SAÚDE PEDIÁTRICA

Vigilância interdita 20 leitos de UTI Neonatal da Maternidade de Campinas

Motivo foi o déficit de médicos; pacientes foram transferidos para Hospital da PUC Campinas e CAISM da Unicamp

Bianca Velloso/ [email protected]
24/02/2023 às 09:05.
Atualizado em 24/02/2023 às 09:05
Hospital Maternidade de Campinas, referência em gestações de risco, alega que por crise financeira enfrenta dificuldades para compor equipe com profissionais qualificados no atendimento a prematuros extremos (Alessandro Torres)

Hospital Maternidade de Campinas, referência em gestações de risco, alega que por crise financeira enfrenta dificuldades para compor equipe com profissionais qualificados no atendimento a prematuros extremos (Alessandro Torres)

O Hospital Maternidade de Campinas teve 20 dos seus 36 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal interditados pela Vigilância Sanitária de Serviços Relacionados à Saúde de Campinas. A razão para tal medida, segundo informou o próprio hospital, é a falta de profissionais. A determinação foi publicada no Diário Oficial de Campinas de quinta-feira (23), mas já estava em vigor desde o dia 16 de fevereiro.

Com isso, a Prefeitura de Campinas determinou que os pacientes da Maternidade fossem transferidos para o Hospital da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCampinas) e Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que está causando superlotação nesses locais. A Maternidade só poderá voltar a operar com capacidade total quando tiver à disposição o mínimo de profissionais necessários. 

A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), órgão ao qual a Vigilância Sanitária em Saúde está vinculada, Andrea Von Zuben, informou que o déficit de funcionários foi detectado após uma visita de rotina do departamento na Maternidade de Campinas. Segundo ela, estão faltando profissionais das áreas médica e de fisioterapia necessários para o cumprimento da resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece os requisitos mínimos para o funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva. Dentre outros parâmetros, a norma estabelece o número de funcionários nessas alas por turno. Por exemplo, é necessário ao menos um médico plantonista e um fisioterapeuta a cada dez leitos por turno. Já o Hospital Maternidade de Campinas afirmou que faltam apenas dois médicos diaristas, que fazem visitas diárias aos pacientes internados, e profissionais de fisioterapia para atender os 36 leitos da unidade.

A Diretoria do Hospital Maternidade de Campinas informou, através da assessoria de imprensa, que por ser um hospital referência em gestações de risco precisa de profissionais qualificados, que estão em falta no mercado, para atender prematuros extremos. “Ressaltamos, ainda, que a Instituição enfrenta uma crise financeira grave, o que também dificulta a contratação de novos profissionais”, informou. O hospital esclareceu que mantém os atendimentos na UTI Neonatal e que teve dificuldades em cumprir a legislação que determina a quantidade de funcionários. O unidade hospitalar diz ainda que a grave crise financeira motivou a administração a entrar com pedido de Recuperação Judicial, que está em trâmite na 10ª Vara Cível de Campinas e que o processamento já foi deferido. 

Atualmente o hospital conta com cerca de 30 profissionais para uma escala de 240 plantões. No momento da interdição, a unidade já estava trabalhando acima da capacidade, com 39 pacientes internados na UTI. Uma das medidas impostas pela Prefeitura foi a transferência desses pacientes para outras UTIs Neonatal em Campinas que estão superlotadas em função disso, como é o caso do Hospital da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

Em nota, o hospital informou que possui 16 leitos conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS) e está com 18 pacientes internados. Ou seja, dois a mais que o usual. Segundo a assessoria de comunicação, esses pacientes quando chegam na unidade são atendidos. No entanto, o Hospital da PUC-Campinas comunica diariamente aos órgãos públicos competentes sobre a situação da superlotação.

O cenário no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não é diferente. O hospital possui 14 leitos na UTI Neonatal e atualmente tem 23 crianças no local. Em coletiva de imprensa realizada na tarde de quinta-feira, o coordenador de Administração Hospitalar, João Renato Bennini Junior, disse que precisou realizar um remanejamento em duas salas para atender a essa demanda

“É sempre muito delicado realizar remanejamento dentro de áreas hospitalares. A gente teve que utilizar alguns locais do hospital que tem menos ocupação, que dá para remanejar para abrir espaço. Foram duas salas no Centro Obstétrico. Nós conseguimos acomodar até certa proporção, porque também tem outros pacientes que precisam usar”, disse o coordenador. 

Bennini assegurou que até o momento todos os pacientes que foram transferidos para o Caism foram atendidos e que, mesmo assim, o cenário é de muita imprevisibilidade. “Estamos monitorando a demanda da região. Até o momento, todo mundo que chegou aqui foi atendido, mas estamos trabalhando em um cenário de imprevisibilidade. A situação tem que ser revista de período em período e não mais por dia. No momento está sob controle, mas está cada vez mais difícil dar esse tipo de garantia”, afirmou. 

O coordenador de Administração Hospitalar do Caism disse que na unidade estão trabalhando com remanejamento de escala e que alguns funcionários estão fazendo horas extras, mas reconhece que há limite de recursos e insumos. “Os leitos da UTI Neonatal são complexos. Os equipamentos são específicos, os insumos são muito caros. Isso gera um custo alto para o hospital”, afirmou.

Surto 

Dez dias antes da interdição, o Hospital Maternidade de Campinas enfrentou um surto de gastroenterite na UTI Neonatal, que ocorreu entre os dias 6 e 9 de fevereiro. Durante o período, dois bebês morreram, mas ainda não há a confirmação de que a causa tenha sido a gastroenterite. Segundo informou o hospital por meio de sua assessoria de imprensa, o surto não tem relação com a interdição, que ocorreu devido à falta de profissionais. 

A gastropediatra Maria de Fátima Servidoni, da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), explicou que a gastroenterite é causada por vírus ou bactérias e que costuma se manifestar de forma mais grave em pacientes com menos de 5 anos. “A gastroenterite pode levar à desidratação e também desnutrição por dificuldade da absorção de alimentos. A desnutrição piora a resposta imunológica do paciente e pode favorecer outras infecções, podendo culminar em óbito”, explica.

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