Imóvel com mensagem de Galterio (no detalhe): mulher acionou vereador na Justiça alegando ser dona do terreno (César Rodrigues/AAN)
O vereador campineiro Paulo Galterio (PSB) é alvo de ao menos 48 procedimentos judiciais e de investigação. Desse total, 32 são processos registrados no Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ele também é réu em 15 ações que tramitam no Tribunal de Justiça (TJ), que vão desde execuções fiscais por parte do Estado e da Prefeitura de Campinas até reintegração de posse, em que é acusado de invadir um terreno no Parque Valença 2, na região do Campo Grande. Responde ainda a um inquérito na Polícia Federal por suposta compra de votos durante sua campanha a uma vaga na Câmara, segundo informações do cartório eleitoral. A PF confirma haver uma investigação, mas não revela o foco por ser segredo de Justiça.
Na última segunda-feira (8), reportagem do Correio revelou que o vereador é acusado de se apossar de um campo de futebol público, passando a cobrar pelo uso dele. O caso foi parar na Corregedoria do Legislativo, onde será investigado e pode perder seu mandato. Galterio foi procurado por meio de sua assessoria ontem, mas não quis se manifestar sobre as apurações à reportagem. Desde domingo, ele se recusa a falar. Nas últimas vezes em que foi contatado, informou que uma entrevista coletiva será marcada nos próximos dias.
A OAB não informou detalhes dos processos registrados no Tribunal de Ética e Disciplina — Galterio é advogado — porque correm em sigilo. Também não foi divulgado quantas das 32 ações já foram julgadas, mas somente que o vereador não foi condenado. A reportagem apurou que há processos com datas de 2007 e 2011.
Entre as ações em que o vereador responde na Justiça, há a acusação de que ele teria invadido um terreno no Jardim Valença 2, onde fez seu reduto eleitoral. No local, ele construiu uma garagem onde guarda veículos, como um ônibus e um caminhão. Ontem, havia também um carro. Segundo os moradores que vivem nas proximidades, esses veículos são usados em excursões organizadas no bairro e também para transportar famílias a cemitérios quando morrem parentes.
Moradores do bairro costumam pedir apoio ao advogado em casos como esses.
A mulher que se diz dona do lote, e pediu para não ser identificada, afirma que se assustou quando soube da suposta ocupação. Empregada doméstica há 13 anos em uma casa de família, ela diz que comprou o lote há mais de 20 anos, quando o bairro começou a ser loteado, com o dinheiro que acumulou fazendo hora extra em seu antigo emprego. “Eu nunca construí porque não tive condições, mas o terreno é meu.”
A advogada que defende a dona do imóvel por meio da Defensoria Pública do Estado Marta Cristina de Godoy afirma que os documentos entregues por ela, como a escritura do imóvel, comprovam a posse do terreno. “Claro que temos de esperar o julgamento, mas houve má-fé. Os documentos apontam a regularidade”, disse.
No muro do galpão está pintada uma propaganda com o nome do vereador e a frase “Com Deus tudo é possível”. “Eu cheguei lá um dia e assustei. No começo, ele me disse que um posseiro vendeu para ele. Depois tentou comprar, mas por um valor muito baixo. Eu não quero vender, o terreno é meu”, disse a mulher
Segundo os moradores da região, Galterio se aproximou da comunidade há cerca de dois anos. De acordo com relatos, no ano passado ele ajudou na reforma de um salão que pertence à Associação de Moradores. Também já teria feito a limpeza de uma área de lazer que fica na mesma rua. No caso do inquérito da PF, o delegado Hermógenes Leitão Neto confirmou que a apuração foi aberta em janeiro e corre em segredo e, por isso, nenhuma informação pode ser divulgada até o seu encerramento. Não há prazo para a apuração ser finalizada.
Uma das representações contra Galterio feitas na OAB foi feita por Marcos Antonio Pires, integrante da Associação de Moradores do Satélite Íris, que não gostou da permanência frequente dele na comunidade durante o período eleitoral. Na declaração feita de próprio punho, ele sugere que o candidato se aproveitou da proximidade com a entidade para se promover: “estamos cansados de pessoas desse tipo”, escreveu, e pediu apoio da ordem.