EM CAMPINAS

‘Visão do Amanhã’ inicia consultas oftalmológicas de alunos da rede municipal

Serão 14 mil estudantes contemplados pelo programa; exames começaram há cerca de duas semanas

Da Redação
06/04/2024 às 09:01.
Atualizado em 06/04/2024 às 09:01

Falta de óculos atrapalha os estudos e contribui para a repetência e evasão escolar: ‘quanto mais cedo forem feitos os exames, melhor’ orientou o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto (Divulgação)

"Vó, meus óculos chegaram?". Essa é a pergunta que a aposentada Nilda Maria de Paula, de 62 anos, mais responde para a neta, desde a última terça-feira, 2 de abril. A pequena Analu de Paula Gomes, de 5 anos, aluna do Centro de Educação Infantil (CEI) Reino Encantado, no Parque Fazendinha, integra um time de 14 mil alunos da rede municipal de ensino de Campinas que está recebendo consultas oftalmológicas e, quando necessário, óculos, de graça, por meio do Programa Visão do Amanhã. O investimento da Secretaria Municipal de Educação, para o período de um ano, é de R$ 1,1 milhão. As consultas começaram há duas semanas.

O programa Visão do Amanhã é realizado em parceria com o Instituto Penido Burnier e a Oftalmocenter, ambos credenciados pela Secretaria de Educação para atender os estudantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Neste período de 14 dias, o Penido Burnier atendeu 149 alunos, sendo que, do total, 103 saíram do consultório com uma receita de óculos em mãos. Quando há a orientação para usarem as lentes, os alunos são encaminhados para os núcleos de Ação Educativa Descentralizadas (Naeds), onde escolhem o modelo de óculos, como aconteceu com a Analu.

Foi a primeira vez que ela escolheu o par de óculos. A diversidade de cores e modelos à sua disposição encantou a menina. Se pudesse, escolheria vários, conta, mas optou pelo rosa. "Esse programa é muito bacana. Tudo foi muito rápido, os exames, a consulta e em 30 dias ela já vai estar com os óculos. Se deixasse, ela os traria para casa naquele dia", contou a avó de Analu, a aposentada Nilda.

Segundo o médico oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, a falta de óculos também é responsável pela repetência e evasão escolar. "Quanto mais cedo forem feitos os exames, melhor", explica. Ele contou que um dos alunos atendidos vai precisar de cirurgia após ser diagnosticado com estrabismo. "A cirurgia vai ser realizada pela Fundação Penido Burnier", explicou o médico. O estudante não terá nenhum custo.

CONSULTAS

De acordo com dados da Fundação Penido Burnier, que são baseados em consultas realizadas com alunos da rede municipal em anos anteriores, 43,9% dos estudantes apresentaram miopia, 33,9% hipermetropia e 22,2% astigmatismo. Sete por cento dos estudantes foram diagnosticados com estrabismo e 8% com ambliopia (quando uma das vistas não é estimulada e há queda de visão). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 7,5 milhões de crianças em idade escolar tenham algum tipo de deficiência visual. Uma a cada quatro apresentam sintomas. 

VISÃO DO AMANHÃ

A primeira fase do Programa Visão do Amanhã foi realizada no primeiro semestre do ano passado. Na ocasião, os profissionais da Educação, após formação prévia, aplicaram o teste de Snellen nos alunos, método desenvolvido pelo oftalmologista holandês Herman Snellen no século XIX, com o intuito de fazer uma primeira triagem. A Tabela de Snellen é um gráfico composto por letras ou símbolos de diferentes tamanhos, organizados em fileiras e colunas. Ela é utilizada para medir a acuidade visual de uma pessoa, ou seja, a capacidade de enxergar detalhes finos a uma determinada distância.

Em seguida, os alunos fazem os exames com aparelhos nos consultórios. "Oferecer esse serviço, certamente, contribui para a permanência dos alunos na escola. Sem contar que é uma forma de permitir que todos os estudantes tenham condições de usufruir a escola de forma integral", disse o Secretário Municipal de Educação, José Tadeu Jorge. O programa Visão do Amanhã vai realizar anualmente, sempre no primeiro bimestre, exames de acuidade visual nos alunos da rede. Em seguida, serão feitas as consultas. Estão incluídas, nelas, todos os exames necessários.

HISTÓRICO

Em junho de 2023, o Correio Popular detalhou, em entrevista exclusiva concedida pelo presidente do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, os planos com a Prefeitura para fazer a avaliação oftalmológica e doação de óculos para estudantes da rede municipal. Meses depois, em dezembro, em nova entrevista ao Correio Popular, Neto voltou a falar sobre o projeto.

Ele explicou que é particularmente desafiador para uma criança reconhecer problemas de visão, dado que a patologia não faz parte do entendimento infantil. Consequentemente, a criança pode desconhecer que sua visão está comprometida, como no caso de visão embaçada, até que receba óculos. Ele acrescentou que, muitas vezes, a criança não tem a noção de que a sua dificuldade visual pode ser corrigida. "Portanto, ela pode se mostrar impaciente, sem compreender plenamente o que está acontecendo. Quando ela passa a compreender, experimenta uma tranquilização e consegue acompanhar seus colegas no mesmo nível, gerando não apenas um impacto positivo no aprendizado, mas também emocionalmente."

Na ocasião, foi reforçado que o objetivo é transformar o projeto em um programa contínuo, assegurando avaliações anuais para todos os estudantes da rede. O secretário José Tadeu Jorge destacou à época que o projeto abrange todo o ciclo, proporcionando desde avaliações médicas até a disponibilização gratuita de óculos.

"Este é um projeto que se tornará um programa, será perene, contínuo e inovador. Já percorremos todo o trajeto e realizamos testes. Implementamos uma vez e conseguiremos repetir a cada ano, tanto para novos alunos quanto para aqueles que já passaram por ele. Manter um acompanhamento periódico daqueles que receberam prescrição de óculos também é crucial para garantir o cuidado contínuo com a visão a cada ano. As crianças crescem, e a necessidade de novos óculos surge. Dessa forma, asseguraremos um cuidado abrangente para nossos alunos", ressaltou o secretário.

Leôncio Queiroz Neto enfatizou sua aspiração de que o projeto sirva como um modelo para outras cidades. Como defensor de uma política social de acesso a óculos, similar a modelos adotados em outros países, ele sustenta a crença de que assegurar a saúde visual desde os primeiros anos de vida pode desencadear transformações significativas.

"O cerne do nosso programa é proporcionar às crianças a oportunidade de se integrarem plenamente e compreenderem o mundo ao seu redor. Nossos jovens campineiros merecem atenção especial em seu desenvolvimento, e isso só é viável por meio de políticas públicas eficazes e parcerias como esta", analisou ainda em dezembro.

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