Tradição dos católicos, que se preparam para a Semana Santa, movimenta o setor de pescados
Consumidores no Mercado Municipal de Campinas: preço dos peixes está mais acessível, como o quilo do cação, vendido a R$ 34,90, da corvina (R$ 21,90) e tilápia (também R$ 21,90) (Rodrigo Zanotto)
As vendas de peixe aumentaram em torno de 20% em função da Quarta-feira de Cinzas, amanhã, quando muitos católicos preservam a tradição de não comer carne vermelha. A data representa o primeiro dia da Quaresma, período religioso para os cristãos, que se preparam para a Páscoa e simboliza a conversão e mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
"As pessoas estão comprando para a Quarta-feira de Cinzas e se preparando para a Semana Santa, mas as vendas devem aumentar mesmo quando chegar próximo dessa data", acredita o gerente de uma peixaria no Mercado Municipal de Campinas, Cássio Francisco Serra.
Um levantamento realizado pelo Correio Popular mostra estabilidade de preço em relação ao ano passado. Peixes populares, devido aos seus preços mais acessíveis, não tiveram reajuste. Alguns exemplos são o cação, vendido a R$ 34,90, corvina (R$ 21,90) e tilápia (também R$ 21,90).
Já a cavalinha, comercializada na segunda-feira (20) a R$ 12,90, registrou uma queda no preço de 13,42% em comparação aos R$ 14,90 cobrados pelo quilo em 2022. De acordo com Serra, a variação não está relacionada à época do ano, mas à oferta do produto no mercado. "Quando há muito de uma determinada espécie de peixe para a venda, o preço cai", explicou.
Ele observou ainda que o mau tempo, desde o final de semana no litoral paulista, poderá afetar os preços nos próximos dias. "O mar agitado prejudica a pesca e também impede que barcos saiam, apenas os grandes", explicou. Porém, o gerente salientou que esses reflexos deverão durar pouco e os estabelecimentos até podem absorver parte do reajuste e não repassar aos consumidores para manter as vendas.
Na mesa
A técnica de enfermagem Maricélia Botelho fez compras na segunda-feira para o dia e hoje iria a outras para a Quarta-feira de Cinzas. "Os preços estão meio salgados. Você leva pouca coisa e gasta R$ 30", reclamou ela, que comprou cavalinha e tainha. Já a dona de casa Maria Clara Fernandes considerou os preços "razoáveis". Ela comprou filé de merluza e pagou R$ 49,90 o quilo.
Para a auxiliar de crédito Joseane Ribeiro Oliveira, "os preços dos peixes no Mercadão estão mais em conta do que nos supermercados". Por questões de saúde, ela não pode comer carne vermelha - que substitui por peixe. "Aqui, você encontra salmão a R$ 99 o quilo, enquanto nos mercados, está R$ 109. A sardinha sai por R$ 18,90, contra R$ 23, R$ 25", comparou.
O bacalhau, outro peixe muito procurado nesta época do ano, apresenta queda nos preços. O tipo Porto era vendido na segunda-feira a R$ 115 o quilo, uma diferença de 4,17% em relação aos R$ 120 do ano passado. "O bacalhau está saindo bastante e os preços estão praticamente o mesmo. Não é possível dizer como estará na Semana Santa, porque depende da variação do dólar", esclareceu o gerente de um empório do Mercadão, Ademir Resende. O peixe zarbo é comercializado a R$ 69.
Data religiosa
A tradição católica de consumir peixe na Quarta-feira de Cinzas tem como propósito fazer com que os fiéis tomem parte do sacrifício de Jesus. Assim como Ele se sacrificou na cruz, aquele que crê também pode fazer um sacrifício, abstendo-se de uma coisa que gosta, no caso, a carne vermelha.
Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas, que provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Ela é misturada com água benta. De acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia usa as cinzas úmidas para sinalizar uma cruz na fronte de cada fiel, proferindo a frase "Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás" ou "Convertei-vos e crede no Evangelho".
Em sua mensagem para a Quaresma 2023, o papa Francisco afirmou que esse período é "um convite a pôr-se a caminho no seguimento de Jesus para aprofundar e acolher o seu mistério de salvação". Ele destacou a relação entre essa época e o Caminho Sinodal, uma série de conferências da Igreja Católica na Alemanha para discutir questões teológicas e organizacionais contemporâneas. "Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha", disse o papa.