De cada dez alunos da rede estadual, quatro não retomaram as atividades presenciais até agora
Sala de aula com poucos alunos na Escola Estadual “Dr. Disnei Francisco Scornaienchi”, localizada no Parque Jambeiro, em Campinas: vários pais optaram por manter os filhos estudando remotamente (Ricardo Lima/ Correio Popular)
Apenas 60% dos alunos previstos para o retorno presencial nas escolas estaduais participaram da primeira semana de aula, que teve início no dia 8 de fevereiro. O secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, informou que 600 mil alunos compareceram, diante dos mais de um milhão que poderiam retornar por meio do sistema de revezamento em todo o Estado.
Em Campinas, a situação foi a mesma. De acordo com Rossenilda Gomes Farias, dirigente da Regional de Ensino Campinas Oeste, o que pode ter justificado essa baixa na presença dos alunos é o fato de o comparecimento não ser obrigatório. As famílias dos estudantes têm a liberdade de decidir ente encaminhá-los para escola ou mantê-los em casa, usando o ensino remoto.
Para que o retorno ocorresse com segurança, cada escola fez um planejamento para receber os estudantes, dentro da capacidade de atendimento de cada escola, limitada ao máximo de 35%. Em Campinas há 160 escolas estaduais, que atendem 112 mil alunos. A expectativa era que retornassem 7 mil estudantes por dia, de acordo com a divisão feita pelas instituições, mas esse número ficou a baixo do esperado.
O grupo que mais compareceu na primeira semana foi composto por alunos do primeiro ao quinto ano, do período da tarde. Rossenilda tem uma explicação para o fato. "A maior adesão desse grupo deve-se provavelmente ao fato de os pais precisarem trabalhar e não terem com quem deixar os filhos. Também é saudável para a criança ter essa vivência do ambiente escolar de volta, interagindo com os outros colegas de sala, mas sempre respeitando as normas de segurança. É a volta da rotina escolar", considerou.
As salas que tiveram menor presença são as do período noturno. Na última terça-feira, essa tendência persistia. À noite, eram previstos 2.796 estudantes, mas a adesão ficou em 1.150, ou seja, 41% do esperado. "Daqui duas semanas esse cenário deve mudar, e a adesão aumentar. Até lá as pessoas vão ter entendido melhor como os protocolos de segurança estão sendo colocados em prática. Vamos continuar com a ideia de fortalecer isso dentro e fora da escola", concluiu a diretora de Ensino.
Para Maria Márcia Malavasi, docente e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o retorno de 60% dos alunos do Estado ocorreu por medo dos pais, de expor o filho à infecção da covid-19. "A população acabou de compreender a gravidade desse retorno presencial. Há meios de se manter o aprendizado, mas pelo ensino remoto. Voltar à escola neste momento, sem todos estarem vacinados, isso representa um risco grande", advertiu.
Para a educadora, a volta deveria ocorrer apenas depois que todos da área da educação fossem vacinados. "Com as crianças, as dificuldades são maiores em se manter o total controle do uso das medidas de segurança. As famílias têm medo. Entre o ensino e a vida, elas optam pela vida. Como os alunos não vão ter falta, caso continuem com o ensino à distância, essa será a forma de aprendizado que deve ter maior aderência de agora em diante", inferiu.