O DIA SEGUINTE

Vítimas da tempestade vivem drama de contar os prejuízos

Moradores de Campinas e região limpam suas casas invadidas pela água

Verônica Guimarães e Henrique Oliveira
30/12/2022 às 09:01.
Atualizado em 30/12/2022 às 09:01

Equipes de trabalho de resgate a serviço da Prefeitura de Campinas ajudam os moradores do Beco do Mokarzel, em Sousas, a limpar as suas casas, inundadas pelo Rio Atibaia (Gustavo Tilio)

Contrariando o velho ditado popular de que "depois da tempestade vem a bonança", as vítimas do temporal da última quarta-feira sofreram bastante na quinta-feira (29) para limpar as suas casas, recuperar o que sobrou e contabilizar os prejuízos causados pela chuva que atingiu Campinas e região. Mesmo com a trégua no mau tempo, quinta-feira, os moradores passaram o dia em meio aos transtornos ocasionados pelos inúmeros alagamentos registrados em toda a cidade. Segundo a Prefeitura, foram 35 pontos de alagamento atendidos pelas equipes de socorro. Os prejuízos maiores se concentraram nos distritos de Sousas e Barão Geraldo que tiveram bairros atingidos com as cheias dos rios locais e casas invadidas pelas águas.

No Centro, a Rua Barão de Jaguara permaneceu interditada na quinta-feira para os serviços de recuperação de uma parte do asfalto, que afundou durante a tempestade. As equipes de recuperação finalizaram os serviços de escavação e manutenção, desobstruindo a galeria subterrânea existente ao longo da rua. A expectativa é de que o asfalto seja recolocado hoje. Assim, o trânsito poderá ser liberado na sequência.

A previsão do tempo, segundo o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), é para chuvas mais generalizadas no início desta sexta-feira, com possibilidade de pancadas e temporais isolados no período da tarde em toda a região. Para o fim de semana, são esperadas as chuvas típicas de verão, que ocorrem mais ao final da tarde, mas sem descartar tempestades severas. Chuvas mais volumosas são previstas a partir do dia 3 de janeiro.

O distritos de Sousas e Barão Geraldo sofreram alagamentos com o transbordamento dos rios Capivari e Atibaia. No primeiro distrito, moradores do Beco do Mokarzel tiveram suas casas invadidas pela água do Rio Atibaia, cujo nível subiu rapidamente durante a noite de quarta-feira. Já no distrito de Barão, moradores do Vale das Garças é que os que foram mais atingidos.

A quinta-feira foi de muita dificuldade e limpeza entre os afetados. O morador Donizete Aparecido, do Mokarzel, contou que perdeu quase tudo de sua casa. "Perdi colchão, sofá, quase tudo. Todo ano preciso comprar coisa nova pra casa. Agora é lutar para começar tudo de novo", lamenta.

É o caso do pintor João Pedro Souza, que mora ali há 28 anos e diz ter passado por cinco cheias em que teve prejuízos. "Fiquei em casa subindo minhas coisas, salvei tudo. Estamos na expectativa de que chova mais, acho que não vai dar mais enchente agora". O morador, após ter passado por episódios semelhantes em anos anteriores, providenciou por conta própria uma proteção na casa para tentar barrar a subida da água.

Já Mariana Pellatieri, professora da escola municipal do bairro, esteve na quinta-feira como voluntária para ajudar moradores que sofreram com a cheia e oferecer doações que arrecadou. "A gente já acompanhou isso em outros anos. A gente foi conversando e arrecadando as coisas para trazer para eles", conta ela, em relação aos demais professores e funcionários da escola. "Temos alunos que moram aqui. Tenho vínculo com a comunidade. É triste, né? Todo ano a mesma coisa. Perder tudo e no final do ano é muito difícil", contou.

A Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, por meio do Departamento de Operações de Assistência Social (Doas), atendeu a 30 famílias ainda na quarta-feira com refeições. Além disso, foram distribuídos 30 cartões Nutrir temporários e oferecido o Abrigo Zilda Arns, que foi recusado pelas famílias e continua à disposição da população.

No Vale das Garças, em Barão Geraldo, os moradores também aproveitaram a quinta-feira para limpar a sujeira e tentar minimizar os prejuízos causados com a enchente.

Caso da árvore que caiu no Bosque

Após realizar vistoria em um dos imóveis atingidos pela figueira branca de 35 metros - que caiu atravessada sobre a Rua General Marcondes Salgado ao lado do Bosque dos Jequitibás, matando uma pessoa -, fiscais da Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (Seplurb) e Defesa Civil intimaram os proprietários dos imóveis para o início das obras em até 20 dias sob pena de multa. A construção não teve a estrutura comprometida, já que teve duas salas atingidas com a tragédia. "Além da interdição, recebi uma intimação da Prefeitura com um prazo de 20 dias para iniciar as obras de reparo da casa, que se não for cumprido tem multa", conta Roberto Arruda, sobrinho da proprietária do imóvel. Segundo disse, apenas após as obras da casa é que a Prefeitura irá ressarcir o valor gasto. "Uma vergonha", protestou.

De acordo com a sobrinha da proprietária do imóvel, Adriana Junqueira, que acompanhou a vistoria técnica, a idosa estava dormindo no momento do ocorrido. "Ela foi acordada por policiais e bombeiros. Ela tem um sono bem profundo. A sorte é que ela estava no quarto que fica nos fundos da casa". Segundo a sobrinha, no dia anterior, elas (ela e a tia) conversaram sobre a árvore. "Ela até falou que, se a árvore caísse ia cair bem em cima da casa. E 24 horas depois aconteceu!", contou estarrecida. Adriana ainda falou sobre a vítima que foi atingida enquanto trafegava em um veículo, o técnico em eletrônica, Guilherme da Silva Oliveira Santos. "Poderia ter tido mais vítimas".

A construção sofreu interdição por segurança e a única moradora, a aposentada Célia Ribeiro, que está temporariamente na casa de uma irmã, tem acesso liberado (ela e familiares) para a retirada de pertences. O segundo imóvel atingido não teve vistoria realizada pela equipe por não ter nenhum responsável para acompanhar. O Bosque dos Jequitibás permanece fechado. A reabertura será avaliada diariamente. Para confirmar o funcionamento, os interessados podem ligar para a administração do bosque no telefone (19) 3231-8795.

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