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Vazão do Atibaia despenca e Campinas já tem alerta

Volume, atualizado após conserto de aparelho de medição, se aproxima do limite para racionamento; rio é responsável pelo abastecimento de 95% da cidade de Campinas

Maria Teresa Costa
14/04/2015 às 21:23.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:30
Menino às margens do Atibaia, em Sousas: nível da água despenca com a falta das chuvas e pedras voltam a ficar à mostra ao longo do rio (Camila Moreira/ AAN)

Menino às margens do Atibaia, em Sousas: nível da água despenca com a falta das chuvas e pedras voltam a ficar à mostra ao longo do rio (Camila Moreira/ AAN)

A medição de vazão no Rio Atibaia vinha apontando que o rio que abastece 95% de Campinas estava com um volume de água satisfatório. Até segunda-feira (13), apontava que a vazão estava em torno dos 14 metros cúbicos por segundo (m3/s). Mas a vazão real, no entanto, é de menos da metade. O erro de leitura estava ocorrendo porque o equipamento telemétrico estava com defeito, informou o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee). O Atibaia registrou na terça-feira (14) 6,4 m3/s, o que já desperta nível de atenção da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) — com 4 m3/s, a situação já é de risco de desabastecimento. A empresa pediu ao Daee aumento de liberação de água do Sistema Cantareira para a região. O sistema estava liberando 0,60m3/s na terça, e a Sanasa pediu 1,5m3/s. Consertado o defeito, a realidade do rio mostra que a tranquilidade está longe de ser atingida com a estiagem. Bastou alguns dias sem chuva para a vazão cair, trazendo preocupação.A Sanasa pediu a liberação da vazão máxima que foi autorizada pelos gestores do Cantareira para o mês de abril. A Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) decidiram, no início do mês, reduzir a descarga do Sistema Cantareira para a região de Campinas de 2m3/s para vazões que poderão variar de 0,5m3/s a 1,5m3/s. A retirada maior ou menor ficará na dependência de quanto de água entrará nos reservatórios em abril. Para a Grande São Paulo, a descarga máxima média mensal irá ficar entre 9,5m3/s e 13m3/s. Em março, a Grande SP estava autorizada a retirar 13,5m3/s.Segundo o Daee, a flexibilização nas restrições para as retiradas é necessária porque abril apresenta características de transição entre o período chuvoso do Verão e a estiagem. A manutenção de baixas retiradas dos reservatórios visa gastar o mínimo possível de volumes disponíveis e recuperar o máximo das reservas técnicas já utilizadas.Mesmo assim, os reservatórios não conseguirão chegar ao final do mês completando as cotas de volume morto, que começaram a ser retiradas em maio do ano passado. Nos cálculos do Daee, é possível que os reservatórios ainda fiquem com um déficit de 65 bilhões de litros, para recuperar todo o volume morto.O mês de março foi o mais chuvoso desde 2008 no Cantareira, com um volume acumulado de 206,5 milímetros, 16% acima da média histórica do mês. Mesmo assim, o período da estiagem encontra o sistema com um estoque de água 56,9% menor do que possuía há um ano. EstávelO nível de água do Sistema Cantareira se manteve estável ontem em 19,9% da capacidade, segundo medição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). É o sexto dia seguido em que não há registro de chuva nas represas.Novas represasO governo do Estado escolheu a Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape) para fazer os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental do Sistema Adutor Regional PCJ, conjunto de adutoras que irá distribuir entre os munícipios a água que ficará armazenada nos futuros reservatórios de Pedreira e Amparo. Os estudos, que serão concluídos em dez meses, custarão cerca de R$ 3 milhões e a obra tem preço estimado em R$ 346 milhões. A empresa vencedora da licitação é a mesma que elaborou o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista — o plano prevê que, até 2030, a macrometrópole terá que adicionar mais 60 metros cubicos por segundo de água para garantir o abastecimento das regiões de Campinas, São Paulo, Santos, Sorocaba e Vale do Paraíba. A escolha da Cobrape foi feita por sorteio. A empresa e a Engecorp tinham empatado na proposta de preço. Prevista para março, a licitação para a construção das represas de Pedreira e Amparo ainda não foi publicada pelo Daee. O governo ainda não tem garantia de recursos para a conclusão dos reservatórios. Por enquanto, garantiu em orçamento R$ 18,4 milhões para a contratação do projeto executivo e licenciamento ambiental e mais R$ 53 milhões para as desapropriações. As barragens estão orçadas em R$ 760 milhões. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) espera que os recursos que faltam venham do governo federal — as represas são parte do pacote de oito projetos que o governador levou à presidente Dilma Rousseff (PT) logo após a eleição, para o enfrentamento da crise hídrica e que somam R$ 3,5 bilhões. Ele também está buscando verbas com fontes privadas.O reservatório de Pedreira ocupará uma área de 2,1 quilômetros quadrados no Rio Jaguari e vai permitir uma vazão regularizada de 9,6 mil litros de água por segundo. O reservatório Duas Pontes, no Rio Camanducaia, deverá ocupar uma área de 4,6 quilômetros quadrados e vai permitir uma vazão regularizada de 9,8 mil litros de água por segundo. Partilha da água A retomada das discussões da renovação da outorga do Sistema Cantareira pelo Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ) veio acompanhada ontem de um alerta: o Estado de São Paulo poderá passar por nova estiagem tão severa quanto a do ano passado, ou pior, de 2022 a 2025. Isso vai implicar em decidir, este ano, como será a partilha da água do sistema para a Grande São Paulo e a região de Campinas, na próxima crise hídrica. “É necessário que os órgãos gestores se preparem para essa ocorrência climática”, disse o especialista em recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, no encontro técnico do Grupo de Eventos Extremos do consórcio.“As próximas três ou quatro décadas poderão ter precipitações menores, devido ao ciclo do clima. Ora temos épocas mais chuvosas, ora com chuvas abaixo da média. A renovação da outorga do Sistema Cantareira, como também os Planos de Bacias, deverá prever ações de gestão para eventos extremos, sejam eles de cheias intensas como de secas severas”, afirmou Zuffo. Assim, disse, a região terá que decidir como quer estar em 2022 diante de uma possível estiagem severa. “Vamos sofrer menos com a disponibilidade hídrica ou teremos os mesmos problemas que em 2014, senão piores.”Há a possibilidade, já admitida pelo presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, de adiamento da renovação da outorga por mais um ano, se até outubro for identificado que ainda não há segurança para a definição das novas regras. Ele afirmou, no entanto, que não é prudente partir da premissa que haverá adiamento, porque o debate deve existir e começará assim que a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) entregar suas demandas do sistema para os próximos dez anos, prevista para 30 de abril. A grande discussão, afirmou, será sobre a partilha de água dos reservatórios entre as bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiai e do Alto Tietê.A ANA é o Departamento de Agua e Energia Elétrica (Daee), gestores do Cantareira, ainda não têm um volume meta para cada região. Zuffo e sua equipe da Unicamp, segundo o consórcio, estão estudando a possibilidade de adoção de uma regra operativa variável do Sistema Cantareira, na qual as retiradas dos reservatórios seriam determinadas pelo nível do Sistema Equivalente (a média dos quatro reservatórios que estão nas Bacias PCJ). Zuffo falou a uma plateia de mais de 30 representantes de empresas e municípios associados, e de serviços de abastecimento. 

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