Futuras mamães, puérperas e as crianças são os grupos com menor adesão
Vacina contra a gripe deste ano oferece proteção contra a variante H3N2, cepa Darwin, que não era contemplada na campanha do ano passado (Ricardo Lima)
Com quase 223 mil doses aplicadas da vacina contra a gripe de 2022, a Secretaria de Saúde de Campinas divulgou um balanço parcial com a porcentagem da cobertura nos principais grupos prioritários contemplados nesta etapa da campanha de vacinação. Gestantes, crianças e puérperas - mulheres que pariram há menos de 45 dias - são os grupos com menor adesão até o momento. As grávidas estão em último lugar na procura pelo imunizante. Foram 3.488 vacinadas, apenas 34% do público estimado.
Na sequência, está a faixa etária entre seis meses de idade e menores de cinco anos, com 40% de adesão, o equivalente a 25.413 crianças vacinadas. Por fim, no grupo de puérperas, 47% do público-alvo foi alcançado, com 791 doses aplicadas.
A pediatra do Departamento Científico de Pediatria da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI) - Regional SP, Silvia Viesti, explicou que as gestantes são consideradas como uma pessoa imunodeprimida, não grave, mas com um certo grau de imunodepressão. "A gestante, por uma série de modificações próprias da gravidez, têm uma diminuição da resposta imune nesta fase da vida, que persiste no puerpério e que leva a um maior risco de infecções mais graves", esclarece.
Silvia afirmou que o desconhecimento do direito à vacina da gripe na rede pública pode ser um dos motivos para a baixa adesão até o momento das gestantes e puérperas. Além disso, a preocupação com outras questões importantes em relação à gestação, parto e pós-parto, pode fazer com que o foco não seja direcionado para a vacinação. Para ela, uma divulgação maciça pelo poder público da campanha seria essencial para ampliar a adesão.
A pediatra ressaltou a relevância do papel do profissional de medicina no apoio à campanha de vacinação em geral. "Outra forma para as pessoas procurarem se vacinar é quando há prescrição pelo médico. Temos que lembrar que nós, médicos, temos uma importância muito grande nessa cadeia, que é a de orientar as nossas pacientes gestantes, crianças, idosos, a procurar a vacina contra a Influenza tão logo ela esteja disponível."
Além dos médicos, Silvia reforçou que as demais equipes da Saúde, que trabalham no dia a dia das unidades básicas e que também são frequentadas por estes grupos prioritários, devem relembrar os pacientes da importância da vacinação. "Todo o serviço de saúde tem que estar envolvido para cobrar isso e orientar a gestante a se vacinar. É um trabalho de formiguinha, que leva tempo para chegar a todos os funcionários, mas que deve ser redobrado - principalmente nesta época."
Nas estações mais frias e secas há um período de sazonalidade para doenças respiratórias, como a gripe. Por isso, outra recomendação é não esperar um adoecimento ou um aumento no número de infecções para se vacinar. O certo é buscar a prevenção a partir do momento em que ela estiver à disposição.
Ainda, Silvia acrescentou que há um benefício caro às gestantes: a saúde do filho. "Há estudos que mostram que as mães vacinadas contra Influenza diminuem a chance de transmitir doenças para os filhos, comparadas às não vacinadas. Uma coisa que ajuda a levar uma gestante para se vacinar é o dever de proteger o filho. E tenho certeza: se for recomendado, orientado, se falar que é para proteger o bebê, ela vai fazer tudo o que for possível para isso."
Influenza em 2022
Até o dia 28 de maio, último dia da semana epidemiológica 20, o Brasil registrou 990 óbitos por Influenza em 2022. Oito crianças menores de um ano foram vitimadas pela doença, assim como 14 na faixa etária entre um a cinco anos. O maior número de óbitos, 239, foi na população com idade entre 80 a 89 anos. Entre todos os vírus respiratórios, a Influenza fica apenas atrás da covid-19 e de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que ainda não foram especificados.
A maior parte das mortes aconteceu no início do ano, ainda no surto fora da época tradicional, ocasionado pela variante H3N2, cepa Darwin, que não era contemplada na vacina do ano passado. Neste ano, a vacina protege contra o H3N2.
Em relação às crianças de seis meses e menores de cinco anos, a campanha de vacinação contra o sarampo também está longe de atingir a meta desejada, de 95%. No balanço divulgado ontem, apenas 34% das crianças tinham recebido o imunizante. As duas vacinas, contra a gripe e sarampo, podem ser aplicadas no mesmo dia.