RISCO NO AR

Viracopos registra aumento de colisões entre urubus e aviões

Foram 79 casos em 2022; 14 aeronaves sofreram algum tipo de dano

Israel Moreira e Alenita Ramirez
16/03/2023 às 08:14.
Atualizado em 16/03/2023 às 08:14
A maior presença de urubus nas imediações do Aeroporto de Viracopos fez com que aumentasse, durante o ano passado, o número de colisões entre essas aves e aviões (Osvaldo Furiatto/Mira e Clica)

A maior presença de urubus nas imediações do Aeroporto de Viracopos fez com que aumentasse, durante o ano passado, o número de colisões entre essas aves e aviões (Osvaldo Furiatto/Mira e Clica)

O número de aeronaves danificadas em colisões contra urubus, durante operações de pouso ou decolagem no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, aumentou 180% em 2022 em comparação com 2021. Conforme a gerente de segurança operacional do aeroporto, Rosa Maria Brollo Fernandes, no ano passado foram registradas 79 colisões dessas aves contra aviões, sendo que 14 aparelhos tiveram danos. No ano anterior, apesar de o número de impactos ter sido 18,8% maior (93 casos), somente cinco aeronaves sofreram estragos. 

"O impacto de um urubu contra um avião pode causar rombo na fuselagem, quebrar o para-brisa ou ainda provocar a falha de uma turbina, pois a ave pode ser sugada. Se as duas turbinas forem atingidas por uma ave, o risco de uma queda do avião é muito grande. Por isso, é importante a conscientização da população para não descartar lixo que possa atrair urubus no entorno do aeroporto, em especial nas cabeceiras", frisou Rosa Maria. 

Para a gerente em segurança, o aumento do número de danos em aeronaves se deu em virtude da maior presença de urubus nas proximidades do terminal aéreo, provocado justamente pelo crescimento no descarte de carcaças de animais, normalmente feito por moradores de bairros das imediações. De acordo com Rosa Maria, no segundo semestre de 2022 foi registrado um aumento significativo na localização de carcaças em comparação com o primeiro semestre do mesmo ano. Entre janeiro e junho do ano passado foram achadas quatro carcaças, enquanto que entre julho e dezembro foram localizados 22 restos de frangos, lebres, cachorros e gatos, entre outros animais. 

"O descarte de animais mortos tem que ser feito em locais apropriados. O lixo doméstico e o entulho não devem ser jogados em terrenos ao ar livre, pois com eles vem o lixo orgânico que atrai animais como os urubus", destacou a gerente.

De acordo com Rosa Maria, um urubu pesa aproximadamente 1,5 kg e a velocidade de uma aeronave no momento do pouso é de 300 km/h. O impacto numa situação como essa faz com que o peso do animal equivalha a sete toneladas. Ou seja, o choque tem capacidade de derrubar o aparelho. "Temos um comitê de gerenciamento de risco da fauna nas proximidades de Viracopos. A finalidade do grupo é definir ações para diminuir os riscos. A gente faz ronda constantemente e quando detectamos algo que gere risco, acionamos a Prefeitura para retirar. Nossa função é ajudar na aplicação das ações", explicou a gerente. 

Segundo Rosa Maria, uma das ações realizadas em conjunto com a Prefeitura ocorre na área de educação. Todo ano, profissionais de segurança do aeroporto promovem palestras educativas para alunos da rede pública de ensino nos bairros do entorno do terminal aéreo. Nos encontros, os especialistas orientam sobre os riscos de soltura de pipa, de balões, de mirar caneta-laser na direção da cabine dos aviões e descarte de lixo. "São brincadeiras inocentes, mas podem levar a um acidente aéreo. Uma pipa pode entrar no motor do avião, o cerol pode cortar alguma peça e a luz da caneta pode causar a cegueira do piloto", enumerou. 

Nos encontros, é entregue material ilustrativo e educativo. Cerca de três mil estudantes são atingidos anualmente pela iniciativa. "O nosso trabalho é longo, pois busca mudar a cultura das pessoas. Então, temos que começar pela base, e tentar formar cidadãos conscientes. Essas pessoas moram 'debaixo' dos aviões e precisam ter consciência do que estão fazendo, pois podem derrubar as aeronaves sobre suas casas", alertou.

O trabalho de fiscalização na parte externa de Viracopos tem apoio da Patrulha Rural e Ambiental da Guarda Municipal (GM) de Campinas. Segundo o superintendente da base Sul, Marcos Tadeu Peixoto, há sempre localização de animais mortos em pontos de descartes clandestinos nos bairros como São Domingos, Cidade Singer e adjacentes. "Já localizamos até carcaça de boi. A presença de urubus é muito grande nesses locais e o risco é real. Apesar de a patrulha ser constante nestas regiões, é difícil flagrar os autores. É preciso ter conscientização", pediu o guarda municipal.

Moradores

A preocupação da Guarda Municipal também reflete na visão da população local. A reportagem do Correio Popular ouviu os moradores da região próxima ao Aeroporto Internacional de Viracopos. Eles foram unânimes ao relatar o descarte de animais domésticos mortos nas margens das rodovias como sendo o principal motivo do mau cheiro, acúmulo de sujeiras e, consequentemente, a aglomeração de urubus perto do aeroporto. Na Rodovia Lix da Cunha, altura da Vila Palmeiras II, a moradora Thais Daniele da Silva confirmou que o descarte doméstico é constante. "Infelizmente, somos obrigados a conviver com o descarte, principalmente de animais, por moradores da região e desconhecidos. Motoristas chegam próximos à rodovia, abrem os porta-malas dos carros, jogam os animais mortos e saem em disparada", relatou. 

Para Antonio Moreira, funcionário do Departamento de Limpeza Urbana (DLU) de Campinas, que estava trabalhando na Vila Palmeiras 2, animais mortos fazem parte da paisagem da região. "Além da população em geral que descarta animais mortos por toda rodovia, há também cachorros e gatos que são atropelados, mas não são retirados do local", contou.

De acordo com Elenice Nunes Gonçalves, moradora do Jardim Itaguaçu 1, a situação é lamentável. "As pessoas jogam animais aqui na rodovia. Além de ser um absurdo, é um desrespeito com os outros moradores.", lamentou. Para Elenice, as pessoas estão transformando o que deveria ser motivo de orgulho em vergonha. "É com muita tristeza que digo isso, mas é uma vergonha. É duro lutar tanto para ter a nossa casa, nosso canto, mas ver pontos do bairro serem transformados em lixão ao ar livre". 

DLU

Segundo o Alexandre Gonçalves, diretor do Departamento de Limpeza Urbana, mensalmente o órgão retira do entorno de Viracopos aproximadamente 500 toneladas de lixo, entre materiais da construção civil, móveis velhos e animais mortos. Para Alexandre, a área, por ser basicamente rural e com presença de muitos animais, também é cortada por rodovias, o que facilita o descarte por parte da própria população e a possibilidade de fuga rápida.

"O nosso efetivo na região é reduzido, porque basicamente é operacional e não fiscalizador. Temos dois caminhões e uma retroescavadeira, o suficiente para remoção de lixo todos os dias", explicou. Segundo o diretor do DLU, o apoio do efetivo da Administração Regional (AR12) é fundamental para a realização da limpeza de todo o entorno de Viracopos. "Não descartamos a possibilidade real de aumento do efetivo. Iremos pleitear isso junto à Administração," completou.

Em janeiro deste ano, segundo o DLU, houve a assinatura de contrato entre o órgão e uma cooperativa de material reciclável que atua na região. "Nada nos impede de firmar parceira com a cooperativa para a conscientização dos moradores quanto ao descarte irregular e até criminoso de animais mortos na região. Podemos informar a comunidade sobre os riscos e malefícios da continuidade dessa prática, principalmente nas proximidades dos pontos de pouso e decolagem da Viracopos", finalizou Alexandre

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