‘Linchamento de políticos’ será substituído por boneco recheado de guloseimas
Rapaziada do Bloco Da Pegada, da Vila Costa e Silva, recebe o bonecão cheio de balas e doces para a tradicional festa de Malhação de Judas, que acontecerá na manhã deste Sábado de Aleluia, com muito samba e alegria (Divulgação)
Decorridos três anos de suspensão das atividades religiosas e culturais presenciais por conta da pandemia da covid-19, as celebrações da Semana Santa retornaram com força total este ano. Programada para a manhã deste Sábado de Aleluia, uma das atividades mais aguardadas pela população é a tradicional Malhação de Judas, do bairro Vila Costa e Silva, que, ao contrário das versões anteriores, poupará políticos e personalidades malquistas da população de serem "malhadas" em praça pública. Dessa vez, os bonecos simbolizando Judas serão recheados com balas e doces para a alegria da garotada, estreando um novo conceito para esta centenária tradição, introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses.
A Vila Costa e Silva é um dos poucos bairros que ainda mantêm viva essa tradição entre os seus moradores. Na manhã deste sábado, o Bloco Da Pegada realizará o seu cortejo musical e, ao final da apresentação, a malhação do Judas fará a alegria das crianças que participam da festa. O presidente do bloco e um dos organizadores da malhação, Wagner Furtado da Costa, o Wagnão, conta que a manifestação foi sofrendo transformações ao longo do tempo. "Quando iniciamos com o Bloco do Pingão em 1994, Pedro, eu e o Carlão, os três fundadores, queríamos juntar a paixão por sambas-enredos com a tradição da malhação do Judas. E deu certo. No primeiro ano, cantamos muito samba e malhamos o Judas, que tinha o rosto do ex-presidente Collor. Hoje, até temos várias opções políticas para representar o Judas, mas decidimos optar por manter o samba e divertir as crianças. Mudamos o nome do bloco em 2006, mas permanecemos manifestando nas ruas", completou o presidente.
Trazida por espanhóis e portugueses, o ritual de "Malhar o Judas" é uma tradição praticada há muitos anos pelos cristãos, que consiste em bater e atear fogo em um boneco feito artesanalmente, representando a morte do apóstolo Judas, em virtude de sua traição a Jesus. A Malhação de Judas simboliza a morte de Judas Iscariotes, o apóstolo que entregou a localização de Jesus aos romanos por moedas. No dia seguinte à crucificação, Judas foi encontrado morto, enforcado em uma árvore. Como Judas foi considerado um traidor na tradição católica, muitas pessoas queriam desforra.
A prática de Malhar o Judas ainda é muito comum no Brasil, apesar de o costume praticamente ter sido banido das grandes cidades por falta de locais adequados e dos perigos que representa. No interior, entretanto, a tradição continua viva e os bonecos de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública e galhos de árvores, são rasgados e queimados no Sábado de Aleluia. O Judas queimado é uma personalização das forças do mal e constitui vestígio de cultos agrários, em muitas partes do mundo. Vários historiadores registraram o uso, quase universal, de festas de alegria no início e fim das colheitas, para obter melhores resultados nos trabalhos do campo.
O historiador José Moraes dos Santos Neto, um dos organizadores do Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destacou que a manifestação de Malhar o Judas remete a uma tradição antissemita europeia do final da Idade Média para a Idade Moderna. "O conceito de malhação do Judas surge junto a outras questões e expressões da época que remetiam aos judeus como se fossem os responsáveis por todos os problemas com início do capitalismo. Os judeus eram comerciantes, já habituados à realidade social, e as crises econômicas não os afetavam diretamente. Expressões como "judiar ou ratos que roubam" tem a mesma origem antissemita. No Brasil, os primeiros registros dessas manifestações culturais, foram a partir do século XVII nas regiões de agrupamentos urbanos como Recife e Salvador, então capital do país." No século XVIII, já com a capital do Brasil no Rio de Janeiro, as malhações do Judas vão ganhando representações diversas e se incorporando à realidade social brasileira.
Em Campinas, a Vila Industrial foi centro dessas manifestações no início do século XX. Na região próxima à Igreja de São José e Beco Manoel Dias, ocorriam as tradições populares e o Judas traidor era uma delas. O livro do historiador Benedito Barbosa Pupo, 8 Bananas e Por Um Tostão, relata muito bem a Vila Industrial de 1900 a 1920 e suas manifestações culturais, completou Moraes dos Santos Neto.
Catolicismo
Na Catedral Metropolitana, como já é tradição, haverá celebrações durante toda sexta-feira e no Domingo de Páscoa. O Tríduo Pascal, sendo os três momentos mais importantes da semana, iniciou na manhã de quinta-feira com a instituição do Sacerdócio. À noite, a Igreja Católica reviveu o ritual da última ceia e a missa do Lava-pés, quando Jesus lava os pés dos 12 apóstolos antes da prisão e crucificação.
Segundo o padre Antônio Alves, da Paróquia São Marcos, a Semana Santa é de suma importância para os católicos, pois é o momento que se revive o mistério pascal de Cristo. "O dia de hoje é o chamado para o caminho da cruz. Chegando ao calvário, local de crucificação de Jesus, meditamos o mistério, a grande hora e o momento que Deus revela o seu amor pela humanidade através da paixão de Cristo", relembrou o padre. Já o Sábado de Aleluia é o dia de luto da Igreja. Não há missas ou celebrações, apenas as preparações para a vigília pascal de domingo, dia da Ressurreição de Cristo, celebrado por missas durante todo o dia.
CONFIRA AS CELEBRAÇÕES
SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO - 7 DE ABRIL
6h às 12h Vigília Eucarística
7h - Ofício Divino (Leituras)
8h - Ofício Divino (Laudes)
9h -Ofício Divino (Hora Média)
12h - Ofício Divino (Hora Média)
15h - Celebração da Paixão (Dom Inácio Müller)<TB>18h30 Procissão do Senhor Morto (saindo da Basílica de Nossa Senhora do Carmo em direção até Catedral) e Canto da Verônica.
SÁBADO DE ALELUIA - 8 DE ABRIL
Catedral ficará fechada até às 18h
9h45 Lavagem da escadaria da Catedral (concentração Estação Cultura e cortejo pela rua de 13 de maio)
19h Vigília Pascal na Noite Santa (os fiéis devem levar velas)
DOMINGO DE PÁSCOA - 9 DE ABRIL
7h30 Missa do Dia
09h30 Missa Solene do Dia (Dom Inácio Müller)
11h30 Missa do Dia
17h Missa do Dia