ALERTA GERAL

Violência contra grupos mais vulneráveis cresce na região de Campinas

Em 2022, foram registradas 2.886 casos, sendo 2.713 somente em Campinas

Da Redação
14/12/2023 às 08:49.
Atualizado em 14/12/2023 às 08:49
As notificações de violência contra as pessoas de 60 a 69 anos foram responsáveis por quase metade do total dos registros entre 2018 e 2022 (Kamá Ribeiro)

As notificações de violência contra as pessoas de 60 a 69 anos foram responsáveis por quase metade do total dos registros entre 2018 e 2022 (Kamá Ribeiro)

As notificações de violência contra crianças, adolescentes, idosos e mulheres - grupos considerados mais vulneráveis - em Campinas atingiram um recorde histórico no Sistema de Notificação de Violências (Sisnov), que integra dados da saúde, assistência social e educação. O alerta foi emitido por meio da 16ª edição do Boletim Sisnov, divulgado na quarta-feira (13) pela Secretaria Municipal de Saúde. Em 2022, foram registradas 2.886 ocorrências, sendo 2.713 exclusivamente entre residentes de Campinas, representando um aumento de 25,1% em comparação ao ano anterior. Desde o início da série histórica em 2009, Campinas acumula 24.628 notificações, revelando uma tendência de crescimento, com exceção dos anos de 2019 e 2020.

O levantamento apresentado pela Secretaria de Saúde é o mais detalhado da série histórica e faz parte das iniciativas em comemoração aos 250 anos de Campinas, que serão celebrados em julho de 2024. Elaborado em colaboração com as áreas de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Educação e Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública de Campinas, o documento abrange dados de 2018 a 2022.

O relatório destaca que os registros diminuíram no início da pandemia de covid-19, mas apresentaram um crescimento significativo com a recrudescência da mesma, a partir de 2021, coincidindo com o avanço da cobertura vacinal contra a doença. Juliana Bassul, responsável técnica pelo Sisnov, enfatizou que a violência é um fenômeno complexo e muitas vezes estigmatizado, exigindo uma abordagem cuidadosa. "Precisamos discutir mais sobre essa temática, e o boletim consegue, em parte, evidenciar esse perfil e apontar áreas prioritárias para garantir uma sociedade mais justa e livre da violência", avaliou.

Com um aumento expressivo a partir de 2021, a cidade de Campinas registrou 2.886 notificações em 2022, marcando o maior número já documentado desde a adoção do boletim pela Administração Municipal. Desse total, 2.713 notificações referem-se a residentes de Campinas, sendo que 65 deles buscaram atendimento em serviços fora da cidade, enquanto 173 pessoas de outros municípios foram atendidas na metrópole.

Durante o período de 2021 até o ano passado, o sistema identificou um aumento nos casos em todas as faixas etárias a partir dos 10 anos, uma referência que marca o início da adolescência com base no ciclo de vida, diferenciando-se da divisão etária estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. No intervalo de 2018 a 2022, foram notificadas 10.659 ocorrências, equivalendo a 43,2% do total.

O boletim destaca que a maior quantidade de notificações nos últimos quatro anos foi realizada pelas unidades da Secretaria Municipal de Saúde, totalizando 5.641 notificações (54%). Em seguida, as unidades da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos contribuíram com 3.144 notificações (30%), enquanto a Unicamp/Caism registrou 835 notificações (8%). Esses três grupos somam 90,3% das notificações. Vale ressaltar que, considerando apenas os residentes em Campinas, o total de 2022 também atingiu um recorde.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O levantamento revela um aumento nas notificações de violência contra crianças e adolescentes a partir de 2021. No entanto, no ano subsequente, observou-se uma redução nos casos envolvendo crianças, enquanto o grupo de adolescentes experimentou um novo aumento.

Desde 2018, a maioria das notificações de violência contra crianças e adolescentes foi direcionada a vítimas do sexo feminino, representando 55,1% das crianças e 63,4% dos adolescentes. Quanto ao tipo de violência relatada, as notificações referentes a crianças predominantemente envolviam negligência (42,7%), seguida por violência sexual (27,3%). Já para adolescentes, a violência sexual foi mais frequentemente notificada (23,2%), seguida por tentativas de suicídio (20,8%).

As estatísticas revelam que os principais autores de violência contra crianças foram os cuidadores diretos (mãe, pai, madrasta, padrasto), enquanto para adolescentes, os próprios indivíduos foram os principais perpetradores, conforme informado no boletim.

MULHERES

O levantamento destaca que a violência contra mulheres é um sério problema de saúde pública, apresentando um aumento significativo desde 2020 em todas as faixas etárias. A faixa etária predominante para casos notificados situa-se entre 30 e 59 anos.

A violência física foi o tipo mais frequentemente notificado, totalizando 46,3%, seguida por tentativas de suicídio, com 27,5%, e uma tendência de aumento nos últimos dois anos. Uma observação relevante é o aumento nas notificações em que a própria vítima foi a autora, representando 31% das notificações em 2022, correlacionado ao aumento nas tentativas de suicídio desde 2020.

Os cônjuges foram apontados como autores em 24% (2021) e 25% (2022) das notificações, enquanto a combinação de cônjuge e pessoa próxima ou familiar representou 37% e 39%, evidenciando a proximidade do agressor com a vítima.

IDOSOS

Considerando o período de 2018 a 2022, notificações de violência contra pessoas de 60 a 69 anos foram responsáveis por quase metade do total. Houve aumento também nas faixas de 70 a 79 anos e 80 anos ou mais no último ano. As principais vítimas foram do sexo feminino.

A violência física foi o tipo mais notificado em idosos, alcançando 35,4%, seguida pela negligência, com 23,7%. No ano de 2022, destacou-se o aumento nas notificações de violência física, negligência e tentativa de suicídio. Mais da metade das notificações envolveram pessoas próximas à vítima, com filhos e netos predominando como autores.

SUÍCIDIO

Houve um aumento progressivo nas notificações de tentativas de suicídio em Campinas de 2020 a 2022, predominantemente entre a população feminina. A maioria das notificações ocorreu em indivíduos de 20 a 59 anos, residentes no distrito Sul.

O novo Boletim Sisnov destaca a importância do combate à violência, enfatizando a necessidade de ações de vigilância para desenvolver estratégias eficazes. A notificação é fundamental para compreender o perfil da violência, permitindo intervenções e ações preventivas. Abordagens intersetoriais e a formação de redes de atendimento são indispensáveis para a efetiva prevenção e promoção da saúde. A Prefeitura reitera o compromisso com a sensibilização contínua e aprimoramento da qualidade dos dados de violência, destacando a importância de abordagens diferenciadas nas escolas, unidades de saúde e demais serviços.

O Sisnov é um sistema destinado à notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência interpessoal, intrafamiliar ou urbano-comunitária (contra mulheres, crianças e adolescentes, idosos e violência sexual), além de violência autoprovocada (tentativa de suicídio). A rede municipal que utiliza o Sisnov/Sinan como ferramenta de notificação é composta por unidades de saúde, serviços da Unicamp, serviços de assistência social, unidades de educação, segurança pública, Conselho Tutelar e dados de outros municípios.

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