Campinas, que já contabilizou mais de 10 mil casos de dengue este ano, desenvolve uma série de ações para inibir a proliferação da doença: vacina a ser oferecida pelo SUS pode ajudar no controle (Carlos Bassan/PMC)
O significativo avanço dos casos de dengue no Brasil levou a Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) a decidir, ainda este ano, pela incorporação da vacina contra a doença ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Leandro Pinheiro Safatle, a comissão deve convocar reunião extraordinária até o final de dezembro para a tomada de decisão. Em Campinas, a Prefeitura declarou em abril situação de epidemia na cidade. Este ano, até o dia 28 de novembro foram confirmados 10.162 casos de dengue no município, com três mortes. O último óbito ocorreu na quarta-feira passada, dia 6 de dezembro.
O Ministério da Saúde abriu na última quinta-feira a consulta pública sobre a proposta de incorporação da vacina contra a dengue ao SUS. Considerando o cenário epidemiológico, a Conitec já recomendou a estratégia inicialmente para localidades e públicos prioritários a serem definidos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Essa definição deve considerar regiões de maior incidência e faixas etárias de maior risco para agravamento da doença.
“Esse processo tem sido célere no Ministério da Saúde, e esse é um ponto importante a ser enfatizado porque ele faz parte dessa estratégia de buscar tecnologias que, de fato, atendam a um desafio de saúde como esse”, explicou o secretário. “É um rito regulatório rápido. Vai haver uma consulta pública agora e vai ser mais rápida. De 10 dias. O processo vai estar pronto para tomada de decisão rapidamente”, completou.
PREÇO E DOSES
A recomendação de incorporação feita pela comissão está condicionada a uma proposta de redução de preço pela fabricante. Apesar do desconto inicialmente oferecido, o valor por dose, de R$ 170, ainda é classificado como alto pelo governo federal. “Nesse preço, o valor é duas vezes maior que as vacinas mais caras incluídas no programa”, avaliou o ministério em nota.
A demanda para avaliação da tecnologia foi submetida pela empresa japonesa Takeda Pharma, fabricante da Qdenga. Nos dados avaliados pela comissão, foi verificada eficácia geral na redução da hospitalização em 84% dos casos de dengue.
“Para propor uma estratégia nacional, o Ministério da Saúde questionou o quantitativo de doses que poderia ser fornecido ao SUS. De acordo com o laboratório, poderão ser entregues 8,5 milhões no primeiro ano e um total acumulado de 50 milhões em 5 anos, o que impõe restrições no público a ser atendido”, informou o ministério.
CAMPINAS
Após a confirmação da terceira morte por dengue na cidade, a Secretaria de Saúde de Campinas esclareceu que a vítima era uma mulher de 37 anos, que morreu no dia 11 de novembro em um hospital privado. Ela era moradora da área de abrangência do Centro de Saúde do Jardim Eulina, região norte. Os outros dois óbitos, de acordo com a Pasta, foram registrados em março e junho.
Ainda segundo a secretaria, como em todas as situações de casos confirmados da doença, as medidas preconizadas foram desencadeadas na região. Foram realizados controle de criadouros, busca ativa de pessoas com sintomas e nebulização.
De acordo com o coordenador do Programa de Arboviroses, Zoonoses e Determinantes Ambientais de Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Fausto de Almeida Marinho Neto, a combinação entre onda de calor e dias chuvosos posteriores multiplica riscos para casos de dengue porque a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus, tende a ser intensificada com o cenário de temperaturas elevadas e de possível acúmulo de água em pontos diversos.
A Prefeitura de Campinas informou que mantém ações ininterruptas de combate e prevenção à dengue no município, com eliminação de criadouros, ações educativas e de mobilização da sociedade e organização e limpeza da cidade. No entanto, observa a Administração, é preciso contrapartida da sociedade. “As pessoas precisam eliminar criadouros – tudo o que possa acumular água - e dar a destinação correta ao lixo. A melhor forma de combate à dengue é não deixar o mosquito se proliferar", destaca.
Entre as medidas para inibir a reprodução do inseto, reforça a Prefeitura, está evitar acúmulo de água em vasos de plantas, potes, garrafas, latas, pneus e outros objetos. Os vasos de plantas devem ter a água trocada a cada dois dias. É importante, também, vedar a caixa d’água e não permitir empoçamentos em calhas e lajes. Os vasos sanitários que não estão sendo usados devem ficar fechados.
SINTOMAS
As pessoas que apresentarem febre associada a dores de cabeça e/ou no corpo e/ou atrás dos olhos, além de manchas vermelhas, vômitos ou dor abdominal devem procurar o serviço de saúde para avaliação e seguir as recomendações médicas.
COMITÊ
Em 2015, a Prefeitura de Campinas criou o Comitê de Prevenção e Controle das Arboviroses, que neste ano passou a se chamar Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. O grupo conta com 14 secretarias: Secretarias Municipais de Governo; Saúde; Educação; Serviços Públicos; Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; Administração; Comunicação; Trabalho e Renda; Esportes e Lazer; Cultura e Turismo; Habitação; Relações Institucionais, e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Também participam a Defesa Civil, o Serviço 156, a Rede Mário Gatti, a Setec e a Sanasa. No comitê é discutida a situação epidemiológica da cidade e, a partir disso, são desencadeadas as ações intersetoriais.
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