SAÚDE

Usuários seguem na espera no Ouro Verde

Crise de desasistência deve durar um semestre, segundo Sindimed

Henrique Hein
07/06/2018 às 09:13.
Atualizado em 28/04/2022 às 11:57
População espera até 5 horas por assistência; responsável afirma que dispensados poderão ser realocados  (Leandro Torres/AAN)

População espera até 5 horas por assistência; responsável afirma que dispensados poderão ser realocados (Leandro Torres/AAN)

A crise no Complexo Hospitalar Prefeito Edvaldo Orsi já completa quase oito meses e a população continua sofrendo nas filas de atendimento. Ontem, considerado por pacientes e funcionários um dia com baixa demanda, a espera chegava a até cinco horas. A situação piorou, segundo funcionários e Sindicato dos Médicos de Campinas e Região (Sindimed), com as demissões dos terceirizados. O Sindimed estima que a situação esteja normalizada apenas daqui a seis meses. O interventor da instituição nega essas informações. Três médicos se desdobravam ontem no serviço de Pronto-Socorro para contemplar a demanda da população. A dona de casa, Joyce Pereira, de 27 anos, disse que sempre que precisa ir ao Ouro Verde sofre com a fila de espera. Ela comentou que deu sorte ontem por estar "apenas" passando mal. “Eu estou com diarreia e pressão baixa, mas só agora, depois de quatro horas, é que consegui passar pela triagem. Eu estou indo comer alguma coisa aqui do lado de fora, porque senão eu vou desmaiar. Dei sorte de não precisar passar por um atendimento mais complexo, porque senão era o dia todo perdido”, esbravejou. Um dos colaboradores do hospital, que pediu para não ser identificado, disse que a situação está piorando a cada dia. Ele afirma que a demissão de todos os funcionários contratados na gestão da OS Vitale, empresa que administrava complexo hospitalar e envolvida em escândalos de corrupção, trouxe ainda mais caos ao local. “Todos eles estão atuando sob aviso prévio desde o início da semana, quando foi entregue a carta de demissão. Muitos já estão achando outro emprego e largando o serviço”, relatou o servidor. Segundo ele, só nas últimas três semanas, houve uma diminuição de 30% do número total dos funcionários. “Além disso, todos os serviços estão defasados e a maioria deles está operando com menos de 50% do efetivo, como é caso dos profissionais da segurança, limpeza e enfermagem. Para nós que trabalhamos com a área da saúde é triste ver o sofrimento que cada um dos pacientes estão passando. Tem gente que demora até duas horas para tomar uma simples injeção”, declarou o funcionário do Ouro Verde. Segundo o presidente do Sindimed, Casemiro Reis, a decisão da prefeitura de demitir 1,5 mil funcionários contratados pela Vitale foi um erro. “Isso está gerando uma desistência dos médicos cada vez maior. Houve uma clara diminuição do efetivo nas últimas semanas e isso vai fazer com que o hospital passe por uma crise de desassistência pelos próximos seis meses. Mais uma vez, quem vai sofrer com as consequências será a população que não pode pagar por uma plano particular de saúde”, avalia Reis. Procurado pela reportagem para comentar essas questão, o presidente da Rede Mário Gatti e interventor do Hospital Ouro Verde, Marcos Pimenta, afirmou que a informação não procede e que todos os funcionários demitidos estão trabalhando normalmente. “Se por um acaso alguns deles resolverem se ausentar do serviço, você pode ter certeza de que no futuro eles responderam por isso, pois trata-se de uma infração ética de trabalho grave”, garantiu. Pimenta disse ainda que apenas 20 profissionais do Ouro Verde, até ontem, receberam a carta de demissão. “Foi feito um acordo no Ministério Publico com todos os funcionários registrados e eles sabem que estão sendo desligados. Muitos deles, inclusive, deverão ser recontratados, porque a próxima empresa que administrar o Hospital poderá, se quiser, recontratar estes profissionais. Na nossa visão seria interessante, inclusive, que houvesse a recontratação”, ressaltou o interventor. Ministério Público A decisão pela demissão em massa dos profissionais da Saúde foi tomada no final do ano passado, depois que a Prefeitura se viu obrigada a romper com o contrato com a Vitale. A OS foi alvo de uma operação do Ministério Público que acusou a empresa de desviar mais R$ 4,5 milhões em recursos públicos na área da Saúde. Por causa da decisão, a administração e os representantes dos sindicatos que defendem as categorias sentaram inúmeras vezes para negociar as condições dos pagamentos das multas rescisões dos 1,5 mil funcionários demitidos. Ao todo, as negociações demoraram mais de seis meses para serem seladas. O acerto entre as partes foi fechado somente no dia 24 de maio, em uma audiência de mediação que aconteceu no Ministério Público do Trabalho (MTP). Ficou acordado que a Prefeitura depositará R$ 1,5 milhão mensais aos trabalhadores de todas as categorias – o valor será dividido em quatro faixas: até R$ 6 mil; de R$ 6 mil até R$ 12 mil; de R$ 12 mil até 24 mil; e acima de R$ 24 mil. Segundo o MPT, os funcionários receberão todas as verbas rescisórias, que incluem salário, férias, 13° proporcional, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e multa de 40% sobre o saldo do FGTS, em um prazo máximo de 24 meses. Os pagamentos ainda ocorrerão até a quitação total do passivo trabalhista, avaliado em R$ 36 milhões – eles ocorrerão na ordem crescente da faixa remuneratória, independente da categoria profissional a que estejam vinculados. 

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