Repasse da redução do gás de cozinha segue em ritmo lento para os consumidores
Posto reduz ainda mais o preço da gasolina com promoção válida para terça, sábado e domingo, no qual o valor chega a R$ 4,49; no caso do etanol pode chegar a R$ 3,19 (Alessandro Torres)
O preço mínimo do litro da gasolina comum em Campinas constatado em levantamento feito na segunda-feira (22) pelo Correio Popular caiu para R$ 4,59, recuando praticamentepara o mesmo patamar no varejo de há 27 meses. A queda foi de 6,14% em relação aos R$ 4,89 da semana passada, quando a Petrobras reduziu o preço dos combustíveis nas refinarias. O novo valor encontrado está bem próximo ao patamar dos R$ 4,607 cobrados em fevereiro de 2021, de acordo pesquisa realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na ocasião.
Na verdade, a redução para o consumidor até agora é de R$ 0,30, valor inferior aos R$ 0,40 adotado pela Petrobras para as revendedoras. A queda ainda atinge parte dos postos de combustíveis e há locais que ainda não modificaram os preços e trabalham com a mesma tabela da semana passada, o que gera confusão entre os clientes. Os funcionários dos estabelecimentos explicam que adotam os novos valores conforme as revendedoras reduzem suas tabelas e que os preços finais no varejo devem levar alguns dias para atingir a estabilidade.
O motoboy Lucas Sá comemora a queda da gasolina. “Já está bom, mas se cair ainda mais, é melhor”, disse ele, enquanto abastecia a motocicleta. Ele roda entre 150 e 200 quilômetros por dia, gastando em torno de R$ 300 por mês com gasolina. O motociclista espera economizar entre R$ 25 e R$ 30 com os novos valores. Para ele, o combustível é o principal custo para trabalhar.
NA BOMBA
O carteiro Hernandes Alves, que costuma abastecer o carro até três vezes por semana, disse não ter notado queda nos preços desde a terça-feira passada, dia 16, quando a Petrobras anunciou a redução para as refinarias. “Até agora, não vi nada. Só escuto falar”, disse ele, que na segunda-feira pagou R$ 5,19 no litro da gasolina.
O gerente de um posto de combustíveis no bairro Botafogo, Hélio Miqueloto, argumentou que a lentidão para a redução chegar as bombas ocorre pelo fato dos estabelecimentos terem estoques antigos nos tanques, com a queda sendo mais acentuada conforme esse nível for abaixando. O estabelecimento em que trabalha fez a primeira revisão da tabela de preços na última sexta-feira à tarde, quando recebeu a primeira entrega da revendedora após a redução nas refinarias.
De acordo com ele, a queda para o consumidor foi, em média, de R$ 0,30, mas outras podem ocorrer. “É para baixar mais um pouco”, disse Miqueloto, que tinha a expectativa de nova redução de R$ 0,10 até hoje, quando receberá nova entrega de combustíveis. Já o gerente de outro posto no Jardim Guanabara, Fábio Domingues Almeida, também diminuiu o preço da gasolina na mesma proporção, mas evita prever novas revisões.
“Dependerá da compra feita por São Paulo”, justificou. O estabelecimento faz parte de uma rede com filiais na Capital e em cidades do interior, com as aquisições sendo centralizadas na sede paulistana. No mesmo bairro, um posto de outra bandeira mantinha inalterado o litro gasolina a R$ 5,09. “Até agora, a companhia não repassou a redução anunciada pela Petrobras. Assim que fizer, vamos também rever o preço na bomba”, justificou o gerente, que pediu para não ser identificado.
A queda na gasolina também puxou uma redução no etanol para manter a paridade entre os dois combustíveis. Isso aumentou a diferença de preços nos postos de Campinas, que na segunda-feira chegava a 53,29%. O litro do etanol comum mais em conta encontrado foi de R$ 3,19, no Guanabara, enquanto o valor mais alto foi de R$ 4,89, na Vila Itapura. Já no caso da gasolina comum, a variação nos preços foi de 28,32%, com o mais alto sendo de R$ 5,89, também na Vila Itapura.
A diferença para a gasolina aditivada chegou a 37,33%, variando de R$ 5,09 a R$ 6,99. Com isso, a economia para encher o tanque de um hatchback pequeno pode chegar a R$ 89,30, se o proprietário escolher o menor valor na hora de abastecer.
GÁS DE COZINHA
O repasse para o consumidor da redução de preço do gás de cozinha também está em ritmo lento. O gerente de um ponto de venda no bairro Castelo, Caio Martins, argumentou que a redução de R$ 5 no botijão de 13 quilos na última compra foi no mesmo valor da alta em 1º de maio, quando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o produto passou a ter uma alíquota única válida para todo o Brasil.
“O gás subiu R$ 5 e não repassamos para o consumidor. Agora, caiu no mesmo nível e mantivemos o preço”, disse Martins. Com a mudança tributária, o valor médio nacional do ICMS cobrado sobre o gás de cozinha passou de R$ 14,23 para R$ 16,34. No entanto, o impacto foi diferente em cada Estado, chegando ao pico de um aumento de 84,5% no imposto no Mato Grosso do Sul. No Estado de São Paulo, a elevação foi calculada em 28,5%, de acordo com o Sindigás, que representa as distribuidoras do setor.
O gerente de uma rede de revendas em Campinas, Pedro Luiz Lovato, disse que a política de preços adotada foi diferenciada dependendo da região da cidade. Em algumas, o preço para retirada no depósito foi reduzido de R$ 115 para R$ 100. Porém, em outras, o valor foi mantido. É o caso da unidade no Jardim Novo Cambuí, onde ele estava na segunda-feira.
“Não sei a decisão que será tomada nos próximos dias”, afirmou ele, justificando que dependeria do comportamento do preço no atacado e da avaliação a ser feita pelo proprietário da empresa. De qualquer forma, ele disse que o preço para entrega foi reduzido R$ 5 em toda a cidade, com o novo valor sendo de R$ 130.
“Eu também me decepcionei como consumidor”, disse Lovato. Ele explicou que, no posto de combustíveis onde costuma abastecer o carro, o preço da gasolina continua o mesmo. A lentidão no repasse para o consumidor na redução do preço dos combustíveis levou o governo federal a anunciar para amanhã um mutirão em todo o País para verificar se os postos de combustíveis estão aplicando de forma adequada as variações de preços ao consumidor final.
Batizado como “Mutirão do Preço Justo”, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, vai coordenar as ações com o apoio dos Procons dos Estados. Será realizado um monitoramento dos combustíveis nas cidades, com envio para a Senacon do maior e do menor valor encontrado nos estabelecimentos. O relatório com os dados será apresentado no próximo dia 30.
“A nossa atuação coletiva vai ser muito importante para monitoramos esses preços e fazer assegurar aos consumidores brasileiros essa medida que beneficia a todos. Os Procons, as entidades da sociedade civil, a área do consumidor do Ministério Público e das Defensorias Públicas, da OAB terão papel igualmente fundamental nesse monitoramento de preços”, disse o secretário Nacional do Consumidor, Wadih Damous.
Ele defendeu que a população denuncie aos Procons quando se sentirem lesados ou identificarem irregularidades nos preços dos combustíveis. “Eu faço um apelo à cidadania brasileira: fiscalizem, denunciem. Vão ao Procon da sua cidade, do seu Estado, fotografem, peguem nota fiscal. Faço uma conclamação aos trabalhadores de aplicativos, aos caminhoneiros, nos informem e denunciem”, disse.