Começou a funcionar no começo de maio o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) de Valinhos
Fachada do Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) de Valinhos, instalado no prédio do antigo Centro Comunitário do Boa Esperança (Dominique Torquato/PMV)
Começou a funcionar no começo de maio o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) de Valinhos. O objetivo é criar um local que seja referência para ouvir os moradores de rua e encaminhar essas pessoas em situação de vulnerabilidade para áreas como Saúde e Educação, além de saber quem são eles, do que precisam, por que motivos estão nas ruas e que querem. No local eles podem tomar um banho e lavar suas roupas, e estão sendo ouvidos por representantes da Prefeitura. O local fecha às 16h e não vai manter nenhuma atividade fora desse horário. A Prefeitura vê esse espaço como mais um importante passo para a consolidação de uma política pública efetiva para lidar com os moradores de rua na cidade. A ação conta com o apoio de importantes líderes religiosos de diferentes denominações da cidade, que se uniram para manifestar apoio à iniciativa e ao objetivo de acolher essas pessoas. O envolvimento foi necessário por conta de algumas reações negativas de moradores da cidade à criação do espaço. O encontro, na sala de reuniões do gabinete do prefeito, teve a participação do prefeito Orestes Previtale, da vice, Laís Helena Aloise, da secretária de Assistência Social, Dulce Maria de Paula Souza, e do chefe de Gabinete, Carlos Roberto Tosto. A conversa durou cerca de duas horas. Padres e pastores se comprometeram a ampliar as discussões sobre o tema em suas igrejas, durante missas e cultos e em conversas com fiéis e seguidores. O objetivo é reduzir o preconceito que existe em torno do assunto. “Muita gente concorda com as ações da Prefeitura em benefício dessa população de rua, desde que essas ações sejam feitas longe de seus olhos. Precisamos mudar isso e promover uma ampla discussão sobre o assunto com todos os setores da sociedade”, disse Dulce. Levantamento da Secretaria de Assistência Social revela que existem hoje 52 pessoas morando nas ruas em Valinhos. A maioria desse grupo tem família na cidade. Os demais moradores de rua são os chamados “trecheiros”, que circulam por cidades da região sem fixar residência em um único local. Eles costumam se concentrar na região central da cidade, em locais como a Praça Brasil 500 anos, o Largo São Sebastião e a Praça Jerônymo Alves Correa. Com isso, incomodam comerciantes, moradores e pedestres que circulam pela região, que têm uma série de reclamações: eles pedem dinheiro, sujam os locais por onde passam e provocam sensação de insegurança. “O papel do Poder Público é acolher essas pessoas com amor, de forma fraterna. Fico muito feliz de estar aqui hoje discutindo esse assunto com esse grupo. Porém, acredito que seja fundamental que todo esse trabalho seja feito junto com a palavra de Cristo, com objetivo de levar essa palavra a essas pessoas”, disse o padre Roberto, que faz parte da Toca de Assis (entidade católica fundada em 1994, em Campinas, de tendência franciscana, que acolhe moradores de rua). A Prefeitura atende esses moradores diariamente e conhece cada um deles. Para isso, há uma série de regulamentos estabelecidos por lei, que são baseados na premissa de que o Poder Público não pode ignorar o problema. “A ideia é fazer com que a sociedade entenda isso, aceite que precisa participar da solução e nos ajude a seguir adiante. O problema em Valinhos ainda está no começo, pode ser resolvido. Porém, se nada for feito, em alguns anos teremos um cenário que dificilmente será revertido”, disse o prefeito. “É uma iniciativa importante e mostra um objetivo claro da Administração em avançar nesse assunto. Acho que isso vai funcionar se esse grupo voltar a se reunir outras vezes para acompanhar o que tem sido feito efetivamente e seguir debatendo a questão”, disse o pastor Rui Mendes Faria, da comunidade evangélica Cristo Vive. Grupo Preocupada com a questão, a Prefeitura criou um grupo de trabalho para elaborar o Plano Municipal Intersetorial para a população em situação de rua. Pela proposta, o documento deve ficar pronto em 90 dias e vai direcionar as ações e mecanismos que o Município deve adotar para tratar a questão, seja de forma conceitual, com debates e esclarecimentos para a população, seja de forma prática, nas ações de tratamento direto com essas pessoas. O objetivo é criar um comitê para abordar as discussões e colocar Valinhos entre as poucas cidades do Brasil que possuem uma política efetiva para tratar do tema. Os trabalhos serão coordenados pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação. O Decreto nº 9.731/2018, que formaliza o grupo, foi publicado no boletim de Atos Oficiais da Prefeitura na edição nº 1.639. A construção do plano obedece ao Decreto Federal nº 7.053/2009. Inauguração O Seas já está em funcionamento no prédio do antigo Centro Comunitário do Boa Esperança. O espaço se junta à Casa de Acolhida Vila Solidária, entidade mantida pela Igreja Católica, com apoio do município, para atender este segmento, no Joapiranga. A Casa, que ganhou o apelido de “Lugar do Padre”, por ter sido idealizada e gerida pelo padre Dalmirio do Amaral, está funcionando desde o ano passado, mas de forma provisória. Saúde e emprego No Seas, os moradores terão um atendimento especializado, vão poder tomar banho e lavar roupas, além de receber um lanche, mas não vão dormir. O acolhimento incluirá ainda entrevistas para direcionamento para áreas como Saúde, quando for identificado que ele precisa de algum tratamento, e até a possibilidade de encaminhamento para entrevistas de emprego. “Será um local de referência, onde eles poderão procurar apoio para deixar as ruas, voltarem para suas famílias ou até se livrarem de problemas com álcool e drogas. Não vão dormir lá, mas serão encaminhados para serviços que se encaixem sem seus perfis”, disse Dulce. Cenário atual Estudo realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Social revela que existem 52 pessoas vivendo nas ruas de Valinhos. Esse estudo vem sendo feito desde o começo de 2017, mês a mês, com informações colhidas junto aos moradores abordados, com objetivo de direcionar as ações do Município. Parte desse grupo é composta pelos chamados “trecheiros”, que são pessoas de outros municípios que costumam andar pela região, de cidade em cidade, fazendo bicos e pedindo dinheiro nas ruas e em cruzamentos viários. Outra parte é composta por artistas de rua, que retiram a subsistência de atividades como malabarismo nos semáforos em troca de moedas. Por fim, uma outra parte é composta por pessoas que saíram de casa por desavenças familiares, problemas com álcool ou drogas ou simplesmente por estarem sem condições de se manter. Ações diárias Para conhecer um pouco melhor essas pessoas e suas reais necessidades, a Prefeitura tem feito ações diárias nas ruas da cidade. Só em fevereiro foram feitos quase 350 atendimentos a esses 55 moradores em situação de rua — uma média de 7 para cada um. Em fevereiro, por exemplo, 18 moradores foram encaminhados a pelo menos um tipo de atendimento no Município. “O trabalho de acolhimento, a verdadeira ação social com esses moradores de rua, começa com o que chamamos de uma escuta específica. É nesse momento, da abordagem, que ouvimos quem é essa pessoa, o que ela quer, o que ela espera da vida. Com base nesses relatórios podemos encaminhar esse cidadão para a rede de saúde, para obter um documento pessoal, para a assistência social. Estamos construindo uma perspectiva para a vida dele a partir de seus desejos pessoais”, afirma Alex Sandro Dias Marcondes, profissional que coordena as abordagens e encaminhamentos da Prefeitura nas ruas de Valinhos. Porém, segundo ele, nem todos estão dispostos a aceitar o atendimento e encaminhamentos. “São pessoas que querem seguir livres pelas ruas, caminhando de cidade em cidade. Para eles vamos oferecer uma estrutura onde poderão se alimentar, lavar roupas, tomar um banho, sair um pouco da rua”, disse. Além da abordagem e do acolhimento nas duas casas, a Prefeitura e a Igreja vão oferecer nos novos espaços condições para que os moradores de rua possam se alimentar, receber atendimento médico e psicossocial e até tomar um banho e descansar. Outro serviço oferecido é o suporte para que eles possam buscar uma recolocação profissional.