televisão, e o Código de Defesa do Consumidor é claro e diz que, em havendo omissão de informação, o regulamento tem que ser interpretado de forma mais benéfica para o consumidor”, disse o advogado.Na defesa apresentada à Justiça de Campinas, a empresa Jequiti afirmou que as participantes “não entenderam o regulamento” e que elas não têm provas de que sofreram danos com a desclassificação. “As autoras não trouxeram aos atos provas do suposto dano moral sofrido, nem tampouco quais as eventuais repercussões deste, aliás, nem poderia porque não houve dano. Certo é que alguém só pode ser contemplado com uma indenização por danos morais quando esta indenização servir para acalentar a profunda dor na alma sofrida pela vítima.”As defesas do SBT e do apresentador Silvio Santos ainda não se pronunciaram sobre a ação.Problemas de saúdeA aposentada Santina Mathias vive a expectativa de receber o dinheiro. Ela não assistia ao programa no dia em que seu nome foi anunciado, mas contou que recebeu muitas ligações e visitas em casa. “No outro dia veio muita gente aqui. Fiquei muito feliz”, contou. Com planos de reformar a casa, no Jardim Eulina, ter um plano de saúde e de conseguir pagar pelo inventário do marido, morto em 1981, Santina, que ganha um salário mínimo por mês, agora vive a angústia de não saber quando receberá o dinheiro. “Eu espero que resolva isso o mais rápido possível. A gente já ganha pouco e ia ajudar muito.” Pelas regras da promoção, o prêmio tem de ser dividido entre a consultora dos produtos cosméticos e a cliente. Santina deveria receber R$ 300 mil, o mesmo que 40 anos de sua aposentadoria.A neta contou que a avó ficou depressiva após descobrir que não ganharia mais o prêmio. “Ela ficou ruim, chorou muito. De lá para cá ela não ficou mais como era antes, porque cria uma expectativa”, contou Michele Mathias da Silva, de 26 anos. “Ficamos preocupados. A gente falou para ela ficar calma, que tudo será resolvido. Ela foi ao médico e precisa fazer alguns exames porque está com um probleminha no coração e dependemos do SUS, que demora muito. Se tivéssemos esse dinheiro ela poderia fazer todo o tratamento que precisa.”A pergunta a ser respondida, motivo da desclassificação de Santina e Fátima, era escrita com letras pequenas e passou despercebida. “Eu não sabia. Não dá nem para ver direito”, disse Santina. Agora, os novos cupons mostram a frase com letras maiores e o espaço para preenchimento da resposta ampliado.