CONFESSOU CORRUPÇÃO

Vereadores vão votar abertura de CP contra Zé Carlos na segunda-feira

Comissão Processante será iniciada se a maioria simples dos parlamentares presentes na reunião aprovar o pedido protocolado na quinta-feira pelo advogado Lucas Henrique Trevizan

Luiz Felipe Leite/[email protected]
28/06/2025 às 11:21.
Atualizado em 28/06/2025 às 11:21
Ex-presidente da Câmara Municipal de Campinas, Zé Carlos firmou um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) com o Ministério Público e admitiu o crime de corrupção passiva (Kamá Ribeiro)

Ex-presidente da Câmara Municipal de Campinas, Zé Carlos firmou um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) com o Ministério Público e admitiu o crime de corrupção passiva (Kamá Ribeiro)

A Câmara de Campinas vai votar na próxima segunda-feira a abertura de uma Comissão Processante (CP) contra o vereador Zé Carlos (PSB). A Procuradoria Jurídica da Casa deu sinal positivo para a tramitação do processo, protocolado pelo advogado Lucas Henrique Trevizan na última quinta-feira. A apuração foi motivada após vir à tona que o parlamentar fechou um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), admitindo o crime de corrupção passiva enquanto era presidente do Legislativo. Se a maioria simples dos parlamentares presentes na reunião entender que a investigação interna deve ser iniciada, a CP será instalada e poderá resultar na cassação do mandato do pessebista. Eleitores e ex-eleitores do vereador demonstraram decepção com a admissão do vereador e defenderam a saída dele do cargo.

De acordo com a Câmara, a comissão, se aprovada, será constituída por três vereadores definidos por sorteio e investigará se houve infrações político-administrativas e quebra de decoro parlamentar por parte de Zé Carlos. Caso a maioria rejeite a abertura, a CP será arquivada. Advogado de Zé Carlos, José Sérgio do Nascimento Júnior negou que o vereador vai renunciar e disse que a defesa ainda não teve acesso ao pedido de abertura da CP que será votado na segunda-feira. 

Nascimento Junior comentou ainda que é necessário entender como a informação a respeito do acordo entre o vereador e o Ministério Público, oficialmente sigilosa, foi levada a público. “Obviamente a defesa quer saber quais são os fundamentos do pedido de CP protocolado na Câmara”, afirmou. 

O PSB possui hoje cinco vereadores com mandato na Câmara de Campinas, contando com Zé Carlos. Os outros são Carlinhos Camelô (líder de bancada), Filipe Marchesi (vice-líder de bancada), Permínio Monteiro e Rubens Gás. O único dos quatro parlamentares que falou com a reportagem sobre a situação envolvendo o ex-presidente da casa foi Marchesi. Ele comentou que teve um problema pessoal e que não soube de uma posição oficial do partido acerca do tema, mas afirmou que votará de forma favorável à abertura da Comissão Processante na próxima segunda-feira. “É uma situação muito delicada, mas a Câmara vai trabalhar com seriedade para resolver essa questão, pois ele (Zé Carlos) tornou-se um réu confesso. Acredito que nós vereadores precisamos fazer o que precisa ser feito. A população espera isso da gente”, pontuou. 

O PSB de Campinas, presidido pelo vice-prefeito Wanderley de Almeida, não se manifestou sobre o assunto. Na edição de ontem, o Correio Popular informou que Wandão se reuniria com a bancada pessebista na Câmara para posteriormente comentar o caso. No entanto, a reportagem apurou que o encontro ainda não aconteceu. 

DECEPÇÃO 

José Roque tem 78 anos e vive na região da Vila Padre Anchieta, localizada no distrito de Nova Aparecida, principal reduto eleitoral do vereador Zé Carlos. O idoso disse conhecer o parlamentar desde 1982, tendo votado nele em algumas oportunidades, mas contou que ficou decepcionado quando soube que o pessebista assumiu ao MP ter pedido propina. “Ele precisa pagar pelo que fez, não apenas com uma multa, e perder o mandato”, comentou. 

Essa é a mesma opinião de Marcelli Cristina, 21, moradora da mesma região, mas que nunca votou em Zé Carlos e nem o fará futuramente caso o vereador volte a ser candidato, considerando o que o parlamentar admitiu ao Ministério Público. “Não podemos ter pessoas que fizeram coisas erradas na Câmara. Ele precisa sair.” 

Olavo Previde tem 81 anos e mora há décadas no distrito de Nova Aparecida. Ele afirmou não votar mais por causa da idade avançada, mas que casos como o do vereador Zé Carlos diminuem ainda mais a vontade de pensar em política. “Não me meto muito nessas histórias de política, mas não acho certo o que ele fez”, opinou. 

Outras duas pessoas ouvidas pela reportagem se manifestaram sobre o caso, mas pediram para não serem identificadas. No caso de uma comerciante, que votou em Zé Carlos em várias eleições, o receio é se indispor com clientes aliados ao vereador. “Se ele fez isso mesmo que admitiu, é uma vergonha. Não pode permanecer na Câmara.” 

Um ex-servidor comissionado da Prefeitura, que atuou por anos no poder público indicado por Zé Carlos, atuou em várias campanhas eleitorais do parlamentar. Ele elogiou o vereador no aspecto pessoal, mas disse não ser possível defendê-lo considerando a admissão de culpa dele ao MP. “Eu saio de casa e sou apontado na rua por pessoas que sabem que trabalhei com ele. Gosto do Zé Carlos como pessoa, mas não vejo outro destino para ele que não seja a perda de mandato”, lamentou.

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