VIOLÊNCIA

Vizinhos depredam casa do pai, acusado pelos maus-tratos

Residência localizada na periferia de Campinas teve o interior destruído

Guilherme Ferraz/ Correio Popular
03/02/2021 às 14:56.
Atualizado em 22/03/2022 às 08:06
Interior da casa destru?do e geladeira repleta de alimentos: menino comia apenas casca de banana (Importação)

Interior da casa destru?do e geladeira repleta de alimentos: menino comia apenas casca de banana (Importação)

A casa onde o menino de 11 anos foi encontrado pela Polícia Militar acorrentado dentro de um barril, no último domingo, foi invadida e depredada na noite de segunda-feira por vizinhos. Revoltados com a violência cometida contra a criança, eles invadiram a residência, localizada no Jardim Itatiaia, periferia de Campinas, e destruíram todo o interior. Armário, freezer, roupas e comidas foram jogados ao chão. Vidros, garrafas e ventiladores foram quebrados.

O ataque à casa criou um quadro desolador. A visão mais triste, porém, era da parte externa, onde ainda está o barril ao qual o garoto era mantido acorrentado, nu e com sinais de desnutrição e maus-tratos. A presença das correntes, do barril, da pia que servia para fechar o cativeiro e do pano usado para esconder a vítima chocam as pessoas que vão visitar o local.

Uma vizinha da família, que preferiu não se identificar, disse como a depredação ocorreu. "Algumas pessoas entraram por volta das 22h de ontem (segunda-feira) e quebraram tudo. Só não colocaram fogo pelo medo de atingir as casas vizinhas. Eu não acho errado não, pois estamos todos revoltados. O que fizeram com o menino é um absurdo", considerou.

O sentimento de indignação tomou conta dos moradores do Jardim Itatiaia. Outra vizinha, que também preferiu não ter o nome divulgado, disse que a população da região pretende voltar à residência. "Nossa intenção é tirar tudo de dentro da casa e doar para quem precisa. Tudo o que for de valor e a comida terão destinação. Tem muita comida lá", relatou.

Realmente, há bastante mantimento na casa. A geladeira está cheia, com carne, ovos, leite, sucos e verduras em seu interior. Uma situação que contrasta com a situação a alimentação fornecida ao menino, que era baseada em casca de banana e fubá cru, segundo informações da Polícia Militar. Para a psicóloga, Ana Lúcia Viccari, a forma e a circunstância como o menino foi torturado ganharam repercussão nacional e causaram revolta na população.

"O crime foi tão bárbaro que a decisão da população de invadir a residência e destruir tudo confrontou a racionalidade com sentimentos que ultrapassaram os limites da sabedoria. Do ponto de vista psicológico, há de se observar o enorme descontentamento da população frente a tamanha criminalidade", analisou. Ana Lúcia orienta sobre o risco de se fazer justiça com as próprias mãos. "Fazer justiça com as próprias mãos é muito perigoso, porque violência só tem o poder de gerar mais ira, brigas, indignação e descontrole emocional", advertiu.

Esse episódio, acrescentou a psicóloga, remete ao código penal brasileiro, que estabelece regras que devem ser seguidas por todos os cidadãos. "Sair por aí fazendo as próprias leis, acreditando estar fazendo justiça, não é conduta correta", concluiu a terapeuta. O menino segue internado no Hospital Ouro Verde e mesmo após ter sido torturado por cerca de um ano, seu estado de saúde é considerado estável. Segundo a equipe médica, ele chegou ao hospital com 27 kg e precisa alcançar os 35 kg para ter alta. No momento, o peso dele está por volta dos 30 kg. Os seis cachorros e dois gatos que viviam na casa foram resgatados por uma equipe especializada. A madrasta da vítima era conhecida no bairro por ser uma cuidadora de animais independente

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