LEMBRANÇAS

Visita de papa Leão XIV a Campinas deixou boas memórias

Robert Prevost esteve na cidade em 2008, quando era prior geral da Ordem de Santo Agostinho, e encantou fiéis e religiosos pela humildade e simplicidade

Bruno Luporini/[email protected]
10/05/2025 às 13:02.
Atualizado em 10/05/2025 às 15:07
A aposentada Maria Regina Mucci mostra álbum com fotos da visita do então prior (superior) geral da Ordem de Santo Agostinho, Robert Prevost, à Paróquia de Santo Antônio, em Campinas: alegria com escolha do novo papa (Kamá Ribeiro)

A aposentada Maria Regina Mucci mostra álbum com fotos da visita do então prior (superior) geral da Ordem de Santo Agostinho, Robert Prevost, à Paróquia de Santo Antônio, em Campinas: alegria com escolha do novo papa (Kamá Ribeiro)

Durante sua visita à Campinas em 2008, o então prior geral da Ordem de Santo Agostinho, Robert Francis Prevost, agora papa Leão XIV, deixou boas memórias e um sentimento de proximidade com as pessoas que estiveram com ele na Paróquia Santo Antônio, local onde também se encontra a Ordem dos Agostinianos, sediada na Avenida da Saudade. Ontem, o papa realizou sua primeira missa na Capela Sistina e destacou que durante seu papado a Igreja Católica deve ser um “farol que ilumina as noites do mundo” (leia mais na página A8). Natural dos Estados Unidos, Robert Francis Prevost, 69, é o segundo nascido nas Américas e o primeiro da ordem agostiniana. ele tem forte ligação com o Peru, país em que possui nacionalidade e onde atuou por mais de 40 anos.

A reportagem do Correio Popular ouviu fiéis e religiosos para entender como foi a experiência de encontrá-lo e qual é a expectativa para o papado que se inicia. A aposentada Maria Regina Mucci, que agora trabalha na Pastoral da Comunicação, se casou na Paróquia Santo Antônio há 49 anos. Ela e o marido eram coordenadores da liturgia quando o atual papa visitou o município. Ela contou que no dia foi ordenado um jovem frei agostiniano para diácono e que o então padre Robert, prior da Ordem Agostiniana de 2001 a 2013, foi muito atencioso com todos, transmitindo uma sensação de paz e carinho. Ela lembrou que na sacristia havia um quadro com a foto dele e que foi muito importante e emocionante para ela vê-lo pessoalmente. “Agora é o nosso papa Leão XIV”.

Maria Regina disse que recebeu a notícia de que o prior foi escolhido como o novo papa com espanto. “Eu estive com ele. Saber da notícia (da escolha para pontífice) foi uma alegria muito grande para mim e meus familiares”, relatou. Para ela, ser agostiniano é seguir os ensinamentos de Santo Agostinho, “conhecido como santo do amor”. É o sentimento que ela deseja para o novo pontificado. “É de amor que a humanidade mais precisa”. 

O pároco Jesús Caballero Fernandez lembrou que foi um momento muito importante receber Robert Prevost. “Você não programa que pode vir o prior geral de Roma, mas coincidiu naquela circunstância.” O encontro, segundo Fernandez, foi fraternal, uma vez que Prevost foi muito acolhedor, se mostrando próximo das pessoas e adotando um tratamento humilde. “Ele sempre procura estreitar os laços, de realmente criar pontes, é uma pessoa de muito bom caráter”, contou. Ao saber da notícia da nomeação do agora Leão XIV, o pároco relatou que ficou muito feliz e recebeu a informação com alegria. Ele ponderou, no entanto, que a partir de agora a relação não será tão próxima. “O encontrei algumas vezes na Casa Geral da Ordem, ao lado da praça do Vaticano, mas agora não é possível chegar lá para cumprimentar e abraçar ele, é realmente uma coisa que muda de uma hora para outra.”

Frei Reginaldo é vigário paroquial da igreja visitada pelo papa. Em 2008 ele não estava presente em Campinas, mas se encontrou com o frei Robert Prevost em dezembro de 2012, quando concelebrou a missa do Jubileu de Ouro da Delegação Agostiniana de Malta no Brasil, celebrada no Parque Novo Mundo, em São Paulo. Frei Reginaldo lembrou que a convivência com o então prior da ordem foi muito boa e tranquila. “Ele fala o espanhol com tanta clareza que podíamos compreendê-lo facilmente. Sua simplicidade era visível”, relatou ao lembrar que ele almoçava e jantava com os irmãos da casa agostiniana. “Ele experimentou nossa comida brasileira e com muita alegria recebeu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.” O Santo Padre visitou o Brasil algumas vezes. No Estado de São Paulo, além da capital, esteve em Campinas, São José do Rio Preto, Bragança Paulista e no Santuário da Nossa Senhora Aparecida.

O engenheiro civil, Antônio Leite de Almeida Júnior, 58, sempre que passa pela região da avenida da Saudade passa pela paróquia, local onde foi batizado. “Vi uma imagem dele (Leão XIV) aqui e foi uma surpresa para mim”. O fato do novo papa ser da Ordem de Santo Agostinho foi destacado por Antônio Leite pelo fato de ser um homem com vivência na irmandade, que caminha junto ao povo e que conhece as demandas populares da América do Sul. “A nossa igreja celebra a escolha desse papa. Nós o acolhemos, e que ele possa continuar a obra de Francisco, que foi maravilhosa.” Dessa forma, Antônio Leite entende que o caminho a ser seguido pelo novo papa deve coincidir com o caminho do povo, priorizando os mais humildes. “Com certeza ele vai manifestar ações concretas nesse direcionamento.”

ESCOLHA DO PAPA

O teólogo Luiz Sleutjes explicou que, em geral, os agostinianos são missionários, conhecidos por serem ótimos teólogos. Assim como Santo Agostinho, defendem a fé com princípios filosóficos. “Robert Prevost tem uma espiritualidade que leva à racionalidade, com inteligência intelectual e emocional, mas também, como a gente pôde ver na sacada da Basílica, é alguém que se emociona, humano”, analisou. Para o teólogo, pelo histórico e comportamento, Leão XIV dará continuidade ao pontificado do papa Francisco, “que é o de transitar entre várias realidades extremas”.

Sleutjes lembrou que, apesar de ser natural dos Estados Unidos, “país mais poderoso do mundo”, Prevost exerceu seu ministério como bispo de uma diocese afastada do centro do poder, no Peru, transitando entre as Américas, o que permitiu que ele atuasse como ponte entre os extremos de riqueza e pobreza. Por isso, afirmou o teólogo, é possível afirmar que, assim como Francisco, o novo papa dará preferência às questões envolvendo as pessoas mais empobrecidas, englobando todas as periferias existenciais, como guerras, conflitos políticos e econômicos, além de um olhar para as questões ecológicas. “São temas que farão parte do debate, como o eixo da dinâmica eclesial deste pontificado.” 

Luiz Sleutjes refletiu que a escolha de um norte-americano não é apenas uma tendência ou coincidência. Para ele, a escolha de Robert Prevost é uma resposta às decisões do atual governo estadunidense. “Com as guerras tarifárias, as propostas de fazer uma limpeza ideológica dos migrantes, de alguém que quer colocar a América em primeiro lugar em detrimento do resto do mundo”. Para o teólogo, a atitude da Igreja Católica foi a de escolher alguém que está autorizado, pelo cargo que ocupa, a defender e se posicionar em consideração a todas as pessoas que passam por algum sofrimento. “Não é uma postura de esquerda ou direita, mas é uma coerência com o Evangelho, uma coerência com a própria fé e todas as religiões.”

O pároco Jesús Fernandez destacou que Robert Prevost é bacharel em Matemática, mestre em Teologia e doutor em Direito Canônico. “Ele tem muita experiência tanto de governo quanto pastoral, portanto, ele tem capacidade para lidar com situações conflitivas.” Fernandez destacou que é preciso ter coragem para enfrentar os desafios globais e enfrentar divergências entre as lideranças mais poderosas do mundo, postura que já foi vista na época em que Leão XIV era prior geral da ordem dos agostinianos. “Foi uma experiência onde ele pôde conhecer o mundo inteiro. Agora, nomeado papa, vai guiar seu trabalho pelos sensos de paz e justiça.”

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