Intuito é ampliar a cobertura que, no momento, está em 17%, muito abaixo do esperado para o ano, de 95%
Personagem do ‘Zé Gotinha' ajuda a chamar as crianças para tomarem a vacina (Kamá Ribeiro)
Diante da baixa cobertura vacinal contra a poliomielite em Campinas, a Secretaria Municipal de Saúde intensificou a campanha de vacinação que, assim como no caso de outras, agora também chegou às escolas municipais e estaduais da cidade nesta semana. O intuito é ampliar a adesão, que no momento está abaixo da cobertura esperada para o ano, que é de 95%. Menos de 10 mil crianças tinham sido vacinadas contra a pólio até ontem: 9.794, apenas 17% do público-alvo.
Iniciada em 8 de agosto, a Campanha Nacional de Vacinação Contra Poliomielite e Multivacinação oferece imunizante não apenas contra a paralisia infantil, mas também contra outras 14 doenças. A campanha termina no dia 9 de setembro e, até lá, as equipes de saúde visitarão 60 escolas municipais e estaduais da cidade para realizar a vacinação dentro das próprias unidades escolares.
O esquema vai funcionar da seguinte maneira: as equipes de saúde marcam um dia para visitar a escola e os pais precisam levar a carteirinha de vacinação das crianças no horário de entrada ou saída. Haverá ainda a avaliação pelos enfermeiros sobre a necessidade de aplicar doses atrasadas.
"A cobertura vacinal tem ficado aquém do preconizado. No caso da pólio, os resultados estão abaixo da meta de 95% desde 2016. Neste ano, a porcentagem de crianças vacinadas contra o sarampo não chegou nem a 50% no país. Com isso, aumenta o risco de reintrodução das doenças. E somente conseguiremos sair dessa zona de risco se todos colocarem em dia a vacinação. É um compromisso de todos, dos pais, dos profissionais de saúde, dos gestores públicos, de toda sociedade", afirma a articuladora do Programa de Imunização de Campinas, Chaúla Vizelli.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, destacou que é preciso facilitar o acesso à imunização e realizar ações de divulgação e promoção não apenas durante as campanhas, mas a todo momento. De 2015 a 2021, a média de cobertura vacinal no Brasil caiu de 97% para 68%. Em Campinas, a cobertura contra a poliomielite em 2021 ficou em 82,77%.
"Se as autoridades colocarem a vacinação como prioridade, assim como era lá atrás, voltaremos a ter uma boa cobertura vacinal. O erro é achar que isso se manteria sozinho. O Brasil ficou 'em berço esplêndido' com as altíssimas coberturas vacinais, as melhores e, hoje, perdemos este status. É um risco enorme para a população e uma vergonha que não podíamos passar. Contudo, isso não está entre as prioridades das autoridades públicas, como pudemos ver no caso da a covid-19".
Além disso e dos movimentos antivacinas, o próprio sucesso dos imunizantes pode influenciar na queda dos números. Isso porque muitas pessoas das últimas gerações não tiveram contato próximo com a doença. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Brasil recebeu o certificado de eliminação da pólio em 1994. No entanto, até que a doença seja erradicada no mundo (como ocorreu com a varíola), existe o risco de um país ou continente ter casos importados e o vírus voltar a circular em seu território.
"Essa percepção de risco de pólio para as novas gerações é teoria, coisa de livro, antiga. Podemos falar por horas sobre isso, pois há toda uma questão comportamental, o imediatismo de hoje, a coisa mais direta e rápida... Quando a gente teve um surto de febre amarela em 2017 a nossa cobertura era de 40%. Quando veio o surto faltou vacina e tivemos que fracionar as doses. E é um problema para as pessoas entenderem que ninguém proporia algo que não é seguro. As autoridades insistem em apenas chamar (as pessoas) para vacinar, mas elas precisam conquistá-las".
A Campanha Nacional de Vacinação Contra Poliomielite e Multivacinação começou em 8 de agosto e está prevista para terminar no dia 9 de setembro nas escolas e nos Centros de Saúde de Campinas. As salas de vacinas abrem às 8h e encerram o atendimento 30 minutos antes do fechamento das unidades.
A gotinha contra a pólio é para crianças de 1 a 4 anos de idade (4 anos, 11 meses e 29 dias), independentemente de já terem tomado todas as doses na rotina. Também estão disponíveis as 18 vacinas que compõem o Calendário Nacional de Vacinação da criança e dos adolescentes, sendo que, neste caso, são aplicadas as doses em atraso.