COMPORTAMENTO

Videogame vicia jovens, alerta OMS

No mês passado, a compulsão por jogos eletrônicos integrou a 11ª Classificação Internacional de Doenças

Beatriz Maineti
14/07/2018 às 18:53.
Atualizado em 28/04/2022 às 11:31
O estudante Thiago de Carvalho: "Regulamentação visa casos das pessoas que são realmente viciadas[/LEGENDA]" (Leandro Torres/AAN)

O estudante Thiago de Carvalho: "Regulamentação visa casos das pessoas que são realmente viciadas[/LEGENDA]" (Leandro Torres/AAN)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu em junho deste ano a obsessão por videogames como um distúrbio mental. A inclusão do vício em games na 11ª Classificação Internacional de Doenças foi anunciada em janeiro, e agora, após a publicação, passa a valer oficialmente. De um lado, existem os pais e profissionais preocupados com o bem-estar de seus filhos e dos jovens, que passam cada vez mais tempo imersos no mundo dos videogames e dos jogos on line, e os próprios jogadores, que se preocupam com seu lazer. A última versão do documento de classificação foi publicada em 1992. A CID cria códigos para as doenças, sinais ou sintomas, e é usada por médicos e pesquisadores para diagnosticá-las e registrá-las. Com a nova publicação, feita em junho, a OMS confirma algo contra o qual muitos países já vinham lutando, como, por exemplo, o Reino Unido, que criou uma clínica especializada no tratamento de pessoas viciadas em videogames. Na Coreia do Sul, por exemplo, o governo criou uma lei que proíbe que pessoas menores de 18 anos joguem entre a meia-noite e as 6h. Já no Japão, um dos polos dos jogos eletrônicos, os jogadores são advertidos caso ultrapassem uma determinada quantidade de horas praticando a atividade, e, na China, a desenvolvedora Tencent determina uma quantidade certa de tempo que uma criança pode jogar. Entre os sintomas apresentados na CID estão não ter controle de frequência, intensidade e tempo usado para jogar videogame; priorizar jogar videogame a outras atividades; e continuar ou aumentar a frequência com que joga, mesmo após ter sofrido consequências negativas desse hábito. Em 2013, o Manual de Estatísticas e Diagnósticos de Distúrbios Mentais (DSM, na sigla em inglês) publicou o distúrbio relacionado a games e videogames como uma “condição a ser estudada”. A publicação sugere, ainda, que os comportamentos típicos de viciados devem ser observadas no período de 12 meses, mas ressalta que esse tempo pode ser menor caso os sintomas se apresentem de maneira mais grave. Ressalvas Thiago Santos Chagas de Carvalho, estudante de 24 anos e jogador assíduo, acredita que essa nova regulamentação pode ser boa para a população mais jovem, mas faz ressalvas. “A regulamentação visa os casos das pessoas que são realmente viciadas, não é o caso de jogadores profissionais, e isso deve ficar bem claro”, defende Thiago. O estudante afirma que em caso de profissionais dos games, que treinam para entrar nas ligas mundiais de jogos on line, é preciso ter cuidado com o tempo de jogo e de treino, já que até eles têm limite de horas para jogar. “Não é o caso de pessoas que jogam na esportiva ou que trabalham com isso, a regulamentação deve ser aplicada apenas nos casos que extrapolam o nível do aceitável”, afirma Carvalho. Porém, segundo o estudante, essa medida não deve mudar a vida dos jogadores eventuais. “Os jogadores que mais serão afetados são aqueles menores de 18 anos, que não têm muito poder aquisitivo ou responsabilidades. Eles são mais vulneráveis a esse vício”, explica o jogador. Thiago teme que os pais não saibam diferenciar os sintomas do vício com um simples entusiasmo. “É preciso ter calma e saber diferenciar se seu filho gosta de jogar, se é um lazer prazeroso, ou se ele realmente está extrapolando”, diz. Isabella Rocha, de 20 anos, também estudante e jogadora, vê essa medida como algo necessário. “Pra quem joga, não é algo tão bom, na minha opinião, mas é necessário, já que há pessoas que realmente sofrem com o vício”. Segundo ela, o vício é algo que prejudica a vida do jovem, e admite já ter passado por episódios parecidos. “Nas férias, já cheguei a jogar seis horas por dia”, assume.

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