A cobrança feita pelo Doria por mais segurança nos aeroportos paulistas que estão em espaço federal gerou mal-estar no Ministério de Infraestrutura
A cobrança feita pelo governador João Doria (PSDB) por mais segurança nos aeroportos paulistas que estão em espaço federal — casos de Viracopos (51% nas mãos da Infraero e o restante com o consórcio privado) e Cumbica — gerou mal-estar no Ministério de Infraestrutura. Ao ser questionado ontem sobre se haveria alguma medida federal para auxiliar nos sistemas de segurança dos aeroportos, o Ministério respondeu, em nota, que o problema está relacionado ao crime organizado instalado no Estado paulista. Anteontem, um grupo de aproximadamente 20 homens invadiu Viracopos, protagonizando um mega-assalto e cenas de terror e pânico entre passageiros e funcionários. Três integrantes da quadrilha morreram — dois agentes de segurança, um policial militar e uma mulher ficaram feridos. Na 1ª semana de agosto, criminosos levaram duas toneladas de ouro de Cumbica. “Os fatos recentemente ocorridos em dois aeroportos do estado de São Paulo são uma questão de segurança pública e envolvem o enfrentamento ao crime organizado”, informou o órgão. Fontes do governo federal ouvidas também ontem à tarde disseram ao Correio que o governador está tentando empurrar para o governo federal, uma responsabilidade que é dele. Por meio de sua assessoria de imprensa, o governador João Doria reiterou que mantém o que disse na coletiva de quinta-feira. Normas internacionais “No âmbito da Comissão Nacional das Autoridades Aeroportuárias (CONAERO), por meio do Comitê Técnico de Segurança da Aviação Civil (CTSAC), está em discussão permanente o aprimoramento de procedimentos de segurança da aviação civil brasileira, em harmonia com o que há de mais atual em relação às normas internacionais”, finalizou o ministério na nota. Governador “Não é possível que em menos de 90 dias, dois aeroportos administrados no plano federal sofram assaltos em situação muito similar, com a utilização de veículos clonados”, disse o governador na noite de quinta-feira. “É importante que o governo federal tenha um plano de contingência para melhorar o policiamento e impedir o ingresso de bandidos em áreas não autorizadas”, acrescentou Doria. Informações A Agência Nacional Aviação Civil (Anac) informou ontem que “está solicitando ao operador aeroportuário (no caso a concessionária ABV) informações sobre as ações ocorridas” . “Este procedimento é protocolar. As informações geram um relatório, que se torna objeto de análise pela Anac para verificação de eventuais medidas que não estejam em conformidade com as normas de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita (AVSEC)”, informa o órgão. 'Qual empresa enfrenta quadrilhas com arma de guerra?' A Concessionária Aeroportos Brasil Viracopos (ABV) — que administra o Aeroporto Internacional de Campinas — reagiu ontem às críticas que vem recebendo, depois do ataque de um grupo de criminosos — que na manhã de quinta-feira invadiu o terminal de cargas para roubar um carregamento de dinheiro. “Qual empresa consegue enfrentar quadrilhas de posse de armamentos pesados de guerra?”, rebateu a concessionária por meio de uma nota oficial. “Vale lembrar que, no período de um ano e meio, as áreas restritas dos três maiores aeroportos de carga do Brasil (Galeão, Guarulhos e Viracopos) foram invadidos por criminosos fortemente armados, evidenciando que este é um problema nacional de Segurança Pública”, acrescenta a ABV. “Preocupa o posicionamento de alguns setores que, em vez de abordar a grave questão da Segurança Pública e do combate do crime organizado, fez parecer que as empresas que sofreram a ação criminosa são responsáveis por supostas falhas de segurança”, questiona a concessionária. Na nota, a concessionária garantiu que “cumpre com todos os requisitos regulamentares de segurança prevista no setor” e garantiu que o acionamento de todos os procedimentos ocorreu imediatamente à invasão dos dois veículos com os criminosos por um dos portões de segurança. A concessionára lembra, ainda, que os procedimentos de segurança foram aprovados pela Anac conforme o PSA (Programa de Segurança Aeroportuária) apresentado pela concessionária. Na nota, a concessionária diz que cumpre também com a realização de simulações e exercícios anuais em parceria com as forças policiais, buscando a validação dos procedimentos vigentes, conforme diretrizes das normas da Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita. Diz que, recentemente, a Polícia Federal aprovou, por solicitação da concessionária e da Brink’s, o uso de armamento ostensivo em área do Terminal de Carga, ainda que muito inferior ao usado pelos criminosos, o que contribuiu na reação o crime.