Corpos do piloto e copiloto do ATR-72 foram identificados pelas impressões digitais
Ricardo Rodrigues foi a terceira pessoa a chegar ao local do acidente: "O avião caiu inteiro no chão, não faltava nenhuma parte das asas. Somente depois ele explodiu" (Kamá Ribeiro)
As duas primeiras vítimas do acidente aéreo em Vinhedo foram oficialmente identificadas ontem, elevando o número de mortos para 62 após a confirmação de mais um passageiro não incluído na lista divulgada na sexta-feira (10) pela Voepass. Os corpos do piloto do avião ATR-72, Danilo Santos Romano, de 35 anos, e do copiloto, Humberto Campos de Alencar e Silva, de 61 anos, foram identificados pelas impressões digitais. A nova vítima confirmada é Constantino Thé Maia, que ficou fora da primeira relação por uma "questão técnica identificada pela companhia referente às validações de check-in, validação do embarque e contagem de passageiros embarcados", conforme nota divulgada pela companhia aérea.
"Em respeito à identidade do passageiro e de sua família, a Voepass decidiu confirmar a informação de que Constantino estava a bordo do voo 2283 somente quando não houvesse dúvidas", acrescentou a empresa. Até as 13 horas deste sábado, 31 corpos de vítimas haviam sido retirados da aeronave, que caiu em um terreno do Condomínio Campo Florido, e levados para identificação no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo. A previsão é que essa operação e a retirada dos destroços do avião ATR-72 sejam concluídas até hoje.
De acordo com o superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, Rodrigo Luís Sanfurgo de Carvalho, o trabalho de retirada de corpos é difícil, cuidadoso e minucioso. "É um trabalho muito delicado, extremamente sensível. Estamos atuando para preservar o local. A prioridade da Polícia Federal agora é remover as vítimas de forma que seja possível a identificação delas", afirmou ele, ressaltando a importância de garantir o sepultamento pelas famílias.
O TRABALHO
Danilo Romano, piloto do voo 2283, trabalhava na Voepass desde novembro de 2022. Ele iniciou sua carreira na empresa como primeiro oficial e foi promovido a comandante há um ano. Antes disso, Romano acumulou experiência na Air Astana, do Cazaquistão, e na Avianca Brasil, além de ter atuado como instrutor de voo entre abril de 2012 e janeiro de 2014. O copiloto Humberto Campos estava na companhia havia quase cinco anos e possuía cerca de 5.100 horas de voo. A tripulação também incluía as comissárias de bordo Débora Soper e Rubia Silva de Lima. As outras 58 vítimas eram passageiros.
Para auxiliar nos trabalhos de identificação, familiares das vítimas foram acomodados em dois hotéis em São Paulo, onde recebem apoio de equipes de assistentes sociais e psicólogos. Eles são levados em grupos para um prédio em frente ao Instituto Médico Legal (IML), onde passam por entrevistas com peritos para fornecer informações que possam ajudar na identificação. Os parentes também podem apresentar documentos médicos, odontológicos e radiológicos.
"Estão sendo seguidos protocolos internacionais de identificação que permitem a devolução de um corpo para os familiares. São apenas três metodologias, em regra, que permitem essa entrega do corpo: por impressão digital, odontologia ou exame genético. Especialmente, também podemos fazer a entrega por exame antropológico, caso o passageiro tenha próteses ortopédicas ou características médicas que o familiar nos informe", explicou Carlos Eduardo Palhares Machado, diretor do Instituto Nacional de Criminalística (INC).
De acordo com o superintendente da Polícia Federal, Rodrigo Sanfurgo, "estamos aqui com o que há de melhor em equipamentos e os melhores peritos do Brasil", com a identificação sendo realizada também pelos peritos do IML paulista. A porta-voz do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, tenente Olívia Perrone, informou que a aeronave foi dividida em três partes para que a posição dos corpos após a queda possa contribuir para a identificação. "O Corpo de Bombeiros, que faz a retirada dos corpos dos escombros do avião, busca manter o máximo possível tanto a integridade dos corpos quanto da aeronave", afirmou ela. Esse cuidado permite cruzar a informação com o número do assento do passageiro, fornecendo um dado adicional para uma identificação segura.
INVESTIGAÇÃO
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) iniciou ontem, em seu Laboratório de Leitura e Análise de Gravadores de Voo (Labidata), em Brasília, a extração das informações das duas caixas-pretas do ATR-72 da Voepass. "Elas poderão reescrever e nos contar o que aconteceu nesse trágico evento. É importante deixar claro que não existe ainda uma previsão do término dos trabalhos, porque, em função da importância dessas informações, nós estamos priorizando a qualidade em vez de celeridade", afirmou o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno.
São dois os tipos de caixas pretas instaladas em aviões. O Cockpit Voice Recorder (VCR) grava as conversas entre a tripulação e também com órgãos de controle de tráfego aéreo, e o Flight Data Recorder (FDR) é o gravador de dados de voo. "Eu reafirmo que até o presente momento nós não temos informação nenhuma de contato entre a aeronave e os órgãos de controle de tráfego aéreo, de declaração de qualquer tipo de emergência", disse o brigadeiro Marcelo Moreno.
A investigação do Cenipa busca descobrir a causa de acidentes e aéreo como forma de também prevenir outras ocorrências. O Centro de investigação também está recolhendo os motores do ATR-72, partes do painel de instrumentos e outras peças que possam ajudar na apuração da queda. Além desse trabalho do órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), o acidente com o avião da Voepass é investigado pela Polícia Federal, pela Polícia Civil paulista e pelo Ministério Público do Trabalho.
MOVIMENTAÇÃO
O acidente aéreo mudou a rotina dos moradores condomínio no bairro Capela onde caiu o avião. "Hoje (ontem) precisava sair com o carro e não consegui", disse o empresário Ricardo Rodrigues, em função dos trabalhos feitos pelas diversas equipes de órgãos públicos que trabalham no local. Apenas da Polícia Militar, são cerca de 200 integrantes de diversas divisões atuando nos trabalhos.
Ricardo Rodrigues foi a terceira pessoa a chegar ao local do acidente. "Ao contrário do que tem sido dito, o avião caiu inteiro no chão, não faltava nenhuma parte das asas. Somente depois ele explodiu", afirmou. Ele disse ter passado mal pelo impacto da imagem de vários corpos espalhados próximo aos destroços. A movimentação no condomínio foi intensa ontem, com a entrada e saída constantes de viaturas e veículos oficiais, além de máquinas para ajudar nos trabalhos em torno da aeronave.
Acompanhada por uma filha adolescente, uma moradora das proximidades, que pediu para não ser identificada, tomou a iniciativa solidária de distribuir chá quente de gengibre para equipes de trabalho e da imprensa em frente ao Campo Florido mesmo com a chuva. "Só vim trazer um chazinho para ninguém ficar gripado", afirmou.
A movimentação também atraiu curiosos. Muitas pessoas que passavam de carro pelo local aproveitaram para fazer vídeos. Já o casal Carlos Roberto Prudêncio e Marli Lopes Prudêncio foi de Valinhos até Vinhedo para acompanhar os trabalhos. "Vim dar uma olhada por curiosidade", afirmou o mecânico de automóvel.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram