No dia do trabalho voluntário, comemorado hoje, não faltam exemplos de quem se dedica a ajudar
Carmem Silvia da Costa Zanchetta, voluntária há 21 anos, diverte criança em tratamento no Boldrini ( Edu Fortes/AAN)
No ano de 1992, Carmem Silvia da Costa Zanchetta recebeu a notícia que a filha, de apenas 5 anos, tinha câncer. Morando em Campinas há apenas dois anos, vinda de Batatais (SP), iniciou a maratona de visitas ao Hospital Boldrini, onde a filha fazia tratamento. Ali teve contato com outras mães que tinham que viajar com os filhos para o tratamento e enfrentavam dificuldades para manter as despesas com hospedagem em Campinas. Foi quando ela e um grupo de famílias decidiram criar a Associação de Pais e Amigos da Criança com Câncer e Hemopatias (Apacc), que este ano completa 21 anos.“Tudo começou lá dentro do hospital. Fomos percebendo a necessidade dessas mães que precisavam desse apoio. Muitas não tinham lugar para ficar, precisavam de apoio emocional, de orientação.” A luta de todas as mulheres era a mesma, mas Carmem garante que o seu problema, ainda que delicado, era menor. “Eu estava na minha casa, podia voltar com minha filha, mas outras mães não. Vimos algumas desistindo do tratamento, e isso começou a mexer no nosso sentimento.”O início foi difícil, conta Carmem. Receberam uma casa emprestada do Boldrini onde podiam atender seis mães. A organização foi se estruturando até que, em julho de 2008, o Instituto Ronald McDonald fechou parceria com a organização não governamental (ONG), que passou por uma grande reforma. Atualmente, a casa tem estrutura para atender até 56 crianças e 56 acompanhantes.Além de abrigar crianças que fazem tratamento no Boldrini, a instituição oferece inúmeras atividades pedagógicas e conta com o apoio de 30 voluntários, que provam que é possível curar o câncer com a solidariedade.“É uma grande troca. É muito bom você sentar do lado de uma mãe e pedir para ela ficar firme, é um período que vai passar”, diz Carmem. Hoje, sua filha, que tratou de um câncer no rim em 1992, é médica pediatra. AltruísmoA Declaração Universal do Voluntariado, criada em 1990, estabelece algumas motivações para a escolha de um trabalho voluntário. Há quem busque crescimento pessoal e uma satisfação que o trabalho remunerado, muitas vezes, não é capaz de proporcionar. Pessoas que foram ajudadas um dia também tendem a retribuir, em algum momento da vida, o que um dia recebeu. A declaração também aponta que motivações religiosas podem influenciar nos trabalhos voluntários e, por último, o desejo de ocupar um tempo que seria ocioso ajudando o próximo. Como no caso da aposentada Maria José da Costa Carvalho, de 71 anos. Técnica de enfermagem aposentada, sempre atuou na ala da pediatria nos hospitais. Desde o começo do ano, ela participar do Griots, os contadores de histórias, associação criada há dez anos que atua em hospitais, ambiente que Maria domina. “Foi um jeito de matar a minha saudade das crianças e uma forma de ajudá-las. Me dá muita satisfação, um prazer enorme”, disse a voluntária, que uma vez por semana mergulha no mundo da imaginação das crianças em tratamento no Hospital Mário Covas, em Hortolândia.Mas a contadora de fábulas ensina que é preciso estar pronta para ouvir. “Eu pretendo contar muitas histórias, mas também ouvir muitas histórias. Quando a gente pensa que estamos lá apenas para ajudar os outros, impomos limites. Temos que dar a oportunidade das pessoas manifestarem seus sentimentos, seus desejos. É um alimento psicológico e espiritual muito gostoso.” Com seu exemplo, Maria faz um apelo. “Eu falo para a turma mais jovem que eles precisam engrossar as fileiras, serem atuantes.”